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Na Ásia, Obama não escapa do Oriente Médio

20 de novembro de 2012

Para contrabalançar influência regional chinesa, presidente tenta impulsionar novo foco da diplomacia americana, mas se vê forçado a voltar sua atenção para o aliado Israel e a interceder pelo fim da crise em Gaza.

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Foto: Reuters

Quando, logo após ser reeleito, o presidente Barack Obama anunciou que sua primeira viagem oficial seria para a Ásia, deixou claro qual seria a prioridade em política externa de seus próximos quatros anos na Casa Branca.

A decisão não significaria abandonar seus aliados no Oriente Médio, e sim reorientar o foco para uma região economicamente promissora e, ao mesmo tempo, conter a influência chinesa. Mas, com o conflito em Gaza em ebulição, em cada uma de suas três paradas no continente – Tailândia, Myanmar e Camboja – Obama foi lembrado de que a nova prioridade não seria assim tão simples de ser levada adiante.

Obama desembarcou na Tailândia, neste domingo (18/11), sem esconder seus objetivos. Evitou a retórica de afronta a Pequim, mas, ao mesmo tempo, deixou claro os interesses americanos em se fazer presente no continente. Há meses os Estados Unidos vêm expandindo suas alianças e intensificando exercícios militares na região, mas, com 25 milhões de desempregados, estreitar os laços com os países da Ásia-Pacífico é mais do que contrapor o crescimento chinês.

"Como região de maior crescimento do mundo, a Ásia-Pacífico vai modelar a segurança e a prosperidade neste século, o que vai criar empregos e oportunidades para os americanos", disse Obama.

Atuação nos bastidores

Mas desde que chegou à Ásia, a diplomacia americana teve que se ocupar de outro assunto e trabalhou de forma intensa nos bastidores para tentar aproximar israelenses e palestinos de uma trégua. Por telefone, Obama conversou com o presidente do Egito, Mohamed Morsi, e com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Publicamente, fez apelos à paz e declarou apoio ao direito israelense a se defender.

Os esforços culminaram na decisão de enviar, nesta terça-feira, a secretária de Estado, Hillary Clinton, ao Oriente Médio, na primeira interferência pública da diplomacia americana num conflito que já dura sete dias e ameaça se transformar numa guerra. Hillary, que já falara por telefone com representantes de França, Catar e Turquia, foi destacada para ir a Jerusalém, Cisjordânia e Cairo.

Präsident Barack Obama Birma Besuch Yangon Flughafen
O presidente americano com Hillary Clinton em MyanmarFoto: Reuters

"Hillary Clinton vai enfatizar os interesses americanos num resultado pacífico, que proteja e garanta a estabilidade regional, e melhore as condições para os civis de Gaza", disse Ben Rhodes, assessor de Obama.

Do ponto de vista americano, evitar uma ofensiva terrestre israelense seria evitar também um problema maior. A ação confrontaria Washington com dois aliados estratégicos: o Egito, parceiro de longa data no mundo árabe, e a Turquia, membro-chave da Otan. Desde o início da crise em Gaza, ambos os países deixaram claro seu apoio aos palestinos – da mesma forma que Obama o fez com Israel.

Ao mesmo tempo, qualquer solução duradoura para o conflito depende de Turquia e Egito. É neles e na boa relação de ambos com o Hamas que os EUA precisam confiar se quiserem fazer suas mensagens chegar ao movimento radical palestino, classificado como um grupo terrorista por Washington.

Hamas fortalecido

No início da noite desta terça-feira começaram a surgir os rumores de uma trégua em Gaza, mediada pelo Egito. Duradoura ou não, ela é suficiente para mostrar como o Hamas emerge do atual conflito não só militarmente, mas também diplomaticamente mais forte. É com o grupo radical que Israel está negociado, e seu rival político Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, se tornou totalmente irrelevante nas conversas.

Além disso, o Hamas vem sendo cortejado por líderes do Oriente Médio, politicamente remodelado pela ascensão de islamistas após a Primavera Árabe, e Israel está mais cauteloso em enfrentá-lo em solo do que há quatro anos, devido ao aumento do poderio militar do grupo.

Gaza Zerstörungen Luftangriff auf Rafah
Destruição na cidade de Gaza após ataque israelenseFoto: Reuters

Prova disso é que, ao longo de toda a terça-feira, mesmo durante as negociações de paz, o Hamas não cessou o lançamento de foguetes contra Israel. Em menos de 24 horas, mais de 140 foram disparados, e pelo menos 94 caíram em território israelense. Dois dos foguetes atingiram os arredores de Jerusalém.

Autor: Rafael Roldão
Revisão: Alexandre Schossler