Itália
22 de fevereiro de 2007O presidente de Itália, Giorgio Napolitano, iniciou consultas nesta quinta-feira (22/02) para resolver a crise política desencadeada na véspera com a demissão do primeiro-ministro de centro-esquerda, Romano Prodi.
A Constituição italiana prevê que o presidente pode agora submeter o governo a um voto de confiança nas duas câmaras do Parlamento. Outras opções são encarregar Romano Prodi de formar uma nova equipe governamental ou dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas. Também são possíveis outras soluções, como a escolha de uma personalidade institucional suprapartidária para formar um governo.
Segundo analistas políticos italianos, é provável que Giorgio Napolitano encarregue Prodi de formar um novo governo e as consultas políticas prévias servirão precisamente para determinar que líderes políticos reúnem um apoio parlamentar suficientemente forte que permita evitar novas eleições.
As razões da renúncia
O governo romano de centro-esquerda perdeu uma votação crucial no Senado sobre as orientações da sua política externa, originando a mais grave crise política desde que ascendeu ao poder, em abril de 2006.
O ministro das Relações Exteriores, Massimo D'Alema, havia ameaçado com a demissão do governo caso fosse derrotado nesta votação. A maioria exigida para adotar a moção era de 160 votos, mas o governo obteve apenas 158, enquanto 136 senadores votaram contra. A moção do governo reafirmava o engajamento militar da Itália no Afeganistão e confirmava a realização das obras de ampliação da base militar norte-americana de Vicenza.
O governo de Romano Prodi dispunha de maioria apenas por um voto no Senado e dependia dos votos dos sete senadores vitalícios, cuja tendência é flutuante. A abstenção de dois destes e ainda de dois senadores comunistas causou sua derrota na terça-feira.
Reações da imprensa
A imprensa italiana desta quinta-feira (22/02) classifica a crise política como "a crise das duas esquerdas" – a moderada e a radical − , uma alusão ao fato de terem sido dois senadores comunistas a provocarem a demissão do governo de centro-esquerda. "As posições [os senadores] comunistas são um sinal concreto de uma ideologia irredutível, mesmo face a uma crise governamental e ao risco de voltar a entregar o país a [Silvio] Berlusconi", o primeiro-ministro de direita derrotado nas urnas por Romano Prodi em 2006, escreve em editorial o diretor do La Repubblica, Ezio Mauro.
Em contrapartida, para o diário especializado em economia Sole-24 Ore, "a centro-esquerda atravessa uma crise muito grave". "Faltou à coligação paixão e o senso de um destino coletivo", prossegue o jornal.
Já o Stampa considera em editorial que "essa precariedade [de apoio] não impediu Prodi de realizar ou lançar reformas importantes, que o governo anterior não foi capaz de fazer aprovar, apesar de deter uma maioria bem mais confortável".
Sob o título "Lição de Seriedade", o Corriere della Sera elogia Massimo D'Alema e lamenta o seu provável afastamento da política externa num próximo governo, deplorando que "tenha prevalecido a coerência ideológica de um punhado de maximalistas". (rw)