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Negociações e possível recuo russo: o 34º dia de guerra

30 de março de 2022

Nova rodada de negociações entre russos e ucranianos ocorreu na Turquia. Rússia pode reduzir ações militares nos arredores de Kiev, o que tende a levar seus militares para o leste e o sul da Ucrânia.

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A imagem mostra integrantes das delegações da Ucrânia, à esquerda, e da Rússia, à direita, em uma longa mesa com uma toalha branca e flores. Bandeiras dos dois países podem ser vistas de ambos os lados.
Quinta rodada de negociações entre delegações da Ucrânia e da Rússia ocorreu nesta terça-feira em Istambul, na TurquiaFoto: Sergei Karpukhin/TASS/dpa/picture alliance

O 34º dia de guerra na Ucrânia, que começou oficialmente com a invasão russa em 24 de fevereiro, foi marcado por uma rodada de negociações que teve resultados considerados relativamente positivos por ambos os lados e também por outros países e observadores. Em Istambul, na Turquia, delegações da Rússia e da Ucrânia discutiram nesta terça-feira (29/03) possíveis soluções para o conflito.

Além da nova rodada de negociações, o 34º dia de guerra também foi marcado por ataques e mortes na Ucrânia, um telefonema de Macron a Putin, acenos russos para a diminuição de ataques, fala do Kremlin sobre o uso de armas nucleares e a expulsão de diplomatas russos de pelo menos quatro nações europeias.

Antes do encontro desta terça, delegações russas e ucranianas haviam se reunido pessoalmente em outras três ocasiões – em 28 de fevereiro, 3 de março e 7 de março – em Belarus, enquanto no dia 10 aconteceu uma reunião em Antália, na Turquia, entre os ministros das Relações Exteriores de Rússia, Sergey Lavrov, e Ucrânia, Dmytro Kuleba. Todas foram consideradas um fracasso.

Desta vez, a Ucrânia propôs a adoção de um status neutro em troca de garantias de segurança, o que resultaria em manter o país fora da Otan, uma das principais exigências russas. Além disso, os representantes ucranianos afirmaram que o país não iria abrigar nenhuma base militar estrangeira em seu território.

A proposta apresentada pela Ucrânia inclui ainda um período de 15 anos para um processo consultivo sobre a anexação da Península da Crimeia pela Rússia. Segundo Kiev, o prazo somente passaria a valer após o estabelecimento de um cessar-fogo. Oleksander Chaly, negociador-chefe da Ucrânia, afirmou que antes de um acordo com a Rússia entrar em vigor, deve haver paz em todo o território ucraniano.

A Turquia espera que os avanços nas negociações abram caminho para uma reunião entre os presidentes de ambos os países, Volodimir Zelenski e Vladimir Putin.

O encontro desta terça-feira foi precedido por uma rápida reunião entre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com integrantes das duas delegações. Erdogan, no entanto, indicou que a Turquia não tem um papel de mediador, mas sim de facilitador.

Ataque e mortes em Mykolaiv, no sul da Ucrânia

Apesar dos resultados relativamente promissores da mais recente rodada de negociações, a Rússia seguiu com os ataques em diferentes regiões da Ucrânia nesta terça-feira. Em Mykolaiv, no sul do país, ao menos nove pessoas morreram e 28 ficaram feridas após um míssil atingir um prédio da administração pública local.

O edifício foi bastante danificado. Um enorme buraco pode ser visto na sua lateral. A partir dos escombros, os serviços de resgate trabalharam para buscar outras vítimas do ataque.

Em Starokostyantyniv, no oeste do país, forças russas atingiram um aeródromo, destruindo estoques de combustíveis. No Facebook, o prefeito da cidade, Mykola Melnychuk, afirmou que "temos sido inundados por mísseis desde o primeiro dia da guerra, mas hoje o ataque foi muito sério e causou danos significativos". Ainda assim, não houve vítimas.

A secretária-geral da organização de direitos humanos Anistia Internacional, Agnes Callamard, disse à DW que o órgão tem "documentado uma escalada nas violações de direitos humanos e leis humanitárias, incluindo o alvo indiscriminado ou deliberado de civis".

A imagem mostra um prédio administrativo após um ataque aéreo russo em Mykolaiv, na Ucrânia. Há um buraco enorme que atravessa o prédio. Pelo menos nove pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas.
Ao menos nove pessoas morreram e 28 ficaram feridas após míssil atingir prédio da administração pública de MykolaivFoto: Petros Giannakouris/AP/dpa/picture allaince

Ceticismo 

Os ataques em Mykolaiv e Starokostyantyniv ocorreram em meio aos acenos russos de que poderá haver redução das atividades militares nos arredores da capital Kiev e na região ao norte de Tchernihiv, em anúncio feito justamente após as negociações de paz que ocorreram na Turquia.

Oficiais ucranianos informaram, no entanto, que mais de 40 ataques aéreos e de mísseis ocorreram em apenas um dia nas regiões próximas a Kiev.

Por um lado, o presidente americano, Joe Biden, não se mostrou convencido de que a promessa russa de diminuir as operações militares levará a uma mudança significativa no conflito. Por outro, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, afirmou que algumas tropas russas já começaram a deixar regiões próximas a Kiev e Tchernihiv.

Kirby também confirmou que os Estados Unidos irão deslocar parte de sua força aérea e de seu contingente militar para o Leste Europeu. Isso inclui a movimentação de pelo menos 200 militares da Noruega para a Lituânia.

Já o setor de inteligência militar britânica, por meio do Ministério da Defesa do Reino Unido, indicou na noite desta terça-feira que a ofensiva russa à capital ucraniana pode ter fracassado. Com isso, o exército russo deve ser mesmo deslocado para regiões separatistas no leste da Ucrânia, como Donetsk e Lugansk, além do sul do país.

Denis Pushilin, chefe da chamada República Popular de Donetsk – parte da Ucrânia controlada por separatistas apoiados pela Rússia desde 2014 –, disse que a região poderá ser anexada ao território russo.

"Quanto à adesão à Federação Russa, quanto a esse desejo e essa direção, isso tem sido óbvio desde 2014", disse Pushilin.

Moscou reconheceu as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk em 22 de fevereiro, dois dias antes do início oficial da invasão russa à Ucrânia.

Porta-voz do Kremlin fala sobre armas nucleares

Devido às especulações sobre o possível uso de armas nucleares por parte do exército russo na Ucrânia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse, em entrevista à rede de televisão americana PBS, que "ninguém na Rússia está pensando na ideia de usar armas nucleares".

Peskov reforçou, entretanto, que as tarefas da chamada "operação militar especial" - como a Rússia conceitua a invasão na Ucrânia - serão concluídas. E destacou que a Rússia só usaria parte de seu arsenal nuclear no caso de "ameaça à existência" do Estado russo.

A foto mostra Byshiv, nos arredores de Kiev. Um jornalista caminha em meio a escombros causados por ataques russos. A cena é de extrema destruição, com escombros por toda parte.
Arredores de Kiev podem começar a sofrer menos investidas e ataques do exército russoFoto: Rodrigo Abd/AP Photo/picture alliance

Macron conversa com Putin ao telefone

Após uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que ainda não é possível realizar uma operação humanitária que seria liderada por franceses na cidade de Mariupol, no sul da Ucrânia.

Macron destacou a Putin que a missão seria desenvolvida junto com a Turquia e a Grécia. Conforme um funcionário do governo francês, o presidente russo respondeu que vai "pensar sobre isso". Putin ainda disse que os "nacionalistas ucranianos" em Mariupol devem depor suas armas.

Mariupol tem sido uma das cidades mais atingidas desde o início da guerra da Ucrânia. Sitiada pelo exército russo, sem água, energia, aquecimento e com falta de mantimentos, o município portuário vive uma catástrofe humanitária.

Os dois presidentes também discutiram a decisão da Rússia de exigir pagamentos em rublos pelo fornecimento de gás para a União Europeia. Em retaliação às sanções impostas pelo Ocidente, Moscou exige que o pagamento pelo gás seja feito na moeda russa.

Bélgica, Holanda, Irlanda e República Tcheca expulsam diplomatas russos

O 34º dia de guerra na Ucrânia também foi marcado pela expulsão de diplomatas russos de pelo menos quatro países europeus. Segundo os ministérios das Relações Exteriores de Bélgica, Holanda, Irlanda e República Tcheca, os diplomatas eram, na verdade, agentes de espionagem.

O ministro das Relações Exteriores da Holanda, Wopke Hoekstra, informou que o país expulsou 17 "oficiais de inteligência" que são uma ameaça à segurança [da Holanda]", escreveu Hoekstra no Twitter: "A experiência mostra que a Rússia não deixa tais medidas sem resposta. Não podemos especular sobre isso, mas o Ministério das Relações Exteriores está preparado para vários cenários que podem ocorrer em breve".

Pouco depois, a ministra das Relações Exteriores belga, Sophie Wilmes, disse que a Bélgica também expulsaria 21 diplomatas russos por ações relacionadas com espionagem ou tráfico ilegal de influência.

Na Irlanda, o ministro Simon Coveney disse que o país expulsaria quatro diplomatas russos cujas atividades não estavam "de acordo com os padrões internacionais de atividade diplomática". A República Tcheca expulsou um diplomata.

Moscou disse que responderá à atitude dos países europeus, conforme anúncio feito pela porta-voz do Ministério do Exterior, Maria Zakharova. A Rússia classificou a atitude como "provocativa" e "infundada". E, também nesta terça, expulsou dez diplomatas de países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia).

A Polônia anunciou ter criado um projeto de lei que visa banir a importação de carvão da Rússia. A União Europeia, no entanto, pode punir o governo polonês, uma vez que normalmente todo bloco deve concordar com as sanções.

gb (DW, EFE, AFP, Reuters, dpa, ots)