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Nem tudo são flores na festa da unidade alemã

rw3 de outubro de 2003

Problemas do Leste alemão foram lembrados nas festividades pelos 13 anos da unificação. Nobel de literatura e sobrevivente de Auschwitz Imre Kertesz criticou posição alemã na guerra contra o Iraque.

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Kertesz: exemplo para a unidade européiaFoto: AP

Não só o tradicional bolo, a alegria, os brindes e as frases otimistas dos políticos marcaram a festa pelos 13 anos da unificação entre a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã, acontecida em 3 de outubro de 1990.

Os oradores lembraram os graves problemas ─ principalmente o desemprego e a evasão populacional ─ do lado pobre do país.

Em seu pronunciamento, o chanceler federal, Gerhard Schröder, exortou os alemães a redobrarem esforços para o aperfeiçoamento da unificação e mais uma vez lembrou a necessidade de encaminhar reformas. "Mesmo que pareça que tudo está feito, não vamos nos iludir. Ainda temos um longo e penoso caminho pela frente", advertiu o social-democrata na cerimônia central, em Magdeburg, capital da Saxônia-Anhalt.

Valor inestimável ─ O orador principal foi o Nobel de literatura e sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, Imre Kertész. Para ele, a unificação alemã foi um acontecimento de valor inestimável. "O longo e conflituoso processo até a unificação serve de exemplo para a unidade européia", ressaltou o escritor húngaro. Ele defendeu, por outro lado, o combate militar contra o terrorismo e criticou a posição da Alemanha, que foi contra a guerra no Iraque.

"Estou convencido de que o pacifismo não é a resposta adequada aos desafios impostos pelo terrorismo", disse Kertész nesta sexta-feira (3) na capital da Saxônia-Anhalt. "Como pode ser que subitamente foi esquecido quem é inimigo e quem e aliado?", questionou o escritor, referindo-se aos países que não lutaram ao lado dos Estados Unidos contra Saddam Hussein.

Escalada íngreme ─ O presidente do Parlamento, Wolfgang Thierse, avaliou como positivo o lento processo de aproximação entre Leste e oeste do país, mesmo que "nem tudo tenha sido atingido". O deputado do Partido Social Democrático (SPD) comparou o processo à escalada de uma montanha: "Talvez o caminho dos 13 primeiros anos tenha sido íngreme. Agora, o trecho é plano, mas continua longo".

A necessidade de reformas no país foi ressaltada também pelo ex-presidente Roman Herzog e outros destaques da política e economia alemãs, que lançaram nesta sexta-feira em Berlim a "Convenção para a Alemanha". O grupo, que tem ainda o ex-presidente da Federação Alemã das Indústrias (BDI), Olaf Henkel, pretende reunir idéias sobre mudanças e reformas necessárias na Alemanha.

Einheitsfeiern in Magdeburg
Duas «borboletas» na festa em MagdeburgFoto: AP

Festa popular ─ Pela manhã, foi inaugurado em Magdeburg um monumento para lembrar as manifestações das segundas-feiras e a revolução pacífica no Leste alemão, que culminaram com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Além da missa ecumênica com as participações do chefe de governo, Gerhard Schröder, e do chefe de Estado, Johannes Rau, Magdeburg foi palco de uma gigantesca festa popular, organizada pelos estados alemães.

Sob o aspecto musical, o ponto alto da festa dos 13 anos foi Udo Lindenberg, que escolheu Magdeburg para comemorar os 30 anos de sua banda. Num gesto simbólico, o roqueiro veio num trem colorido de Berlim e rompeu uma barreira de isopor nas proximidades de Magdeburg. Tudo para lembrar os 20 anos do lançamento de seu hit "Sonderzug aus Pankow" (Trem Especial a Pankow), na Alemanha Ocidental, em que cobrava do então chefe de Estado alemão-oriental, Erich Honecker, por que não recebia permissão para apresentações em Berlim Oriental.

O Dia da Unidade Alemã é feriado no país e foi criado para incentivar o sentimento de coesão do povo alemão, após décadas de separação.