Nem tudo é um mar de tulipas na Holanda
Os holandeses vão às urnas em eleições legislativas. E justamente nesse país pacato e admirado por sua atitude liberal e economia próspera, os populistas de direita ameaçam se afirmar como legenda mais forte.
País-modelo da Europa?
Tendo como marcas registradas os bucólicos moinhos de vento e campos de tulipas, a Holanda, membro fundador da União Europeia, é um país florescente, com crescimento econômico estável, orçamento equilibrado, baixo desemprego e clima social liberal. Mas nas próximas eleições, entre os favoritos está justamente o populista de direita Partido para a Liberdade (PVV). Como se explica tal fato?
O grande simplista
No mundo globalizado, os problemas sociais, políticos e econômicos se tornam cada vez mais complexos, o que deixa muitos desorientados e perplexos. Essa é a grande chance de populistas como a Frente Nacional da França ou a Alternativa para a Alemanha. Na Holanda, quem vai à caça de votos com respostas simples para questões complexas é Geert Wilders e seu PVV.
Promessas mal cumpridas
Ao assumir a chefia de governo da Holanda em 2012, o liberal Mark Rutte comprometeu-se a promover a recuperação econômica e aumentar a prosperidade. E cumpriu essa promessa: os dados básicos da economia são inegavelmente positivos. O problema é que muitos holandeses das classes média e baixa não percebem diretamente qualquer melhora: sua situação de vida não é melhor do que cinco anos atrás.
Perda de confiança galopante
Rutte prometera, por exemplo, não mais investir verbas no saneamento das dívidas de outras economias nacionais da União Europeia. Mas pouco após sua posse, aprovou o pacote de resgate econômico para a Grécia. A partir daí, a perda de confiança se instaurou. Mais tarde, o governo ainda elevou para 67 anos a idade de aposentadoria e cortou benefícios sociais.
Boom para quem?
Em breve os holandeses notaram que eram eles próprios que arcavam com o crescimento econômico nacional, sendo forçados a aceitar cortes no salário-desemprego e na assistência de saúde. O boom deixa os cidadãos insatisfeitos: o desemprego caiu, porém, mesmo tendo trabalho, muitos não ganham o suficiente para manter seu padrão de vida.
"Nosso barco está cheio!"
Em tais circunstâncias, reflexos nacionalistas vêm à tona – até mesmo na Holanda, cujo posicionamento fundamentalmente liberal há anos tem sido um modelo para muitos europeus. Também os holandeses passaram a se opor ao acolhimento de refugiados, num reflexo que vem a calhar para populistas de direita como Geert Wilders, sendo lenha na fogueira xenófoba, antieuropeia e anti-islâmica.
Populistas unidos
No dia em que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, o PVV de Wilders liderou as sondagens pela primeira vez. E manteve essa posição desde então, com oscilações mínimas. Pesquisas sugerem que o PVV conseguirá 16% dos votos, seis pontos a mais que em 2012. O VVD (de 26% para 16%) do premiê Rutte e o social-democrata PvdA (de 24% para 8%), por outro lado, despencam.
Medo dos forasteiros
Estrangeiros, e sobretudo os muçulmanos, são alvo constante para Wilders. Não há praticamente uma aparição pública sua sem a advertência de que em breve o país estará "islamizado". Da mesma forma como, nos Estados Unidos, Donald Trump responsabiliza os mexicanos por tudo o que há de ruim, Wilders ataca regularmente os "marroquinos", que a seu ver não têm lugar na Holanda.
Visibilidade indesejada
As casas de oração são expressão visível da presença muçulmana na Europa, e muitos simplesmente não querem mais vê-las. Wilders se aproveita desse reflexo, reivindicando a "proibição nacional de mesquitas". Inimigo tanto da "ideologia islâmica" quanto do euro, ele questiona a UE como um todo. Paralelamente, promete aos eleitores melhor previdência na terceira idade e aumento das aposentadorias.
Precisamos nos defender!"
Geert Wilders inegavelmente capitaliza o clima de insatisfação e insegurança na Holanda. Até hoje tem sido raro no país legendas extremistas conseguirem concretizar nas urnas os bons resultados nas sondagens. Mas por enquanto parece ressoar o argumento populista, de que em breve o país não precisará de diques só para se defender das águas do Mar do Norte, mas também dos forasteiros e refugiados.