No Bundestag, Merkel ignora xenofobia da AfD
16 de maio de 2018O primeiro debate geral do Bundestag (Parlamento alemão) do atual período legislativo foi aberto nesta quarta-feira (16/05), como manda a tradição, pela maior bancada opositora, que agora é a do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Alice Weidel, líder da AfD, aproveitou a oportunidade para lançar uma série de ataques ao governo da chanceler federal Angela Merkel, fugindo do tema principal, a proposta orçamentária para 2018, para promover a agenda anti-imigração de seu partido.
Ela acusou o governo de esconder na proposta orçamentária 30 bilhões de euros que o país paga anualmente à União Europeia (UE). "Falam de um orçamento equilibrado, mas os contribuintes estão sentados sobre uma montanha de dívidas", afirmou Weidel.
Ela disse que o governo deveria cuidar da riqueza dos cidadãos, e não "jogar dinheiro pela janela", deixando o fardo para as gerações mais novas.
Após exigir a redução de impostos para as classes média e baixa, Weidel logo mudaria o foco para a política migratória alemã, afirmando, sob vaias e aplausos, que a Alemanha se tornou um país de "imigração ilimitada de trabalhadores sem qualificação".
"Burcas, meninas com véus na cabeça, homens munidos de facas vivendo de benefícios e outras pessoas inúteis não vão assegurar nossa prosperidade, crescimento econômico e, especialmente, o bem-estar social", disse. Ela encerrou seu discurso afirmado que a Alemanha "está sendo governada por idiotas".
O presidente do Bundestag, Wolfgang Schäuble, advertiu formalmente a líder da AfD, afirmando que seu discurso discriminava "todas as mulheres que utilizam o véu" islâmico.
Merkel não morde a isca
Se a AfD pretendia provocar uma reação irritada de Merkel, a estratégia acabou não funcionando. Em seu discurso de mais de 30 minutos no Bundestag, a chanceler não fez nenhuma menção a Weidel ou ao partido populista de direita.
Ao contrário, ela foi direto aos temas específicos às políticas de seu governo, falando sobre temas como digitalização, incentivos para a construção de residências particulares, transferências financeiras entre o governo federal e os 16 estados do país.
Merkel ressaltou que o plano orçamentário não vai criar novas dívidas e previu que o país deverá reduzir o nível de endividamento para menos de 60%, em acordo com as diretrizes da UE. Essa postura, segundo afirmou, deixa a Alemanha em posição de liderança no bloco europeu.
"Nossa tarefa e fortalecer a zona do euro e deixá-la resistente a crises", disse a chanceler, destacando que cada Estado-membro deve se tornar individualmente mais competitivo no mercado global. Sobre o orçamento da UE, Merkel disse que trabalha para chegar a um acordo com a França antes da cúpula europeia marcada para o fim de junho.
Defesa e refugiados
A chanceler dedicou uma boa parte de sua fala à política externa e à defesa. Ela reiterou que a Alemanha se juntará à França e ao Reino Unido para preservar o acordo nuclear com o Irã, após os Estados Unidos abandonarem o pacto.
Ela justificou a expansão dos gastos militares afirmando a responsabilidade alemã de proteger as fronteiras da Polônia e o espaço aéreo dos Bálcãs, reafirmando que a Europa deve assumir responsabilidades maiores sobre a própria defesa e suas fronteiras externas.
"Não é o caso de começarmos uma corrida armamentista, mas sim, de nos equiparmos", declarou.
Merkel também defendeu a proposta de criar os chamados "centros-âncoras" para refugiados. O governo espera que as instalações centralizadas de acomodação para requerentes de refúgio acelerem as decisões sobre o direito de permanência na Alemanha e possíveis deportações. Esse foi o único ponto do discurso em que Merkel abordou a questão da imigração, a principal preocupação da AfD.
Os debates sobre a proposta de orçamento no Bundestag continuarão até esta sexta-feira. Após essa data, os parlamentares poderão propor emendas ao texto até o início de julho, quando ocorrerá a votação do plano orçamentário.
O orçamento para 2018 inclui 139,8 bilhões de euros para o sistema de segurança social e do trabalho, 38,5 bilhões para a defesa e 27,6 bilhões para os transportes e infraestrutura digital.
RC/dpa/dw/rtr/afp
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