No dia da Reunificação alemã, alertas contra novas divisões
3 de outubro de 2022A Alemanha celebrou nesta segunda-feira (03/10) o aniversário de 32 anos de sua Reunificação. Neste ano, porém, o tom das festividades foi mais moderado do que em celebrações anteriores, com os efeitos da guerra na Ucrânia e a crise da alta dos preços abalando cada vez mais o país.
O feriado nacional, conhecido como o Dia da Unidade Alemã, marca a data em que a República Democrática Alemã (RDA) oficialmente aderiu à República Federal da Alemanha (RFA) – e o país, até então dividido, voltou a ser um só, em 1990.
Uma cerimônia oficial foi realizada em Erfurt, capital do estado da Turíngia, no leste do país, com a presença do chanceler federal Olaf Scholz, que se recuperou recentemente da covid-19.
Em um breve discurso, o líder alemão afirmou que o aniversário da Reunificação é "um sinal bom e importante no momento certo", e evocou uma conhecida frase do ex-chanceler da Alemanha Ocidental Willy Brandt (1969-1974), também do Partido Social-Democrata (SPD), que diz que "cresce junto o que foi criado para estar junto".
Scholz também tentou amenizar as preocupações com uma crise de energia iminente, prometendo que o governo continuará agindo para proteger os consumidores o máximo possível.
Segundo ele, na Europa existe hoje uma unidade de Estados constitucionais democráticos que se baseiam numa economia social de mercado, e "isso nos deixará mais fortes, também no futuro".
Assim como o chanceler, a presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Bärbel Bas, também aproveitou a ocasião para pedir solidariedade em tempos difíceis.
"Desde 1990, nós, alemães, superamos muitas crises e convulsões", disse a social-democrata. "A razão mais importante para isso foi e continua sendo: nós estamos juntos!"
Bas reconheceu que "as comemorações chegam em um momento difícil neste ano", com a inflação em torno de 10%.
"As consequências da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas estão deixando muitas pessoas preocupadas", afirmou a parlamentar. "Mas a forma como tratamos uns aos outros determina a força de nosso país. Temos que cuidar uns dos outros."
Bas pediu ainda que os partidos políticos da Alemanha trabalhem juntos em tempos difíceis. Segundo ela, debates democráticos levam a soluções, "mas compreensão e respeito não podem florescer em uma atmosfera envenenada".
Leste preocupado
Em seu discurso, o governador da Turíngia, Bodo Ramelow, do partido A Esquerda, seguiu um caminho ligeiramente diferente.
Ele destacou como as crises atuais são particularmente preocupantes para os alemães da antiga Alemanha Oriental, que trabalharam duro para se reerguer após a Reunificação e, por vezes, se sentiram economicamente deixados para trás pela prosperidade vista na maior parte do oeste do país.
"Seja a pandemia de coronavírus ou a escassez de energia, as crises atuais estão trazendo à tona o que não funcionava antes e as nossas diferenças pré-existentes", disse Ramelow.
O governador acrescentou que, embora o leste tenha feito grandes avanços em termos de desenvolvimento, os mal-entendidos e decepções "raramente são levados em consideração".
Governadores de outros estados da antiga Alemanha Oriental, como Brandemburgo e Saxônia-Anhalt, também expressaram preocupação com a possível fragilidade do sucesso econômico duramente conquistado na região após a queda do Muro de Berlim.
As celebrações do Dia da Unidade Alemã foram realizadas em Erfurt, pois Ramelow atualmente ocupa a presidência rotativa do Bundesrat, câmara alta do Parlamento.
A cidade ergueu 16 pavilhões para representar os 16 estados alemães, com exposições interativas, além de música ao vivo e outras apresentações artísticas que ocorrem nas ruas.
ek/lf (AFP, DPA, KNA)