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No rastro do mangue beat

Soraia Vilela25 de dezembro de 2003

Estudante da Universidade Bauhaus-Weimar pretende detectar em terra brasilis a quantas anda o mangue beat. O projeto deverá resultar em um CD, uma reportagem radiofônica e um CD-ROM sobre a cena cultural do Recife.

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Nação Zumbi: quase 13 anos na estrada do mangueFoto: presse

"O que mais me interessa", conta Sebastian Seidel, estudante do Curso de Mídia e Design da Universidade Bauhaus de Weimar, em entrevista à DW-WORLD, "não é me concentrar na cena musical, que já foi detalhadamente examinada e documentada por outros antes de mim. O que considero importante é o aspecto da música como expressão de uma cultura, que também se manifesta de outras formas - em festivais, rádios, redes culturais, nos meios audiovisuais e na arte multimídia."

Chico Science Mangue Beat Pressefoto Musik Musiker Brasilien
Chico Science, morto em acidente de carro em 1997Foto: presse

Para isso, Seidel segue para o Brasil em janeiro, onde deverá passar quatro meses escarafunchando as heranças do movimento iniciado por Chico Science e que no decorrer dos últimos anos ganhou um espaço respeitável nas rádios européias. O estudante alemão pretende seguir em seu projeto uma veia essencialmente documental: tudo o que for dito e ouvido durante a pesquisa deverá ser registrado e poderá ser, no futuro, acessado pela internet.

Acesso ao material bruto

Entrevistas, arquivos musicais, vídeos de shows, ensaios ou simples gravações sonoras que transportem a atmosfera local, tudo isso será armazenado em formato mp3 e colocado à disposição do usuário na rede. Tornar acessível o material bruto, não editado, é uma das premissas do projeto de Seidel, que trabalha em parceria com o jornalista brasileiro Luiz Guilherme Moffa.

Centrada nas linhas de junção entre música, cultura pop e novas mídias, a pesquisa deverá resultar em um documentário radiofônico a ser veiculado inicialmente pela emissora da Universidade Bauhaus de Weimar e eventualmente por outras rádios alemãs.

A premissa seguida por Seidel é detectar no fenômeno midiático (no caso, o movimento mangue beat), todo background e nuances sócio-culturais existentes, esboçando assim um panorama da evolução cultural de Pernambuco do início dos anos 90 até hoje. "O mangue me atrai porque seu campo de ação cresceu extremamente, ou seja, além da música há uma série de aspectos significativos, como o uso de novas mídias", diz Seidel.

Democratizando as relações emissor-receptor

E são exatamente estes aspectos que a pesquisa a ser apresentada na universidade alemã deverá trazer à tona: não apenas o mangue beat como cena musical, mas toda e qualquer troca de bens culturais ocorrida entre os envolvidos na questão.

DJ Dolores Foto: Maria Chaves Mangue Beat
DJ Dolores: experimentos sonoros pós-mangue beatFoto: Maria Chaves

Incluindo aí um aspecto de suma importância, na opinião de Seidel: "O fato de que o beat veio com o bit, com uma aceitação de novas tecnologias e formas de globalização. O mais importante aí é, no entanto, o intercâmbio complementar, que democratiza as relações emissor-receptor, reafirmando que a música (e a cultura) não necessitam ser monopolizadas. Isso está provado nos sites e blogs de artistas como DJ Dolores ou Mundo Livre".

Mangue beat morto?

Assim como várias plataformas de movimentos ligados ao mangue beat, o estudante pretende - fazendo jus ao nome da universidade que acolhe seu projeto - "abrir espaço para a arte". E possibilitar o acesso ao conteúdo de suas pesquisas a qualquer usuário da rede interessado no assunto.

Ao ser confrontado com a afirmação da pesquisadora Carolina Leão - que em sua tese Batuque, Sampler e Pop na Música Pernambucana dos Anos 90 afirma que o "mangue beat está morto" - o estudante alemão rebate: "Se ele estiver mesmo morto, tão mais interessante se torna a tentativa de saber qual a herança deixada por ele. A questão central continua sendo descobrir sob quais condições a cultura pop se manifesta e sob quais ela continua viva".