Nomes de estádios
4 de abril de 2008
O que significa um nome, afinal de contas? Para os torcedores, muitíssimo, quando se trata de estádios alemães e da tradição de colocar o esporte acima dos interesses comerciais.
Esta preocupação parece estar sendo ignorada, se for considerada a tendência de vender nomes de estádios em troca de milhões de euros. A última transação deste tipo foi anunciada no último dia 31 de março pela empresa automobilística Daimler, cuja sede fica nos arredores de Stuttgart, e pela diretoria do Stuttgart, atual campeão alemão.
A partir de 30 de julho próximo, o Estádio Gottlieb Daimler será rebatizado para Mercedes Benz Arena. Para isso, o fabricante alemão de carros pagou 23 milhões de euros, de acordo com informações publicadas no diário Die Welt. Com o dinheiro, o clube pagará parte da reforma do estádio, que começará no próximo ano.
Tendência começou em 1997
O Stuttgart não é o primeiro clube alemão a comercializar o nome de seu estádio. Esta tendência foi iniciada na Alemanha em 1997, quando o Parque Esportivo Ronhof, na cidade de Fürth, tornou-se Estádio Playmobil. Dois anos mais tarde, o estádio de Leverkusen passou a chamar-se BayArena e em 2001 o Hamburgo passou a jogar no AOL Arena.
Desde então, o processo foi acelerado. Pelo menos metade das equipes da Primeira Divisão do futebol alemão joga em estádios com nomes comerciais, como Commerzbank, Generali ou Veltins.
"Você pode ter a certeza de que os estádios que ainda não têm um nome comercial estão sendo objeto de negociações neste sentido", disse Maik Thesing, do portal de internet sobre estádios stadionwelt-business.de.
Do ponto de vista meramente comercial, um poderoso patrocinador disposto a gastar somas milionárias para ter seu nome num prédio traz muitos benefícios. Quando equipes ou cidades constroem novos estádios e vendem os direitos do nome, podem diminuir grande parte dos custos da obra, como foi o caso do Allianz Arena de Munique.
Valores dependem do clube
Se o estádio já existe, um novo nome pode financiar reformas ou mesmo ajudar a pagar os salários dos jogadores. "Se você quiser sobreviver em nível internacional, tem de adquirir os melhores jogadores", disse Benedikt Roemmelt, economista do Instituto de Ciências do Desporto em Jena, especializado em assuntos esportivos. "Se um clube alemão não tem condições de se manter financeiramente no mesmo nível, por exemplo, de um clube inglês, ele não tem chance."
O preço para a mudança do nome de um estádio depende da sua localização e da reputação da equipe que joga nele. A Generali concordou em pagar 400 mil euros por ano para dar o nome ao estádio de Unterhaching, nas proximidades de Munique. Já o Commerzbank paga 3 milhões de euros por ano ao Frankfurt, e a seguradora Allianz desembolsa 6 milhões de euros anuais para dar o nome ao estádio do Bayern de Munique.
Liquidação de estádios?
Apesar dos benefícios, muitos torcedores criticam o fenômeno como uma sendo uma "queima de estoque". A maioria das trocas de nomes de estádios foi acompanhada de protestos dos torcedores, que acusam esta forma de comercialização do desporto.
Em Nurembergue, a torcida do clube local ficou indignada quando o banco easyCredit comprou os direitos do nome do Frankenstadion em 2006. Em protesto, passou a adotar o nome Estádio Max Morlock, em reconhecimento a um conhecido jogador do clube, já falecido. Este nome tem se revelado muito mais popular entre o público.
Alguns meios de comunicação, como o diário Westdeutsche Allgemeine Zeitung, também se recusam a usar os nomes comerciais por considerá-los propaganda.
Não só críticas
Às vezes, as identidades são apenas temporárias, como no caso do estádio em Hamburgo, que de AOL Arena passou para HSH Nordbank Arena. Ao msmo tempo, nem todos os torcedores são contra, pois vêem benefícios. Mark Friedrich, de um fã-clube do Stuttgart, diz não ter ouvido muitas reações negativas ao Mercedes Benz Arena, pois com a reforma do estádio será eliminada a pista de atletismo, o que aproximará a torcida do campo.
Thesing é de opinião que, com o passar do tempo, a comercialização de tudo no esporte, inclusive dos estádios, se tornará comum e será aceita, das mesma forma como já ninguém mais se importa com a propaganda nas camisetas e as faixas com anúncios em torno do gramado.
"Uma mudança de nome de estádio realizada nos últimos cinco anos ainda é notada pelas pessoas, mas em 20 anos é provável que ninguém mais ache isso censurável", acredita.