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Novo governo dá ao Irã chance de melhor relação com Ocidente

Jashar Erfanian (rc)9 de setembro de 2013

Retórica mais amena do presidente recém-eleito e do novo chanceler reflete preocupação do regime iraniano com a economia, minada por seguidas sanções. Intervenção ocidental na Síria, no entanto, pode ser obstáculo.

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Foto: Irna

Durante a campanha e também em seu discurso de posse, o novo presidente iraniano, Hassan Rohani, deixou claro que resolver os problemas econômicos seria prioridade em sua gestão. Ao mesmo tempo, acenou com uma possível melhora na relação com o Ocidente, cujas sanções vêm há anos castigando a República Islâmica.

Além da questão nuclear, um dos grandes obstáculos para a melhora dessas relações era a retórica às vezes agressiva do antecessor de Rohani, Mahmoud Ahmadinejad, que teve o governo marcado por, entre outras coisas, usar a ONU como palanque para atacar Israel. Em 2009, por exemplo, causou ultraje ao dizer que o Holocausto era um mito criado para justificar a existência do Estado israelense.

O novo ministro iraniano do Exterior, Javad Zarif, ex-embaixador do país na ONU Titel: Mohammad Javad Zarif, der iranische Aussenminister im Kabinett Hassan Rohani seit August 2013 Rechte: lizenzfrei, valieamr
O novo ministro iraniano do Exterior, Javad Zarif, ex-embaixador do país na ONUFoto: valieamr

Entretanto, a nova liderança do país parece querer mudar a imagem deixada por Ahmadinejad, e já se pronuncia em um tom mais reconciliador. Na semana passada, causou furor uma mensagem no Twitter atribuída a Rohani, na qual ele teria desejado "a todos os judeus, em especial aos do Irã, um Rosh Hashaná abençoado", em refência ao Ano Novo judaico.

Menos anti-Israel

No entanto, alguns dos assessores mais próximos ao presidente negaram a mensagem ou até mesmo a existência de um perfil de Rohani no Twitter. No dia seguinte, o novo chanceler, Mohammad Javad Zarif, enviou felicitações aos judeus através de redes sociais e do portal Tasnim. O ministro ainda disse que o Irã "jamais negou o Holocausto" e condenou o "massacre de judeus pelos nazistas".

Observadores analisam que um dos sinais do novo posicionamento do regime de Teerã é o fato de que as negociações sobre o programa nuclear estão agora dentro da jurisdição do Ministério das Relações Exteriores. Até então, o assunto era responsabilidade do Conselho Nacional de Segurança.

Fila para comprar frango subsidiado pelo governo. País sofre com sanções internacionais
Fila para comprar frango subsidiado pelo governo. País sofre com sanções internacionaisFoto: ISNA

Reza Taghizadeh, professor de relações internacionais da Universidade de Glasgow, na Escócia, analisa que essa decisão de Rohani "demonstra que o novo governo deverá buscar um novo caminho na disputa nuclear com o Ocidente".

Segundo ele, no passado os interesses iranianos na questão da segurança estavam na dianteira das negociações sobre o programa nuclear. Agora, com Rohani, o novo governo deverá priorizar as questões políticas e econômicas.

Em setembro, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, deverá se encontrar com o Zarif por ocasão ocasião da Assembleia Geral da ONU para discutir as possibilidades de novas negociações com o chamado Grupo 5 + 1 – formado pelos cinco membros do Conselho de Segurança e a Alemanha.

No entanto, já está claro para todas as partes que um ataque americano à Síria poderá desestabilizar todos os esforços diplomáticos.

Zarif foi vice-chanceler nos governos Rafsanjani (1989-97) e Khatami (1997-2005) e embaixador do Irã nas Nações Unidas de 2002 a 2007. Durante seu período na ONU ele teve diversos encontros não oficiais com diplomatas dos EUA no intuito de explorar as possibilidades de normalizar as relações bilaterais entre os dois países.

O aiatolá Ali Khamenei (esq.) e o novo presidente do Irã, Hassan Rohani
O aiatolá Ali Khamenei (esq.) e o novo presidente do Irã, Hassan RohaniFoto: picture-alliance/dpa

Pela sobrevivência do regime

A troca de liderança poderá possibilitar um novo começo nas emperradas conversações sobre a questão nuclear, observa Taghizadeh. "As negociações não serão fáceis, uma vez que o Irã não vai abrir mão de seu programa nuclear", afirma.

Mas o novo governo está determinado em conseguir, através da diplomacia, aliviar as sanções internacionais, o que, segundo Taghizadeh, "dá esperanças de que as conversas terão êxito maior do que no passado".

Segundo o analista político Mehran Barati, radicado em Berlim, o novo ministro iraniano é tido como alguém que "sabe como transformar as ideias do aiatolá Ali Khamenei sobre política externa em linguagem diplomática". A questão é saber quais são exatamente as ideias do líder religioso, que ainda tem a última palavra em relação ao programa nuclear.

No entanto, Barati está otimista: a catastrófica situação econômica do país levou os líderes da República Islâmica a adotarem um tom diferente na questão do programa nuclear, no intuito de assegurar a sobrevivência do regime.

Até agora, o Irã vinha utilizando a questão nuclear como ferramenta para fomentar um status de potência regional. Mas, segundo o especialista, o país aparentemente repensa sua estratégia, o que já aumenta significativamente as chances de Rohani e Zarif avançarem no imbróglio nuclear com o Ocidente.