Longe do fim
27 de outubro de 2011Corte de metade da dívida da Grécia, ampliação e fortalecimento do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) – enquanto os líderes europeus sustentam que as decisões tomadas nas primeiras horas desta quinta-feira (27/10) representam uma saída para a crise que atinge a União Europeia, economistas alemães ouvidos pela Deutsche Welle afirmam que as medidas ainda não serão suficientes para colocar um ponto final na delicada situação econômica em que se encontra o bloco.
A decisão de perdoar 50% da dívida grega e de alavancar as garantias oferecidas pelo fundo de resgate de 440 bilhões para 1 trilhão de euros foi anunciada após uma cúpula que reuniu líderes dos 17 países da zona do euro em Bruxelas.
"Esta é, no máximo, uma etapa intermediária", avalia Andreas Freytag, professor de política econômica da Universidade de Jena. "O fim da crise virá quando não houver mais nenhum fundo de resgate. O fundo é, por assim dizer, um motor que impede os governos de fazerem reformas. Isso não foi, de maneira alguma, o fim da crise", afirma.
Freytag acredita que as medidas podem dar abertura para que outros países ameaçados pela crise não levem a sério metas de austeridade e reformas estruturais, já que, em casos de emergência, os demais membros da zona do euro podem oferecer ajuda. "A crise da dívida só será solucionada quando essa co-responsabilidade acabar. Enquanto os contribuintes europeus precisarem responder pelos problemas de gregos, portugueses, italianos, e eventualmente também de franceses e alemães, não haverá solução."
Ameaça velada
O economista-chefe do maior banco alemão, o Deutsche Bank, Thomas Mayer, concorda que, apesar das decisões da cúpula da zona do euro, a crise da dívida ainda deve continuar. "É mais um passo no caminho para a estabilização da moeda comum europeia. Mas certamente não é a solução final".
Mayer, porém, não vê as medidas para ajudar as economias enfraquecidas como um convite à ineficiência. "Do documento final da cúpula constam várias ameaças veladas. Como, por exemplo, a vigilância da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) in loco na Grécia", ressaltou.
A maioria dos economistas alemães vê com desconfiança a ampliação do "poder de fogo" do FEEF de 440 bilhões para 1 trilhão de euros. Para alavancar esses recursos, o pacote de resgate poderá assegurar, por exemplo, 20% dos títulos dos países em crise – o chamado seguro parcial.
"Com a condição de seguro parcial, o fundo de resgate poderia também cobrir as necessidades financeiras de dois grandes países, como a Espanha e a Itália", avalia Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank. "Evidentemente, questiona-se se os credores poderiam comprar títulos públicos parcialmente assegurados em larga escala. Ainda não estamos convencidos de que já chegamos ao ponto em que haverá uma mudança nos rumos da crise da dívida", disse Krämer.
Pontos fracos permanecem
Para muitos analistas, os principais problemas estruturais dos países do sul da zona do euro também continuam existindo.
"A Grécia precisaria não apenas do perdão de suas dívidas, mas também de uma verdadeira depreciação monetária", avalia Freytag. "E o país não conseguirá isso sem sair da zona do euro. Mas sobre isso não se falou desta vez, por isso é apenas especulação."
A mesma linha é defendida por Thomas Mayer. "O mais importante é que o sul recupere sua produtividade. E isso vai muito além de Grécia e Portugal. Isso atinge principalmente a Itália e a Espanha. Sem tal reestruturação econômica, sem uma agenda 2020 para a Itália e Espanha, o problema não será resolvido".
Boas reações
Mesmo não sendo a tão esperada luz no fim do túnel, os anúncios dos líderes europeus tiveram boa repercussão entre os investidores, com as bolsas na Europa registrando fortes altas. "Decisões foram tomadas na Europa e, mesmo que elas não apresentem muitos detalhes, os líderes europeus estão fazendo o jogo certo, e os mercados parecem ter entendido isso", avaliou Kathleen Brooks, da Forex.com.
Para Mike Lenhoff, chefe de estratégia da administradora Brewin Dolphin, as medidas foram bem recebidas nos mercados por representarem a disposição de se construir uma agenda com o intuito de deixar a crise para trás. "Isso é um progresso", afirmou o especialista.
Os investidores agora ficarão atentos à próxima reunião do G20 em Cannes, nos dias 3 e 4 de novembro, para saber que efeito o fundo de resgate do euro terá na prática.
Autor: Rolf Wenkel (msb)
Revisão: Francis França