Novos pesos e novas medidas na Siemens
Para alguns, o acordo a que chegaram a presidência da Siemens e o IG Metal simboliza que empresariado e sindicalismo começam, enfim, a enxergar que a economia alemã só vai se recuperar se conseguir se despedir de regalias não mais sustentáveis.
Para outros, como os representantes do Instituto do Trabalho e da Técnica, sediado em Gelsenkirchen, a solução encontrada pelos dois lados só estaria adiando a hora da verdade. "A médio prazo, isso leva tanto os funcionários quanto a empresa a um beco sem saída", declarou o especialista Steffen Lehndorff ao diário alemão Berliner Zeitung.
"Vitória da razão"
Sentados à mesma mesa, executivos e sindicalistas selaram o que o presidente da Siemens, Heinrich von Pierer, chamou de "a vitória da razão". Esta salvou dois mil empregos em terras nacionais, mais precisamente em Kamp-Lintfort e Bocholt, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Essas unidades de produção de telefones já estavam praticamente fadadas à transferência para fábricas da Siemens na Hungria, país onde os salários e encargos sociais são sensivelmente mais baixos que na Alemanha.
Segundo comentário do diário Frankfurter Rundschau, "nem a Siemens bateu com a cara no chão, nem o sindicato saiu com o orgulho ferido".
Verdade ou não, o aperto de mãos entre os dois teve seu preço: o aumento da jornada de trabalho de 35 para 40 horas semanais e nenhuma garantia de benefícios como férias e abonos de Natal. As negociações de salários, da mesma forma, ficam na corda bamba – fixadas apenas para os próximos dois anos. Até então, os empregos nas duas unidades estarão seguros. Depois, quem sabe.
"Mera invenção"
As mudanças iminentes irão proporcionar à Siemens uma redução de custos com funcionários em torno de 30%. Celulares e telefones sem fio passarão a ser fabricados nessas duas unidades ao preço dos que sairiam das fábricas húngaras – o destino inicial anunciado para a transferência dos postos de trabalho.
O acordo selado no caso Kamp-Lintfort/Bocholt deverá servir de modelo para futuras discussões, envolvendo quatro outras fábricas da Siemens no país: Bruchsal, Kirchheim/Teck, Karlsruhe e Nurembergue. Nestas, estão em risco outros 2300 empregos. Para o IG Metal, importa varrer de qualquer mesa de negociação a cogitada transferência de 74 mil dos 167 mil empregos oferecidos pela Siemens no país – números levantados pela imprensa e tachados pelo presidente Von Prierer de "mera invenção".
Rumo às 45 horas semanais?
O perigo, segundo Lehndorff, do Instituto do Trabalho e da Técnica, é o de que as concessões façam escola. E que se aprenda no país a nivelar por baixo. "Quem quiser aumentar a capacidade de concorrência das empresas alemãs através da redução de salários e do aumento da jornada de trabalho sem pagamento extra vai estar daqui a dois anos frente ao mesmo problema. Aí vão querer introduzir a semana com 45 horas de trabalho", diz o especialista.
Segundo ele, empresariado e sindicatos deveriam deixar de querer competir com os países da "segunda divisão" de salários e passar a se orientar mais pelos que jogam na primeira divisão das nações que pagam bem.
De uma forma ou de outra, o fantasma dos cortes de empregos continuará rondando as fábricas da Siemens na Alemanha. Somente em conseqüência da automação e de novas tecnologias, irão desaparecer entre um e dois mil empregos dos quadros da empresa. Estes, nem o mais bem intencionado dos sindicalistas vai conseguir salvar.