Exército alemão
13 de dezembro de 2009Após relatórios detalhados sobre o ataque aéreo de setembro comandado por militares alemães nas imediações de Kunduz, no Afeganistão, o ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, e a premiê Angela Merkel estão sob crescente pressão da oposição.
Um relatório secreto da Otan concluiu que o alvo do bombardeio comandado pelo Exército alemão não era tanto os caminhões-tanque sequestrados, mas sim um grupo de talibãs e seus líderes. Isso foi o que noticiaram diversos órgãos de mídia da Alemanha neste sábado (12/12). Suspeita-se que o procedimento faça parte de uma nova estratégia militar autorizada pela Chancelaria Federal.
Os líderes da bancada verde no Parlamento, Renate Künast e Jürgen Trittin, exigiram que Merkel se pronuncie o mais rápido possível sobre o caso diante do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão. "Esperamos que a chanceler federal explique na próxima semana, diante do Parlamento alemão, se a intenção de matar suspeitos faz parte da estratégia do Exército alemão no Afeganistão", exigiu Trittin.
Fora do conhecimento do Parlamento e da opinião pública
Se a Chancelaria Federal realmente tiver autorizado uma atuação mais agressiva do Exército alemão antes do bombardeio, então o Parlamento e a opinião pública foram propositalmente ludibriados, suspeita a oposição.
Para Hans Peter Bartels, especialista em assuntos de defesa do Partido Social Democrata (SPD), as informações recém-divulgadas entram em choque com o que se discutiu até então sobre a atuação dos militares alemães dentro da operação internacional da Otan no Afeganistão. "Se for verdade que a meta da operação era matar talibãs por meio desse bombardeio em Kunduz, é preciso dizer que isso contradiz o espírito do mandato sancionado pelo Bundestag", advertiu Bartels.
A especialista do Partido Liberal (FDP) para questões de defesa, Elke Hoff, também exige um esclarecimento abrangente do ocorrido. "Espero que o ministro Guttenberg preste contas ao Parlamento na primeira seção da comissão de inquérito, de modo que possamos avaliar se houve um erro político, um erro na execução da operação ou se a situação in loco requeria que se prevenissem danos em Kunduz", comentou ela.
Meta concreta de acertar posições de talibãs
A divulgação de novos relatórios acirra o debate sobre a necessidade do bombardeio que matou 142 pessoas, muitas delas civis. O que também se questiona é até que ponto o ministro Guttenberg foi informado anteriormente da motivação militar do ataque aéreo.
O político social-cristão passou a ser pressionado após declarar, no início de novembro, que considerava "pertinente" o bombardeio, uma afirmação que ele mesmo revidou depois. Até então, o que o protegia era a argumentação de que ele não teria conhecimento de alguns relatórios importantes. Por terem supostamente omitido informações, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Alemãs, Wolfgang Schneiderhan, e o vice-ministro Peter Wichert tiveram que renunciar.
No entanto, a revista Der Spiegel e o semanário Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung noticiaram que os dois altos-funcionários do ministério tinham informado Guttenberg de que, além do relatório da Otan, haveria outros documentos importantes, inclusive um comunicado do comandante Georg Klein, que ordenou o bombardeio.
De acordo com o Leipziger Volkszeitung, o ataque aéreo foi consequência de uma estratégia de escalada permitida pela Chancelaria Federal e ordenada aos oficiais pelo então ministro da Defesa, Franz Josef Jung, e pelo chefe do Estado-Maior Schneiderhan, que nesse meio-tempo já foram afastados de seus cargos.
Conforme relatou a revista Der Spiegel, o próprio comandante Georg Klein justificou a Schneiderhan, em um comunicado de 5 de setembro, que ele teria ordenado o bombardeio "a fim de evitar perigos para os soldados [alemães] e acertar com probabilidade máxima somente inimigos da reconstrução [do Afeganistão]".
A revista divulgou a mensagem de Klein a Schneiderhan na íntegra: "No dia 4 de setembro, às 01h51, decidi recorrer a forças aéreas para destruir dois dos caminhões-tanque sequestrados na noite de 3 de setembro, bem como os INS [sigla para "insurgentes"] que se encontrassem em volta dos veículos".
Alemanha com Exército de intervenção?
A Chancelaria Federal ainda não se pronunciou sobre os relatos da imprensa. Guttenberg declarou que todos esses fatos, por terem ocorrido antes de ele assumir o Ministério da Defesa, fogem à sua competência. O ministro atribuiu à comissão de inquérito a responsabilidade de esclarecer o caso.
O presidente do SPD, Sigmar Gabriel, disse que, se tudo isso for verdade, Merkel deve exigir a renúncia de Guttenberg, assim como fez com seu antecessor. "O Exército alemão é um exército parlamentar e não pode ser transformado em um exército de intervenção", comentou o político social-democrata.
SL/dw(hbb)/afdp
Revisão: Marcio Damasceno