"Não podemos nos esconder atrás de um muro", diz Obama
25 de maio de 2017O ex-presidente americano Barack Obama foi nesta quinta-feira (25/05) o convidado mais proeminente entre os mais de 100 mil presentes no Dia da Igreja Protestante em Berlim. Diante do Portão de Brandemburgo, onde teve recepção de pop-star, ele participou de um debate com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, sobre o tema responsabilidade.
Após se referir a Merkel como uma de suas "parceiras preferidas" em seus oito anos na Casa Branca, Obama fez uma defesa de seu legado e dos valores liberal-democráticos apoiados, como ressaltou, tanto por Alemanha quanto por Estados Unidos.
"Neste novo mundo em que vivemos, não podemos nos isolar, não podemos nos esconder atrás de um muro", disse o ex-presidente americano. "Temos que pressionar contra essas tendências que violam direitos humanos, suprimem a democracia e restringem as liberdades individuais."
Obama sublinhou que a ajuda humanitária, a resolução de conflitos e a luta contra a mudança climática não são "caridade", senão um "investimento" no conforto nacional. Ele reconheceu ainda que a globalização, a tecnologia, a desigualdade e fenômenos como a crise dos refugiados geraram "medos" que precisam ser combatidos.
A Europa, lembrou, não viveu um período de maior paz e prosperidade do que nas últimas décadas, mas os sistemas devem ser renovados para lutar contra esses medos e é necessário defender os valores comuns frente a tendências contrárias aos direitos humanos, à democracia.
Merkel, por sua vez, fez referência à crise dos refugiados, quando em 2015 chegaram à Alemanha mais de um milhão de migrantes, e destacou a solidariedade e a empatia mostrada por milhões de alemães naquele momento.
Como Obama, a chanceler reconheceu a impossibilidade de alcançar 100% das metas políticas, mas destacou a importância de perseguir os objetivos que são considerados valiosos e lembrou a história da Alemanha dividida e reunificada.
"É preciso olhar para frente", afirmou a chanceler.
A festividade em Berlim é uma reunião de superlativos: 2.500 eventos, 30 mil colaboradores e convidados de todo o mundo celebram os 500 anos de Reforma Luterana e da cultura protestante do debate. Além de estrelas políticas como Merkel e Obama, líderes espirituais destacados, filantropos e estrelas pop pregam, oram, cantam e debatem em Berlim e Wittenberg.
Entre as personalidades mais conhecidas estão o arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba; o imã Ahmed el-Tayeb, da Mesquita de al-Azhar, no Cairo; a esposa de Bill Gates, Melinda; o cantor e compositor alemão Max Giesinger; o climatologista Ottmar Edenhofer; o enviado especial da ONU Staffan de Mistura e o escritor israelense Amos Oz.
História
O Dia da Igreja Protestante, que se comemora a cada dois anos desde 1949, é ao mesmo tempo cosmopolita e tipicamente alemão. O encontro foi criado pelo político alemão Reinold von Thadden-Trieglaff, que, como membro da Igreja Confessional, resistiu ao regime de Adolf Hitler, atuando como presidente do Dia da Igreja Protestante até 1964.
"Fora a Igreja Confessional, a Igreja Luterana não desempenhou um papel muito glorioso sob o nazismo, em grande parte", diz a porta-voz do Dia da Igreja Protestante Sirkka Jendis. "Ativistas leigos disseram, por isso: 'É preciso criar um fórum e contribuir para que tal coisa não aconteça novamente.'"
O movimento protestante laico foi crescendo a partir da Semana Protestante de 1949, em Hannover. Ele passou a organizar regularmente encontros que se distanciavam intencionalmente da Igreja Luterana oficial.
"A amplitude de conteúdo e a relevância pública são algo único", sublinha a porta-voz. "Este Dia da Igreja pode se tornar político", avisa, fazendo referência aos numerosos debates programados para o encontro, sobre temas como migração, refugiados, guerra, tolerância e integração.
Pensadores protestantes e teólogos não só influenciaram o Dia da Igreja Protestante na Alemanha, mas também conferiram destaque internacional ao encontro. Por isso, os motivos da visita de Obama ao Dia da Igreja Protestante não são apenas o aniversário da Reforma e Martinho Lutero.
O ex-presidente dos Estados Unidos se sente ligado ao protestantismo também pelos escritos do teólogo teuto-americano Reinhold Niebuhr. Seu "realismo cristão", que prega a justiça na observância do bem comum e rejeita a arrogância nacional, foi considerado por Obama uma diretriz de sua presidência.
Na Alemanha, esse fórum protestante foi influenciado pelas presidências honorárias exercidas por políticos como o ex-ministro do Desenvolvimento Erhard Eppler e o ex-presidente Richard von Weizsäcker. Eppler foi um dos líderes do movimento pacifista nos anos 80, Weizsäcker tentou, como presidente da Alemanha reunificada, de 1984 a 1994, superar a divisão do país.