O alemão e a ordem
14 de maio de 2016Não, a ordem não é uma invenção nossa. Nem mesmo o amor por ela. Isso precisa ser dito por uma questão de ordem. Nossos antepassados eram tipos selvagens, que adoravam o caos. A ordem foi trazida pelos romanos. No sistema judicial, monetário, político, e, sobretudo, na organização militar.
Os romanos andavam sempre em formação, enquanto os teutos e outras tribos germanas corriam desordenados. Mas, após sua primeira derrota contra toda essa bagunça, os romanos logo ordenaram uma profunda reforma do seu exército. E nós também aprendemos com a história. Desde que deixamos de ser hordas germânicas e nos tornamos os organizados alemães, a ordem reina. E nós a amamos.
Ordem é o estado regulado de coisas – não importa de quê. E "ordem é metade da vida", segundo um popular ditado alemão. A segunda metade fica a cargo dos outros. Dos romanos, por exemplo, dos atuais, aqueles que vivem hoje na Itália, a quintessência do caos. Pelo menos era assim, até serem superados pelos gregos.
Deus ama a ordem
"Ordem é necessária", "Ordem ajuda a administrar", "Ordem mantém o mundo”. São frases que estão na boca do povo alemão. Em nenhum outro idioma, a ordem é louvada com tanto fervor como na língua alemã. O mais belo provérbio é: "Deus ama a ordem". Isto, o alemão adora: quando qualquer ser superior apoia aquilo que ele acha bom. Seja Deus, o imperador, pastor ou chanceler federal.
Para o alemão existem os defensores da ordem, as forças da ordem, o apelo à ordem. Mas, para ele, ordem também pode ser um traço de caráter. Uma pessoa agradável é uma pessoa in Ordnung – "em ordem".
As palavras Ordnung e ordentlich são usadas com muitas conotações, inclusive como "organização". Um trabalho organizado impõe respeito. Nós conhecemos paisagens ordenadas e a insolvência organizada. Até isso, pois falir e cair na miséria é coisa de caótico, e não combina com um alemão de verdade.
No Schrebergarten as coisas saíram da ordem
Tudo na Alemanha tem ordem e regras: existem as regras do prédio, a norma para estações ferroviárias, piscinas e para a navegação. Mesmo assim, às vezes, as coisas saem de ordem. Dizem que o caos já invadiu até os famosos Schrebergärten, "jardins de Schreber" – esses pequenos jardins urbanos que são a menina dos olhos para os alemães: gramados bem cortados, caminhos bem traçados, cercas impecáveis. Pois não se pode deixar a natureza brotar ao seu bel-prazer, que desordem isso seria! É preciso cortar o mal pela raiz.
E não nos esqueçamos dos anõezinhos de jardim, os Gartenzwergen. Também existem normas para eles! Uma regra tácita que todo alemão conhece: o anão de jardim tem no máximo 69 centímetros de altura, barba, gorro vermelho, avental de couro e carrega uma pá ou picareta, lampião ou carrinho de mão.
Mas, hoje em dia, é um horror o que se encontra por aí: anõezinhas de nádegas de fora ou mostrando o dedo médio. Inacreditável! Ainda bem que existe a Justiça alemã para impor ordem: esses anões não são anões, mas um atentado ao pudor, perturbam a paz entre os vizinhos e, portanto, devem sair do jardim. Este foi o veredicto pronunciado pelo tribunal de Grünstadt em 1994.
E o mundo alemão voltou à ordem.