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O Brasil na imprensa alemã (15/12)

15 de dezembro de 2021

Jornais da Alemanha destacam estreia do Nubank na Bolsa de Nova York e o fato de o banco brasileiro ter uma cofundadora mulher. Mídia também repercute treinamento do Exército contra esquerda.

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Imagem simbólica de criptomoedas em frente a logotipo do Nubank
Imagem simbólica de criptomoedas em frente a logotipo do NubankFoto: Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance

Handelsblatt – A bilionária self-made (13/12)

Quando, na última semana, Cristina Junqueira se preparou para falar algumas frases durante a abertura de capital na Bolsa de Nova York, a cofundadora da fintech brasileira Nubank foi interrompida por gritos infantis eufóricos: "Mamãe!" Sim, suas duas filhas estavam presentes, disse ela, enquanto passava a mão sobre sua redondíssima barriga de gestante – e continuou profissionalmente o discurso.

Com o toque do sino, a mulher de 39 anos se tornou instantaneamente uma bilionária. Ela possui 2,6% de participação no banco que atualmente é o mais valorizado da América Latina e que ela ajudou a fundar há sete anos. A porcentagem equivale a US$ 1,2 bilhão na estreia na Bolsa na última quinta-feira (09/12).

Com isso, ela é uma exceção dupla entre os ricos do mundo: entre os 500 bilionários em todo o planeta, há apenas poucas mulheres. E, delas, poucas conquistaram seu patrimônio por conta própria – são exatos 3%, segundo a agência de notícias Bloomberg.

O Nubank começou com um cartão de crédito grátis. Hoje em dia, a instituição oferece quase todos os serviços por aplicativo. Todo dia, registra 40 mil novos clientes.

Desde o início, Junqueira manteve especialmente o contato com o Banco Central e as autoridades no Brasil. Hoje em dia, é formalmente a CEO do Nubank no país. Mas seus talentos, na verdade, são o marketing, a construção da marca e a manutenção das relações com os clientes.

Junqueira destaca que a parcela de mulheres no Nubank, de mais de 40%, é bem maior do que no sistema financeiro brasileiro em geral, e que 30% dos funcionários são LGBTQ+. A concorrência dos bancos tradicionais está bastante atrasada nesse quesito.

Ela também é constantemente questionada sobre como faz para criar duas filhas, estar grávida da terceira e, ao mesmo tempo, construir uma empresa bilionária. Ela diz que, em sua vida, só existe o Nubank e sua família, e que abre mão de todas as outras coisas como esporte, festas, viagens e congressos.

Segundo Junqueira, maratonas e triatlos atualmente são considerados o "novo MBA" para gestores e empresários. Ela considera o chamado extreme parenting uma preparação no mínimo igual para qualquer gestão: como mãe presente, depende-se muito de fatores externos que não se pode controlar. Mas ela diz que ninguém escreve sobre isso.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Nubank tem início fulminante na Bolsa (10/12)

Os fatos para a abertura de capital na Bolsa – uma das maiores do ano – já são suficientemente impressionantes: com um preço de emissão de US$ 9, a oferta inicial inunda os cofres do Nubank com US$ 2,6 bilhões. Com isso, a instituição agora é avaliada em US$ 41 bilhões.

A metade dos 289 milhões de ações vai para investidores-âncora: à frente de todos, o banco japonês Softbank, mas o conhecido Sequoia Bank e o Tiger Global também integram o bolo. Segundo informações da agência especializada em notícias financeiras Bloomberg, a holding Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, assegurou 10% das ações colocadas à venda na oferta. Buffett já tinha investido 500 milhões de dólares anteriormente.

Mas de onde vem essa demanda violenta? Sem dúvida, pode-se chamar o Nubank de neobanco mais ambicioso do mundo. Neobancos são as novas instituições financeiras que não possuem agências e só têm presença no smartphone. Oferecem uma conta e, com frequência, todo um buquê de possibilidades dessa conta, como produtos de poupança, negociações nos mercados financeiros ou depósitos para diversas criptomoedas.

Atingem mais uma população jovem, especialmente quem gosta de usar o celular. São particularmente bem-sucedidos onde muitas pessoas têm um smartphone e não uma conta de banco, como em países emergentes e em desenvolvimento.

E é aqui que o Nubank tem sua origem, na América do Sul, mais especificamente no Brasil.

O que convence os investidores é o crescimento da clientela. O Nubank tem 48 milhões de clientes (o N26, na Alemanha, tem 7 milhões). No Brasil, muita gente – especialmente de origem mais humilde – abriu uma conta para receber benefícios de programa social do governo.

As movimentações nas contas no primeiro semestre de 2021 mais que dobraram em comparação com o ano anterior. Os lucros também dobraram para US$ 1,06 bilhão no período entre janeiro e setembro. Mas também houve perdas, de US$ 99 milhões, especialmente por altos investimentos.

Neues Deutschland – Reforçando a imagem de inimigo (09/12)

O Comando Militar do Leste do Exército brasileiro descreveu a etapa final de um treinamento absolvido por alunos do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOpEsp), localizado em Niterói (RJ), como um exercício de operações contra uma "organização armada clandestina".

De 6 a 21 de novembro de 2020, combatentes puderam colocar à prova os conhecimentos adquiridos durante o curso de seis meses durante a "Operação Mantiqueira". Participaram da operação cerca de 200 membros do Exército e 19 instrutores. O local do espetáculo foram as comunidades de Lorena e Piquete, no Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, perto da fronteira com Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além de exercícios no terreno com muitos tiros, o cenário também incluiu a cooperação com atores civis num território libertado. Também se treinou como lidar com representantes da imprensa, uma exigência para melhorar a imagem das tropas.

Mais de um ano depois, a "Operação Mantiqueira" agora está sob os holofotes da opinião pública, e os oficiais de imprensa do Exército se mostram extremamente reticentes. Na última quarta-feira (08/12), a versão em português do portal investigativo The Intercept revelou contra quem os soldados de elite altamente treinados haviam operado no papel.

A reportagem se baseia em documentos fornecidos aos jornalistas por um whistleblower, cuja identidade o The Intercept esconde por bons motivos. Segundo a documentação, o exercício treinado por sargentos de carreira e oficiais do Exército foi uma ação contra inimigos políticos da elite do país.

A condução do exercício, segundo o repórter Rafael Moro Martins, "deixa claro que, passados quase 40 anos desde a redemocratização, a maior das três Forças Armadas não apenas segue a enxergar movimentos sociais e políticos de esquerda como inimigos – mas também está sendo treinada para combatê-los".

Nesse "caso vermelho", as instruções para a Operação Mantiqueira apresentadas aos quadros das forças especiais incluíam um Exército de Libertação do Povo Brasaniano (ELPB), "criado a partir de um projeto de partido político de caráter marxista e com uma organização armada clandestina".

O inimigo fictício teria surgido a partir de uma dissidência do Partido dos Operários. O movimento guerrilheiro colombiano ELN e o Partido dos Trabalhadores brasileiro (PT), dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula da Silva, assim como o Psol, que surgiu de uma corrente do PT, serviram como referências facilmente reconhecíveis. Outra organização inimiga mencionada nos documentos é o movimento MLT – o equivalente virtual do movimento sem-terra MST.

O relatório do The Intercept é um importante sinal de alerta. O portal, cofundado pelo jornalista americano Glenn Greenwald, tornou-se conhecido internacionalmente em 2016 pelas revelações de Edward Snowden sobre o escândalo de espionagem da NSA. No Brasil, reportagens sobre The Intercept sobre a conspiração de direita do Judiciário e da mídia contribuíram significativamente para o fato de Lula ter sido libertado da prisão em novembro de 2019 após 580 dias e agora estar de volta ao círculo político como o mais importante oponente de Bolsonaro.

rk (ots)