O Brasil na imprensa alemã (22/12)
22 de dezembro de 2021Focus – A devastação do jardim da vida (18/12)
Pelo terceiro ano consecutivo, não chove no Pantanal. Os incêndios se intensificam, a água de lagos seca e os animais morrem. A maior área úmida da Terra pode secar. O dia amanhece quando o guarda-florestal Alesandro Amorim chega à sua estação. Amorim procura pelas nuvens, mas o céu está novamente azul brilhante e claro. "Chove menos a cada ano", diz o jovem de 34 anos. "Nunca vi uma seca como esta."
Segundo o calendário, é a estação das chuvas no Pantanal, a maior planície de inundação tropical do planeta. Com cerca de 200 mil quilômetros quadrados, a região tem a metade do tamanho da Alemanha. Aqui vivem mais espécies de pássaros do que em qualquer lugar na Europa e uma das maiores populações de onças. Lobos-guará, tamanduás e antas percorrem o Pantanal. Macacos gritam nas árvores, cobras vivem no chão e suas águas estão repletas de anfíbios, peixes e jacarés.
Mas a vida depende de grandes quantidades de chuva. O Pantanal fica geralmente inundado por vários meses a cada ano. Em seguida, ele se assemelha a um lago raso com milhares de ilhas. Quando a água recua, o banquete está preparado para as muitas criaturas de uma longa cadeia alimentar. Normalmente o Pantanal renasce todos os anos.
Mas a chuva está sendo aguardada pelo terceiro ano consecutivo. "Normalmente você só podia viajar a cavalo ou de barco agora", diz Amorim. Cientistas citam o desmatamento da Floresta Amazônica como principal causa da seca. Desde a década de 1970, 20% da floresta foi destruída. A destruição atingiu novos recordes sob o presidente Jair Bolsonaro. Menos floresta significa que menos água evapora na Amazônia e menos nuvens se formam para migrar para o sul e fazer chover lá. Uma gigantesca máquina de circulação de umidade para, e isso amplifica os efeitos do aquecimento global.
Neues Deutschland – Um novo começo na Amazônia (16/12)
Mochila nas costas, criança e cobertor nos braços – é assim que muitos migrantes da Venezuela chegam ao Brasil. Segundo informações oficiais, cerca de 300 pessoas entram no país todos os dias. Mas esse número dever ser muito maior. Além disso, há quem atravesse a fronteira por meio de rotas de tráfico.
As ruas da pequena cidade fronteiriça de Pacaraima, no norte do Brasil, tornaram-se confusas. Em muitos cantos, há tendas ou cabanas feitas de papelão e lonas de plástico. Entre elas, pessoas que carregam todos os seus pertences junto a seus corpos. Eles estão esperando por uma vaga num campo de refugiados ou uma oportunidade de viajar para o interior do país. As cerca de 5 mil vagas nos abrigos de emergência estão ocupadas há meses – especialmente grupos vulneráveis, mulheres grávidas, famílias com crianças pequenas ou doentes encontram vagas. Mas isso dificilmente impede que alguém atravesse a fronteira – cerca de 600 mil pessoas deixaram a Venezuela e foram para o Brasil desde 2016.
Enquanto muitos brasileiros inicialmente demonstraram compreensão pelos refugiados e tentaram criar uma cultura de boas-vindas, o clima ficou cada vez mais tenso nos últimos anos: houve um aumento dos ataques, culminando na violência quando os residentes de Pacaraima incendiaram um dos abrigos de refugiados, em agosto de 2018.
Desde então, a situação se acalmou um pouco – mas a situação ainda é tensa. A cidade realizou uma audiência pública numa tarde de outubro. Ela aconteceu no ginásio de esportes coberto da pequena cidade. Tanto o campo quanto as arquibancadas estavam totalmente ocupados. Está mais de 30 °C, e gotas de suor escorrem pelo rosto de muitos espectadores sob as máscaras de proteção.
O único item da agenda: como lidar com tantos refugiados? "Eles roubam nossas casas, destroem, estupram", afirma um morador local. A criminalidade aumenta com tanta gente na rua, os filhos já não se sentem seguros, queixa-se. Os militares devem finalmente agir aqui e garantir a segurança. "Nós, professores, ficamos completamente sobrecarregados com todas as crianças que não falam português", queixa-se uma professora. O subtexto da maioria dos discursos: eles desejam que a fronteira com a Venezuela fosse fechada. Mas isso será impossível, porque ninguém pode controlar as centenas de quilômetros de fronteira na Floresta Amazônica.