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O Brasil na imprensa alemã (23/03)

23 de março de 2022

Violência contra pessoas trans no Brasil, ordem do STF para bloquear Telegram e iniciativa bem-sucedida da prefeitura do Rio para enfrentar a Uber foram destaque na mídia da Alemanha.

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Bandeira LGBTQ
Foto: Zoonar/picture alliance

Merkur – Por trás do brilho dos desfiles: por que o Brasil é o país que mais mata pessoas queer (21/03/2022)

Bandeiras de arco-íris por toda parte, muito brilho, muita pele – os brasileiros celebram regularmente sua tolerância em paradas gays. A Parada do Orgulho Gay de São Paulo é regularmente o maior evento LGBTQI do mundo. Antes da pandemia, o desfile normalmente atraía de três a cinco milhões de participantes. O casamento igualitário também é possível no Brasil desde 2013 e os sucessos da drag queen Pabllo Vittar sempre estão no topo das paradas.

O Brasil gosta de se apresentar ao mundo exterior como um país em que as pessoas são iguais, independentemente de gênero ou orientação sexual. "Mas a realidade é muito mais complicada", diz a deputada federal Robeyoncé Lima. Ela é a primeira mulher trans a ser eleita deputada federal por Pernambuco.

Mas o Brasil não é apenas o país com a maior Parada do Orgulho Gay, mas também o país onde as pessoas gays são mortas regularmente, ela acrescenta. "As paradas de orgulho muitas vezes dão uma imagem muito unilateral e muito positiva de como é a vida das pessoas queer no Brasil."

Essa não é apenas a impressão subjetiva de Lima: está bem documentado que a discriminação e a violência fazem parte do cotidiano de muitas pessoas queer no Brasil. Segundo estatísticas da organização não governamental Gay da Bahia, uma pessoa queer é assassinada no Brasil a cada 19 horas. As pessoas trans são particularmente afetadas pela violência. Só em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no Brasil.

Há também muita violência verbal. "Há um discurso insano de ódio", diz Lima. "Em todas as áreas da minha vida, sou discriminada como mulher trans."

Lima acredita que a situação se deteriorou ainda mais nos últimos anos, com o governo de Jair Bolsonaro semeando ainda mais ódio contra pessoas queer. No início deste ano, por exemplo, Bolsonaro afirmou que a família tradicional formada por pai, mãe e filho é "sagrada" e insinuou que as pessoas LGBTQ vão para o inferno. Anteriormente ele já havia dito que preferia um "filho morto em acidente a um homossexual".

Der Spiegel – Como o Rio de Janeiro foi mais esperto que a Uber (22/03)

Rubens da Silva ama seu trabalho. O homem dos olhos amistosos ​​dirige um táxi no Rio de Janeiro há 17 anos. Ele gosta do contato com os clientes, os muitos turistas. "Todo dia algo novo acontece, alguém conta uma história interessante", diz.

Da Silva, 44 anos, costuma trabalhar seis dias por semana, em média doze horas por dia. O pai de dois filhos costumava ganhar bastante, cerca de 7.000 reais por mês. Mas então, em 2014, a Uber entrou no mercado e começou a "roubar clientes". "Já participei de pelo menos dez protestos", diz.

Mas a Uber atraiu com ofertas baratas e conquistou espaço. Os ganhos dos motoristas de táxi despencaram, um problema que muitas cidades enfrentam desde que a empresa americana sediada em São Francisco se expandiu globalmente.

Os taxistas protestaram em muitos países. A Uber foi banida em algumas cidades ao redor do mundo, mas o Supremo Tribunal Federal brasileiro decidiu contra essas iniciativas em 2019. A cidade do Rio de Janeiro decidiu então vencer a empresa em seu próprio jogo. Decidiu concorrer com uma ideia tão simples quanto criativa: desenvolver seu próprio aplicativo de táxi, financiado pela prefeitura.

"Quando a Uber chegou ao mercado, achávamos que os táxis simplesmente desapareceriam", diz Pedro Paulo Carvalho Teixeira, secretário de Fazenda e Planejamento do Rio de Janeiro.

A ideia surgiu em 2015, logo após a entrada da Uber no mercado. Dois anos depois, o aplicativo foi concluído. Ele foi desenvolvido pela empresa de tecnologia municipal IplanRio. "70% dos taxistas estão cadastrados conosco", diz Pedro Paulo. Não foi necessária uma campanha publicitária, o aplicativo apenas se espalhou entre os motoristas.

O aplicativo Táxi.Rio é gratuito para os motoristas que quiserem usá-lo. De acordo com a prefeitura, um motorista de táxi ganha cerca de 85% a 100% a mais do que um motorista de Uber. Muitos motoristas de Uber no Brasil trabalham sete dias por semana para ganhar a vida. Eles costumavam pagar 25% fixos da tarifa à operadora do aplicativo, mas desde 2018 a taxa vem sendo "variável", segundo a empresa.

No entanto, isso também significa que o aplicativo do Rio Janeiro funciona como um subsídio – custou à cidade R$ 8,3 milhões para ser desenvolvido. E mensalmente o Rio de Janeiro tem que pagar um milhão de reais para manter o serviço. (...)

"Nosso objetivo é tomar contramedidas e equilibrar certas evoluções indesejáveis ​​no mercado", diz Pedro Paulo. Ele não quer parar por aí: planeja também resolver o problema com os serviços de entrega de comida. Cerca de 100.000 pessoas, a maioria homens das favelas, trabalham como entregadores só no Rio de Janeiro, e seu número aumentou bastante durante a pandemia. Os entregadores têm que dar grande parte de seus ganhos aos operadores dos aplicativos, como iFood ou Rappi, e as condições de trabalho são exploratórias e os salários, baixos.

Tagesschau – Justiça bloqueia Telegram no Brasil (19/03/2022)

O Supremo Tribunal Federal do Brasil ordenou um bloqueio nacional do Telegram.  A empresa desafiou repetidamente ordens judiciais para suspender contas de usuários que espalhavam mensagens falsas, aponta a decisão. O Telegram também não cumpriu as leis do país. Além disso, ao contrário de seus concorrentes, a empresa não nomeou um representante legal no Brasil. Espera-se que o Telegram seja restabelecido assim que as ordens judiciais pendentes forem cumpridas.

O fundador e CEO do Telegram, Pavel Durov, pediu desculpas pelo que chamou de "negligência" da empresa e pediu ao tribunal que adiasse a suspensão. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse que a decisão era "inadmissível". O líder de direita Bolsonaro, seus filhos, ministros e assessores estão fazendo uso cada vez maior do Telegram para levar suas mensagens políticas aos apoiadores – especialmente desde que o concorrente WhatsApp mudou suas diretrizes para compartilhamento de informações. Uma proibição do Telegram tornaria mais difícil para Bolsonaro se comunicar com seus apoiadores. Bolsonaro tenta garantir outro mandato na eleição de outubro deste ano.

jps/ek (ots)