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O Brasil na imprensa alemã (26/02)

26 de fevereiro de 2020

Mídia aborda os ataques contra minorias sob Bolsonaro e o "flerte" do governo com os generais. Protestos contra o presidente no Carnaval carioca e o pedido do ministro da Saúde por "etiqueta" também foram tema.

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Rapaz segura cartaz com a frase "LGBTI+ contra Bolsonaro" durante a parada gay de São Paulo em 2019
Jornal lembra que a parada do orgulho LGBT de São Paulo é a maior do mundoFoto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/F. Vieira

Der Tagesspiegel – As vítimas do presidente de direita, 20/02/2020

Por muito tempo, o Brasil foi considerado exemplar no que diz respeito aos direitos da comunidade LGBTQI. Desde 2013 existe o casamento para todos, casais do mesmo sexo podem adotar filhos, pessoas trans podem ter seu gênero ajustado.

Mas desde o ano passado, gays e lésbicas temem por seus direitos no país. Também há muito medo na comunidade afrobrasileira. Pois nas mídias sociais se acumulam relatos de ataques a negros, homossexuais e pessoas trans. Muita coisa mudou desde que o novo presidente assumiu o cargo.

Jair Bolsonaro, eleito presidente do maior país da América Latina em outubro de 2018, e no cargo desde janeiro de 2019, atacou homossexuais em várias ocasiões. "Se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater", afirmou Bolsonaro em entrevista anos atrás. Ele já afirmou que preferia um filho morto a um filho gay. Também insultou negros e povos indígenas. "Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador eles servem mais", disse, sobre visita a um quilombo.

Tais palavras não ficam sem consequências. Mesmo em São Paulo, metrópole de 12 milhões de habitantes considerada a capital cultural do Brasil, onde todos os anos milhões de pessoas vão à Avenida Paulista para a maior parada do orgulho gay do mundo. 

Somente no primeiro trimestre de 2019, casos relatados de ataques a LGBTQIs em São Paulo aumentaram 24% em relação ao ano anterior. [...] Além disso, o Brasil é o país com a maior taxa de assassinatos de pessoas da comunidade LGBTQI: em 2019, 124 pessoas trans foram mortas; 82% eram negras.

O jornal conversou com cinco pessoas em São Paulo que foram vítimas de ataques homofóbicos ou racistas.

Der Spiegel – Flerte com os generais, 22/02/2020

No Brasil, o presidente extremista de direita Jair Bolsonaro nomeou na semana passada um general para ministro da Casa Civil, e ele é o nono militar em seu ministério. Na Bolívia, um general pressionou no final do ano passado o presidente eleito democraticamente Evo Morales a renunciar dois meses antes do término do seu mandato. E na Venezuela, o autocrata Nicolás Maduro teria caído há muito tempo se os militares não o tivessem apoiado.

[…]

Corrupção e uma cultura de impunidade fizeram com que a classe política e as instituições democráticas tenham pouco apoio. No Brasil, por exemplo, 42% da população confia nas Forças Armadas, mas apenas 7% confiam no Congresso. Com isso, aumenta o risco de que o flerte com os generais termine numa ditadura. A democracia morre lentamente – e são os políticos civis que dão o tiro de misericórdia.

Die Welt – Carnaval contra o presidente, 25/02/2020

O mundialmente famoso Carnaval do Rio foi neste ano uma grande manifestação anti-Bolsonaro. No mundialmente famoso Sambódromo, onde as 14 melhores escolas de samba competem entre si, muitas das performances foram dirigidas ao chefe de Estado. Na abertura, a escola Acadêmicos de Vigário Geral convocou à resistência através do samba. A atual campeã, Mangueira, fez Jesus voltar a uma favela. Lá ele foi espancado por policiais. Uma provocação para os apoiadores evangélicos do presidente Bolsonaro, que falaram em "blasfêmia" após a apresentação.

Mas longe da arena, com suas íngremes arquibancadas de concreto e camarotes VIPs, a situação no Brasil é muito diferente. O homem que é considerado um Donald Trump latino-americano, desde que chegou ao poder usando métodos e programas semelhantes aos do presidente dos EUA no maior país da América Latina, goza de grande apoio no país.

Isso também ocorre porque, um ano após a eleição de Bolsonaro, há outro paralelo entre a América do Norte e a América do Sul: como Donald Trump, Bolsonaro pode apoiar seu poder com um desenvolvimento econômico positivo. Nada, além do colorido Carnaval antipresidencial, parece sugerir que o bolsonarismo seja apenas um episódio de curta duração. Segundo a pesquisa mais recente da consultoria Atlas Político, Bolsonaro atualmente conseguiria tranquilamente se reeleger.

Existem muitas razões para isso. Uma das principais é que Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiram estabilizar a economia, deixando entrever novas perspectivas. De acordo com o Caged, órgão responsável pelas estatísticas de desemprego, foram criados cerca de 644 mil novos empregos regulares no primeiro ano de mandato do presidente. Esse é o melhor resultado desde 2013, quando Dilma Rousseff, do esquerdista Partido dos Trabalhadores, ainda estava na presidência.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Desejo por etiqueta, 21/02/2020

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, pediu calma, apesar das preocupações durante o Carnaval. "Vamos intensificar a vigilância e organizar nossos sistemas de saúde para oferecer o melhor serviço possível durante o Carnaval." Mandetta apontou que o coronavírus não era o único foco.

No ano passado, após o Carnaval, houve um aumento nos casos de sarampo. Outras doenças, como a dengue, que continua sendo comum no Brasil, se espalham com mais facilidade e rapidez em grandes multidões. E o HIV continua sendo um problema no Brasil, apesar de todas as campanhas de prevenção.

Numa reunião com os secretários de Saúde de vários estados, Mandetta pediu, por isso, que os foliões sejam orientados a ter um pouco mais de "etiqueta". Como os estados farão isso, aí é com eles, acrescentou brincando. Mas o assunto é tudo menos divertido. Dizem que tudo é permitido no Carnaval, mas o chamado para estabelecer limites visa mais do que apenas impedir a propagação de doenças. Todos os anos, existem inúmeras agressões sexuais contra mulheres que vão muito além de supostos mal-entendidos.

Por esse motivo, várias campanhas de conscientização foram lançadas nos últimos anos para resolver o problema. Muitas vezes bastam recursos simples, como uma tatuagem temporária com a inscrição "Não é não", que pode ser feita no ombro. O sinal é claro e faz efeito. A campanha Não é Não foi tão bem-sucedida no Rio de Janeiro no ano passado que a tatuagem temporária agora será distribuída em outras cidades. A campanha é financiada com doações.

Outras organizações estão se preparando para o Carnaval com campanhas para evitar agressão sexual. Também existem inúmeras plataformas nas quais as vítimas podem denunciar e obter ajuda.

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