Jovem talento
27 de setembro de 2011Quando se buscam momentos que ilustrem a carreira de Breno na Alemanha, as primeiras cenas que vêm à memória são da sua chegada ao aeroporto de Munique, acompanhado do pai, em 2008.
O jovem, então com 18 anos, observava com timidez o que acontecia ao seu redor, bombardeado por perguntas da imprensa feitas num idioma que ele sequer entendia, na dúvida se parava para atender aos repórteres ou se seguia caminhando sem saber ao certo para qual direção.
Mais tarde, o jogador reconheceria que, já naquele primeiro momento na Alemanha, havia ficado claro para ele quão grande era a mudança que teria que enfrentar em sua vida.
Durante os primeiros meses ele esteve o tempo todo acompanhado por membros da sua família e cercado pelos seus compatriotas no Bayern, Zé Roberto e Lúcio. No entanto, os jogadores não podiam se ocupar o tempo todo do colega recém-chegado, entre outros motivos porque, apesar da nacionalidade que os unia, também os separava a rivalidade esportiva, especialmente no caso de Lúcio, capitão da seleção brasileira e zagueiro titular da equipe alemã.
Isolamento involuntário
Breno aprendeu que no mundo do futebol, e em especial num grande clube como o de Munique, a solidão é quase um pré-requisito para exercer a profissão. Não surpreende que, em vez de fazer amizade com os colegas do Bayern, seus dois melhores amigos na Alemanha sejam os jogadores Alexander Baumjohann, meio-campista do Schalke, e Dante, zagueiro do Möchengladbach.
Breno conheceu Baumjohann durante a breve – e fracassada – passagem do alemão pelo Bayern. Por ter uma esposa brasileira, ele fala bem português. Talento jovem, assim como Breno, Baumjohann compartilha com este a sina de ter um destino promissor que custa a se concretizar por culpa das lesões ou da falta de confiança dos técnicos.
Após uma longa pausa de oito meses, Breno voltou aos estádios em janeiro deste ano. Um tempo longo, durante o qual ele acabou perdendo contato com os integrantes do Bayern de Munique – os quais via apenas rapidamente, ao entrar e sair da sala de recuperação física. Quando retornou aos treinos, foi tratado como um novo jogador, apesar de já estar na terceira temporada vestindo o uniforme do time da Baviera.
Durante o tempo de recuperação, confessou o zagueiro, ele esteve absolutamente sozinho e isolado do clube. "Foram longos meses quase que exclusivamente recolhido em casa. Graças a Deus minha mulher me deu forças e esperanças, porque na verdade eu me senti derrotado, inútil e deprimido", contou.
O jogador procurou, sem muito sucesso, tirar proveito da sua pausa obrigatória e se propôs a aprender melhor o idioma alemão. Para se obrigar a falar e a entender o idioma do país em que mora, Breno passou a recusar a ajuda de amigos e conhecidos nas traduções: ia sozinho a consultas médicas e ao supermercado, onde contava com a paciência de vendedores e caixas para fazer as compras. Apesar do esforço, quando voltava para casa – onde passava a maior parte do tempo –, estava de novo num ambiente em que só se falava português.
Sucessivas lesões
De uma forma ou de outra, o brasileiro superou o longo período sem jogar e, quando finalmente voltou aos gramados, surpreendentemente conquistou uma vaga na formação titular do Bayern, com a ajuda do treinador Louis van Gaal. Mas ele novamente seria traído pela sorte: um erro dele no estádio Allianz Arena, na partida de oitavas de final da Liga dos Campeões contra a Inter de Milão, selou a eliminação do Bayern e a saída de Breno do grupo de titulares.
Breno passou a jogar esporadicamente – sua última partida foi em abril – e as lesões não pararam de aparecer. Primeiramente veio a ruptura de ligamentos, da qual nem bem tinha se recuperado e que o obrigou a novamente operar o joelho. Depois vieram problemas com o peso e uma nova intervenção cirúrgica no tornozelo.
Assim, o jogador no qual o Bayern investia para o futuro, sobre o qual o presidente do clube, Uli Hoeness, afirmava que seria um dos melhores zagueiros do mundo em pouco tempo, chegava à metade de seu contrato na Alemanha praticamente ocupado apenas com terapias de recuperação física. Na semana passada, pouco antes do incêndio em sua casa, os médicos decidiram pela necessidade de uma terceira cirurgia em seu joelho.
Futuro incerto
Uma nova passagem pela sala de operações significaria uma nova longa pausa do futebol. Por conta de suas lesões, Breno já não recebia há alguns meses o valor integral do seu salário. Seu contrato vence no meio do ano que vem e, em casos normais, um jogador com problemas físicos e poucas oportunidades de demonstrar seu talento em campo tem grandes dificuldades de renovação. Problema ainda maior considerando que ele não fala bem alemão.
Por conta do incêndio em sua residência, que promotores de Munique o acusam de ter provocado, a situação é ainda mais complicada. "Não vamos abrir mão do Breno", afirmou o Bayern por meio de declaração do presidente do clube. Por outro lado, esta é a primeira vez na história do time que um jogador em atividade é detido, e assim permanecerá por algum tempo, até que se esclareça se realmente não existe risco de fuga.
O futuro de Breno é incerto. No aspecto esportivo, ele ainda vai precisar passar por uma cirurgia e, na melhor das hipóteses, só poderá voltar a jogar em 2012. No aspecto jurídico, terá que enfrentar um processo para determinar sua responsabilidade no incêndio em sua casa. Seu estado de saúde psicológico ainda é desconhecido.
O diretor do Instituto Max Plank de Munique, Florian Holsboer, que prestou assistência psicológica a Breno depois do incêndio, fez o melhor resumo sobre a situação do jogador brasileiro: "É preciso ver o caso da seguinte forma: um jovem e talentoso jogador de futebol chega a um país estrangeiro abaixo de muitas expectativas, espera-se dele que renda o mais rapidamente possível. Mas o jovem se lesiona e já não tem oportunidade de se integrar a esse novo mundo, perde suas raízes, é isolado e, no final, coloca-se ele na prisão".
Autor: Daniel Martinez (ms)
Revisão: Alexandre Schossler