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O culto aos anos 90: tudo o que é velho volta a ser novo

Torsten Landsberg
23 de janeiro de 2023

Netflix pega uma onda de nostalgia com a recém-lançada "That '90s Show", uma sequência da série "That '70s Show". O que definiu os anos 90?

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As cinco integrantes do Spice Girls
A banda britânica Spice Girls foi um fenômeno adolescente dos anos 90Foto: United Archives/TBM/picture alliance

Os anos 90: uma década em que barriga de fora estava na moda, bandas de jovens garotos eram populares e a internet ainda estava engatinhando. Serviços de streaming sob demanda, como o Netflix, ainda eram um sonho distante. Mas a gigante da mídia está voltando seu foco para a última década do último milênio com sua nova série That '90s Show − uma sequência de That '70s show, a comédia adolescente de sucesso que foi ao ar na emissora americana Fox de 1998 a 2006.

O programa original focava em Eric e sua namorada Donna, e muitas cenas mostraram os dois fumando maconha com seus amigos no porão da casa dos pais de Eric. A série lançou as carreiras cinematográficas de Ashton Kutcher e Mila Kunis.

Flashbacks de moda

Na sequência da série, lançada em 19 de janeiro, o ano é 1996, e Leia, filha de Eric e Donna, está passando o verão com os avós. A casa deles e, portanto, o cenário da série, permaneceram inalterados − e uma nova geração de adolescentes passa o tempo no mesmo porão, fumando maconha e bebendo álcool.

Mas com a mudança geracional vem uma mudança na moda: as tendências de roupas dos anos 90 incluíam blusinhas curtas que mostravam a barriga, leggings e jeans desgastados. O programa mantém o clima nostálgico ao trazer de volta algo que já saiu de moda nas sitcoms: risadas para simular a reação de um público de estúdio que não está presente.

Claro, uma década é definida por mais do que suas modas. A década de 90 começou com uma onda de otimismo geral no Ocidente, graças à queda do Muro de Berlim, o colapso da União Soviética e, com esses eventos, o fim da Guerra Fria. Para muitos, parecia que uma nova era havia começado, uma que prometia maior liberdade, prosperidade e paz.

Pessoas sobre o Muro de Berlim
A queda do Muro de Berlim em 1989 marcou uma nova década de otimismo e prosperidadeFoto: Norbert Michalke/imageBROKER/picture alliance

Uma expressão cultural desse clima otimista foi a Love Parade, uma festa techno de rua anual que começou em Berlim em 1989 e rapidamente cresceu não apenas em tamanho, mas também em fama global ao longo dos anos 90, atraindo centenas de milhares de pessoas ansiosas por dançar e festejar pelas ruas. Apesar de sua vibração hedonista, a Love Parade era oficialmente uma manifestação política, conforme refletido em seus lemas anuais.

Ascensão de gêneros musicais

O som musical da década incluía outros gêneros também. O rap, que começou refletindo a vida dos negros nos bairros mais pobres das cidades americanas, tornou-se global. Jovens fãs de rock insatisfeitos encontraram expressão no grunge com bandas como Nirvana e Pearl Jam. Seus adeptos expressaram uma postura anti-establishment e contra o comercialismo inspirada no punk − apenas para ver sua antimoda preferida de camisas de flanela e cardigãs vintage serem apropriados novamente pelo complexo industrial da moda.

Esses dois gêneros musicais contrastavam com o que vinha da Europa na década de 90. Inspirados pelo techno, os produtores musicais deram um toque pop à dance music eletrônica, resultando no eurodance, liderado por artistas como o sueco Dr. Alban, Whigfield da Dinamarca e 2 Unlimited da Holanda. A Alemanha foi representada por Scooter, cujas faixas como Hyper Hyper e How Much is the Fish os tornaram a terceira maior exportação musical do país depois de Rammstein e Scorpions.

Baxxter Scooter
Integrantes do Scooter, grupo alemão que fez sucesso nos anos 90Foto: APress/IMAGO

Os anos 90 também foram o auge das boy bands e girl groups como New Kids on the Block, Backstreet Boys e Spice Girls. Cantores talentosos que geralmente não se conheciam de antemão foram escalados por produtores musicais ou gerentes de talentos em um único ato, muitas vezes ao longo de um reality show de TV. Em 1995, Robbie Williams irritou fãs em todo o mundo ao deixar sua boy band, a Take That. A intensa devoção que o grupo inspirou é comparável aos sentimentos dos fãs da banda de K-pop BTS − a indústria musical sul-coreana aperfeiçoou a arte de criar esse tipo de banda.

Os fãs de música abandonaram cada vez mais as fitas cassete e o outrora inovador walkman, bem como os álbuns de vinil. Ambos os formatos foram tornados obsoletos (pelo menos temporariamente) pelo CD. Era pequeno, transportável, não tão delicado quanto o vinil e a qualidade do som era melhor do que nas fitas cassete.

Mas quem naquela época poderia sonhar que um dia as pessoas seriam capazes de carregar toda a sua coleção de músicas nos bolsos? A tecnologia de streaming eventualmente substitui o CD. Mas, em uma reviravolta irônica, o desejo nostálgico reviveu o álbum de vinil antes descartado, pois pessoas muito jovens para usar CDs descobriram seu som quente e analógico.

Anos 90 no cinema

A indústria cinematográfica dos anos 90 também estava ansiosa para experimentar novas tecnologias. Em 1993, Jurassic Park, de Steven Spielberg, usou o que havia de mais moderno em efeitos especiais digitais para contar uma história sobre o lado sombrio de reviver o passado. Desde então, tornou-se uma franquia de filmes, contando com nostalgia e dinossauros cada vez mais realistas para emocionar o público.

Cena do filme JURASSIC PARK
'Jurassic Park' foi lançado em 1993, tornando-se um clássico cult e uma franquia de sucessoFoto: Universal/Everett Collection/picture alliance

Quem também emocionou o público nos anos 90 foi o diretor Quentin Tarantino, cujo Pulp Fiction, de 1994, tornou-se um cult. Parte de seu apelo veio de como ele mergulhou profundamente na nostalgia, desde a trilha sonora retrô do filme até o retorno do ex-galã John Travolta. A famosa cena de dança entre Uma Thurman e Travolta foi um aceno para as atuações do ator nos filmes de dança dos anos 1970: Os Embalos de Sábado à Noite e Grease Nos Tempos da Brilhantina.

Um novo protagonista decolou nos anos 90: Brad Pitt. Essa década lançou as bases para sua carreira global, começando com um papel pequeno, mas notável, em Thelma & Louise. Ele estrelou Entrevista com o Vampiro, Seven Os Sete Crimes Capitais e Clube da Luta. E ele continua em cena, tendo conquistado um Oscar de Melhor Ator em 2020 por Era uma vez em Hollywood, de Tarantino.

Quebrando tabus

A década de 90 também viu uma mudança na televisão, impulsionada em grande parte pelo boom da TV a cabo nos Estados Unidos e pela desregulamentação em outros países. Começando em 1998, Sex and the City acompanhou quatro amigas na cidade de Nova York enquanto elas oscilavam entre namoro, amor e sexo, que frequentemente discutido de maneiras que quebravam tabus. Essa fórmula bem-sucedida resultou em dois longas-metragens e, em 2021, na primeira temporada de uma sequência da série, And Just Like That..., que focou novamente a vida das protagonistas enquanto elas já estavam na meia-idade.

Sex and the City também era famosa por seus figurinos da moda − embora as tendências de estilo dos anos 90 não fossem totalmente novas. À medida que as tendências retrô impulsionadas pela nostalgia se replicam, temos revivals de revivals. Os anos 90 foram a década da moda inspirada nos anos 70, incluindo calças boca de sino e sapatos de plataforma. E eles estão voltando agora, junto com outras tendências dos anos 90, como grampos e borrachinhas de cabelo, e maquiagem esfumada nos olhos. Como diz o ditado, tudo o que é velho volta a ser novo novamente. Portanto, o That '90s Show da Netflix vem na hora certa.