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O dia em que elas podem tudo

Tobias Jung22 de fevereiro de 2006

O pontapé inicial do Carnaval renano é dado pelas mulheres que – na Quinta-feira das Mulheres – têm direito a tudo: elas assumem o controle da prefeitura e cortam as gravatas de quem se atreve a usá-las.

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Um dia por ano, elas podem cortar gravatas e beijar policiaisFoto: AP

A festa mais importante do ano para os foliões começa na quinta-feira antes do Carnaval, pontualmente às 11h11, na praça Alter Markt, no centro de Colônia. O carnaval da cidade é um dos mais tradicionais na Alemanha, ao lado dos de Düsseldorf e Mainz. Tanto que os dias de folia são chamados de "quinta estação do ano". A comemoração é um pouco diferente da do Brasil, já que aqui se vive sob rigoroso inverno, frio demais para a pouca roupa do brasileiro.

O que vale, portanto, é a criatividade na hora de escolher ou elaborar a fantasia. O início oficial das festividades já ocorre dia 11 de novembro (11/11), às 11h11, mas somente agora é que as festividades de rua começam.

Clown und Polizist in Köln
No Weiberfastnacht, quem manda são elasFoto: AP

Weiberfastnacht – Com uma música bem diferente do tradicional samba, o carnaval alemão possui ainda mais uma peculiaridade: no primeiro dia da festa, quem manda são as mulheres. Trata-se da Quinta-feira das Mulheres (Weiberfastnacht), que é quando elas tomam a chave da prefeitura e saem pelas ruas cortando gravatas dos homens, numa alusão à castração masculina em detrimento de sua imagem.

Esta tradição remonta à primeira metade do século 19, quando um grupo de mulheres da região de Bonn-Beuel resolveu divertir-se da mesma forma como faziam seus maridos, que as deixavam em casa, lavando a roupa e fazendo o trabalho duro, enquanto eles se embebedavam e riam à toa na cidade.

Naturalmente que as conversas pós-festividades dos maridos enfureciam as esposas, que começaram a se organizar para transformar os seus encontros e bate-papos de comadres em alegres e animadas festas, durante as quais pudessem zombar e falar mal de seus respectivos.

As primeiras manifestações de chacota que as mulheres encontraram foram apresentações teatrais, que com o tempo tornaram-se regulares. A partir disso começaram a ser formados pequenos comitês femininos, sob a liderança de uma lavadeira-mor. O primeiro deles, de 1824, existe até hoje.

Princesa das Lavadeiras

Praticamente toda criança de Bonn-Beuel conhece a música da bela Princesa das Lavadeiras, figura criada já durante a década de 50 para retratar o levante feminino de quase 200 anos antes. A primeira delas foi Barbara 1ª Tiepholt, que assumiu o posto de líder da categoria no carnaval de 1958, passando o cargo no ano seguinte para Rosemarie 1ª Kürten. A partir de então, a transmissão do título para a nova princesa sucede-se anualmente.

Karnevalsspaß
Gesto simbólico e já tradicional em ColôniaFoto: AP

"Os homens contavam que era ótimo comemorar o carnaval em Colônia e as mulheres resolveram – enquanto eles se divertiam na cidade – deixar o trabalho de lado e reunir-se para fofocar, de forma que tinham também seus momentos de alegria e diversão", relata Evi Zwiebler, Chefe das Lavadeiras de Beul e hoje integrante do primeiro comitê que reuniu as mulheres para chacotear dos maridos, criado em 1824.

Segundo Zwiebler, "as mulheres faziam dos acontecimentos cotidianos montagens teatrais, nas quais nenhum nome era mencionado, mas todas sabiam quem estava sendo representado. Naturalmente que isso era comentado na pequena vila. Os homens então começaram a pensar duas vezes se iriam ser novamente infiéis às suas mulheres ou se cairiam na farra de outra maneira. Isso trouxe, portanto, uma conquista para as mulheres."

Desenvolvimento para o que é hoje

Zwiebler também afirma que o efeito da manifestação feminina contra os homens ficou de fato forte somente após a Segunda Guerra Mundial, quando elas foram às ruas lutar contra o autoritarismo masculino. Foi durante essa época que surgiram as primeiras tomadas da prefeitura, pois nesses lugares somente os homens tinham voz. Alguns anos mais tarde surgiu a idéia da Princesa das Lavadeiras, que deveria ser "uma jovem e linda menina que fizesse a cabeça dos homens no ato de tomada da prefeitura."