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O dilema da mídia frente ao julgamento de Breivik

19 de abril de 2012

Réu confesso, norueguês autor dos atentados que levaram à morte de 77 pessoas usa mídia que acompanha seu julgamento para divulgar sua ideologia. Tarefa complexa é falar do caso sem dar espaço ao assassino.

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Foto: Reuters

Os jornais diários de todo o mundo mostraram a imagem de Anders Behring Breivik levantando o braço direito, como num cumprimento fascista, no primeiro dia de seu julgamento pela Justiça norueguesa. Alguns órgãos de imprensa preferiram usar uma fotografia neutra do assassino.

As imagens estão disponíveis por todos os lados, mesmo que uma redação ou outra decida não publicá-las, declarou o especialista em comunicação Christian Schicha à televisão alemã. Não é nenhum erro, contudo, "falar deste problema e descrevê-lo", completou.

"Comedido e restritivo"

Especialistas concordam que as reportagens sobre o julgamento em Oslo são absolutamente necessárias, uma vez que se trata de um delito de alta gravidade, motivado por uma ideologia de extrema direita. O interesse público pelo caso é enorme.

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Anders Behring Breivik no tribunal: réu confessoFoto: AP

"É um acontecimento terrível e é preciso falar a respeito. E é preciso noticiar sobre as razões que levaram essas pessoas a isso", defendeu o cientista político Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim. Funke adverte, contudo, para a necessidade de relatos comedidos e restritivos.

Alexander Filipovic, especialista em Ética da Universidade de Münster, defende por sua vez um comedimento maior: "Deveria-se deixar de lado todas as questões pessoais a respeito dele, relatando da maneira mais seca possível sobre o que é dito durante o julgamento", recomenda Filipovic. A renúncia a qualquer relato sobre Breivik conferiria um caráter de exceção ao caso, diz o especialista, já que outros casos semelhantes foram tratados pela mídia.

Evitar o assunto poderia ser ainda usado pelo réu, contribuindo para a construção de um mito em torno de sua pessoa por possíveis discípulos. Reportagens sensíveis e inseridas num contexto adequado servem, por outro lado, para provar como os princípios do Estado de Direito são também aplicados a este assassino vil. "Seria uma irresponsabilidade não relatar sobre o caso", acredita também Christian Schicha.

"Repulsa e fascínio"

Apesar disso, as críticas ao acompanhamento pela mídia são muitas. O primeiro dia de julgamento pôde ser gravado, editado e transmitido ao vivo diretamente do tribunal – algo que na Alemanha não é permitido.

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Juíza Wenche Elizabeth Arntzen, responsável pelo casoFoto: Reuters

Nos cinco dias seguintes, em que o réu foi interrogado, ficou proibido o acesso da mídia ao tribunal. Vários jornais e portais noruegueses na internet optaram por não falar sobre o assunto, em consideração às vítimas e seus parentes.

Na Alemanha, a conduta da mídia frente ao caso continua sendo alvo de críticas. Sua amplitude e forma são "dificilmente suportáveis" para Hans-Joachim Otto, vice-ministro da Economia e presidente da comissão para internet e mídia do Partido Liberal alemão. Em alguns casos, diz ele, "o foco de uma reportagem neutra sobre Breivik, embora permeado pela repulsa, não está isento de certo fascínio".

Ajudantes involuntários de Breivik?

O que acontece, segundo alguns críticos, é que as vítimas, ao contrário do algoz, são relegadas a segundo plano. A Federação Alemã dos Jornalistas lembra o código de ética da profissão, segundo o qual as reportagens sobre tragédias ou catástrofes têm que observar os limites do respeito ao sofrimento das vítimas e aos sentimentos de seus familiares.

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Homenagem às vítimas, que Breivik matou na Ilha UtoyaFoto: dapd

De acordo com o código, aqueles que já foram assolados por uma tragédia não podem se tornar vítimas por uma segunda vez em função da conduta da imprensa.

Michael Konken, presidente da Federação Alemã dos Jornalistas, declara em relação às reportagens sobre o caso Breivik: "Se os jornalistas concederem tanto espaço ao réu quanto ele deseja, os horrores e atrocidades de suas ações irão ficar em segundo plano", completa Konken. E isso não deve de forma alguma acontecer, acentua. Segundo ele, é preciso encontrar um equilíbrio entre a incumbência de informar e a obrigação de proteger as vítimas. "Os jornalistas não podem se transformar em ajudantes involuntários de Breivik", conclui.

Autor: Daphne Grathwohl (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer