O elevado risco de ser candidato no México
27 de junho de 2018"Ele era alguém que não podia aguentar a pobreza, a injustiça social e a corrupção no país", disse um dos amigos mais próximos de Fernando Ángeles Juárez. Foi por essas razões que o político de 64 anos decidira concorrer ao cargo de prefeito da pequena cidade de Ocampo, a 40 quilômetros ao norte da Cidade do México. Na quinta-feira passada (21/06), ele foi baleado e morto na porta de casa.
Três dias depois, a Polícia Federal do México prendeu todos os policiais da cidade por suspeita de participação no crime. Incidentes como esse se tornaram a norma numa campanha que pode ser descrita como a mais violenta da história democrática do México.
No próximo domingo, um presidente será eleito para substituir Enrique Peña Nieto. Ao mesmo tempo vão ocorrer eleições federais, regionais e municipais, e os candidatos municipais são os mais afetados pela violência.
O pesquisador Edgar Cortez, do Instituto Mexicano para Direitos Humanos e Democracia, explica que o crime organizado tem grande influência no nível municipal. Em contraste com o nível relativo de maturidade das instituições federais e estatais, em algumas regiões ainda vigora a figura do cacique ou coronel, um sistema oligárquico de clientelismo em que indivíduos ou famílias assumem o controle da política, da administração e da economia.
"Com o tempo, muitas dessas estruturas oligárquicas se transformaram em organizações criminosas que são financiadas por meio do tráfico de drogas e de pessoas", disse Cortez à DW. Policiais e forças locais de segurança também passaram a se envolver com essas estruturas e agora não estão dispostos a desistir dessas posições de poder.
Violência é ferramenta de campanha
Desde o início da campanha eleitoral, em setembro, ocorreram 130 assassinatos de políticos e de candidatos no México, afirma a consultoria de análise de risco Etellekt. Isso significa que, em média, uma pessoa é morta a cada três dias. Para efeito de comparação, na campanha presidencial de 2012 foram nove mortos.
Mas esse nível extraordinário de violência na campanha eleitoral mexicana se manifesta não apenas no número de assassinatos, como também na quantidade de atentados a políticos: mais de 500. Segundo o diretor da Etellekt, Rubén Salazar, 75% desses ataques foram direcionados a políticos de partidos da oposição.
"Os atos de violência são utilizados como ferramenta de campanha", disse Salazar à DW. "Muitos resultados eleitorais não são decididos nas urnas, mas com antecedência, na base de ameaças, intimidação, violência armada. O fato de a coalizão de esquerda Moreno – do promissor candidato presidencial López Obrador – estar à frente nas pesquisas também no nível municipal está causando nervosismo em muitas estruturas mafiosas locais", disse.
Nada mudará depois da eleição
"Eu acredito que a violência não vai acabar. Em última análise, isso tudo é sobre um monte de dinheiro e quotas de mercado do negócio das drogas. Então não haverá nenhuma mudança, não importa quem vença", analisa Cortez. Salazar também se mostra cético: "Esse tipo de violência vai continuar pelo menos até que os candidatos eleitos tomem posse, mas provavelmente irá além".
Mesmo depois do pleito vai permanecer a questão sobre a possibilidade de a classe política nacional e regional do México ser capaz de assumir o desafio e responder à violência desenfreada no país. Tudo para que políticos como Fernando Ángeles Juárez não tenham mais que pagar seu idealismo com a vida.
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