O futuro de Merkel em suspenso
16 de janeiro de 2018Um princípio de acordo entre os correligionários da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e os social-democratas parecia encaminhar o fim do bloqueio político na Alemanha. Mas a resistência de algumas alas do partido de Martin Schulz ameaça fazer colapsarem as negociações antes mesmo de elas se formalizarem. Quatro meses após a eleição, o futuro político de Merkel está em jogo, e o país pode ter que voltar às urnas.
Neste domingo (21/01), mais de 600 delegados do Partido Social-Democrata (SPD) devem decidir numa convenção pela abertura ou não de negociações formais para uma reedição da chamada grande coalizão – com os conservadores da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e da União Social Cristã (CSU).
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"Estou otimista de que vamos conseguir uma maioria", disse Schulz nesta segunda-feira, após apelar pelo apoio de social-democratas no estado da Renânia do Norte-Vestfália, que representará mais de um quarto dos votos na convenção do SPD.
Muitos dos membros da base do partido afirmam que o acordo alcançado entre conservadores e social-democratas na semana passada, como parte das pré-negociações, reflete muito pouco de seus objetivos e insistem que o SPD deve se reinventar na oposição.
Schulz, que se declarou contra uma nova aliança com a chanceler federal após as eleições de setembro passado, precisa agora convencer seus correligionários do contrário e viaja pelo país em busca de apoio.
No último sábado, membros da ala jovem do partido protestaram no estado de Saxônia-Anhalt contra uma reedição da grande coalizão de governo, assim chamada por reunir as duas maiores bancadas no Parlamento.
Na segunda-feira, o braço do SPD em Berlim recomendou que seus delegados votem contra o início de negociações formais com os conservadores. Os social-democratas do estado afirmam que o acordo preliminar com Merkel fez concessões demais – ao não incluir as exigências de acabar com o sistema dual público-privado de seguros de saúde no país e de aumentar os impostos para os ricos, por exemplo.
Schulz defendeu o pré-acordo, afirmando que o partido conseguiu impor uma série de pontos que visam melhorar a vida da população e que, apesar de não ter conseguido tudo o que queria, o que o SPD alcançou justifica o início de negociações formais.
Uma eventual flexibilização das condições pré-acordadas para a formação de governo deve enfrentar resistência dos conservadores da CSU, da Baviera. Seu líder, Horst Seehofer, já indicou que não imagina mudanças substanciais no pacto alcançado na fase de sondagens.
Incerteza política
Nas eleições federais de setembro, os conservadores perderam votos para os populistas de direita do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), mas o SPD teve desempenho ainda pior, obtendo seu resultado mai fraco desde 1949, com 20,5% dos votos.
O SPD declarou, então, que iria para a oposição, e Merkel recorreu aos partidos Verde e Liberal Democrático (FDP) para tentar formar uma coalizão. As negociações fracassaram em novembro, ameaçando um quarto mandato da líder da CDU como chanceler federal.
Os social-democratas querem agora evitar ficar novamente à sombra da "eterna chanceler". Muitos acreditam que o revés sofrido nas últimas eleições se deveu em grande parte a isso, e temem voltar a sair perdendo como parceiros menores de Merkel. O partido foi parceiro da união CDU/CSU durante oito dos 12 anos em que Merkel esteve no poder.
Se Schulz não conseguir convencer a maioria dos delegados do SPD a favor de uma nova aliança com os conservadores até domingo, as conversas devem fracassar, aumentando a incerteza política na maior economia da Europa.
Mesmo que os delgados do SPD aprovem negociações formais, um quarto mandato de Merkel ainda não estará garantido. Schulz prometeu submeter os termos de um eventual acordo alcançado nas negociações formais ao voto de seus 443 mil membros de seu partido, provavelmente em meados de fevereiro.
Se a nova aliança com os social-democratas fracassar, há duas opções: ou Merkel lidera um inédito governo de minoria – o que lhe deixaria a complicada tarefa de barganhar perante outras bancadas para aprovar leis –, ou a Alemanha convoca novas eleições, algo inédito.
LPF/rtr/dpa/ap
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