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O mestre das adaptações literárias

(sv)31 de março de 2004

Discípulo da Nouvelle Vague francesa e um dos principais nomes do Novo Cinema Alemão nos anos 70, o diretor Volker Schlöndorff comemora 65 anos de idade e contabiliza quase quatro décadas dedicadas à sétima arte.

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Volker Schlöndorff: 65 anos comemorados fora das telasFoto: AP

O ofício de fazer cinema, o jovem Volker Schlöndorff — nascido a 31 de março de 1939, em Wiesbaden — aprendeu longe de casa, na Paris dos anos 50. Depois de sair de um internato de jesuítas na Bretanha, Schlöndorff estudou na capital francesa Ciências Políticas e, a partir de 1959, foi assistente de direção de nomes como Louis Malle, Jean-Pierre Melville e Alain Resnais.

Neste período, aquele que se tornaria mais tarde um dos grandes nomes do cinema alemão, começava a escrever o roteiro de seu primeiro filme: O Jovem Törless, adaptação de um romance de Robert Musil, que seria finalizado em 1966 e sairia de Cannes levando o prêmio da crítica internacional.

Outsiders no centro

Este primeiro longa, cuja rigidez formal da fotografia em preto-e-branco corresponde ao tom de crítica social, já deixava transparecer vários dos temas que se repetiriam na obra do diretor: a predileção por figuras outsiders, pelos mais fracos e, de alguma forma, marginalizados pelo establishment.

Nove anos mais tarde, em 1975, Schlöndorfft se tornaria conhecido do grande público através do sucesso de A Honra Perdida de Katharina Blum, baseado no romance homônimo do escritor Heinrich Böll. Com roteiro escrito a quatro mãos ao lado de sua então mulher, a atriz e cineasta Margarethe von Trotta, o filme discute a emancipação feminina no contexto político da sociedade alemã da década de 70.

Levando à tela a imprensa sensasionalista e a polícia como instrumentos de repressão, o filme fez com que Schlöndorff fosse acusado pela imprensa marrom de ser um aliado da Fração do Exército Vermelho (RAF). Fora do país, A Honra Perdida de Katharina Blum recebeu vários prêmios.

Um ano mais tarde, Schlöndorff colocaria novamente uma figura feminina como centro da narrativa em Tiro de Misericórdia: uma nova adaptação literária, desta vez de um romance de Marguerite Yourcenar, retomando esteticamente o preto-e-branco de O Jovem Törless, rodado mais de uma década antes.

Pause beim Dreh der "Blechtrommel"
«O Tambor», de 1979Foto: dpa

Direções coletivas

Entre fins da década de 70 e início dos anos 80, Schlöndorff participou de algumas direções coletivas (como Alemanha no Outono, de 1978), ao lado de, entre outros, Rainer Werner Fassbinder e Alexander Kluge.

Em maio de 1979, estrearia o longo que viria a consagrar o nome de Schlöndorff nos anais cinematográficos de todo o mundo. O Tambor, adaptado do romance de Günter Grass e premiado com a Palma de Ouro e Cannes e com o Oscar de melhor filme estrangeiro, viria a se tornar um dos filmes mais vistos na Alemanha do pós-guerra.

Paris e Nova York

Na década seguinte, Schlöndorff voltou a viver em Paris, onde se dedicou, entre outros, à adaptação de Um Amor de Swann (1984), parte do primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. A reconstrução da Paris da virada do século 19 para o 20, retratada através de um elenco recheado de astros e estrelas (Ornella Mutti e Alain Delon, entre outros), recebeu na história do cinema apenas o registro pálido de um roteiro que muito deixa a desejar.

Em meados dos anos 80, Schlöndorff passou a viver em Nova York, onde se dedicou a alguns longas e algumas produções para TV sem maior destaque de crítica e público, até realizar um de seus grandes projetos pessoais: Homo Faber (1991), adaptação do romance homônimo de Max Frisch. Um ano mais tarde, Schlöndorff voltaria à Alemanha, assumindo uma incumbência nada fácil: a de reformular os Estúdios Babelsberg, nos arredores de Berlim. A tarefa burocrática ocuparia o diretor até meados de 1997.

Terrorismo e Alemanha Oriental

Três anos depois, em 2000, O silêncio depois do tiro é um retrato histórico das mazelas do regime comunista da ex-Alemanha Oriental e dos resquícios deixados pelo terrorismo da RAF (Fração do Exército Vermelho) e a repressão a ele na vida privada de uma ex-gerrilheira e, por analogia, na história do país.

As duas protagonistas, Bibiana Beglau e Nadja Uhl, deixaram o festival de Berlim — o primeiro a acontecer nos novos cenários modernosamente reconstruídos da Potsdamer Platz – com ursos de prata nas mãos pela atuação no filme.

"Falta de estilo"

Chamado certa vez pelo semanário Die Zeit como “um diretor sem estilo”, não pela ausência de apuro estético de seus filmes, mas em função da enorme diversidade de recursos que vão e vêm em sua filmografia, Schlöndorff afirma ser, além de “filho” dos mestres franceses, um admirador confesso de Fritz Lang, Ernst Lubitsch e Billy Wilder.

Uma análise de sua obra não provoca uma reação de continuidade estética, mas a sensação de que seus filmes passeiam por caminhos que vão do formalismo em preto-e-branco do Jovem Törless à mistura de cores de parte de sua filmografia.

Longe da tela, Schlöndorff dedicou-se várias vezes ao palco, na maioria das vezes ao encenar óperas, espécies de “totais” sem câmera, mas “respeitando as mesmas regras que o cinema”. Ao levar Enigma ao palco do Renaissance Theater em Berlim, o diretor desabafou sua desilusão com a sétima arte, em entrevista ao diário Der Tagesspiegel: “Hoje, é impossível fazer na Alemanha um filme decente. E antes que eu venda minha alma à televisão, prefiro trabalhar com teatro ou ópera”.