O nó que o Brasil quer desatar em Paris
7 de dezembro de 2015A Conferência do Clima talvez seja o único espaço em que os países ricos buscam negociar em pé de igualdade com os mais pobres. Essa “busca por igualdade” se opõe a um dos princípios da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), que estabeleceu desde sua criação, em 1992, a necessidade da diferenciação. Esse embate pode colocar as negociações em Paris, na COP21, a perder.
Para que o acordo mundial que limita as emissões de gases estufa saia até a próxima sexta-feira, todos os 195 países precisam enxergar da mesma forma os seus papéis nesse drama global. E, para desatar esse nó, a COP21 elegeu Brasil e Cingapura como facilitadores para ajudar os franceses nessa difícil tarefa.
O time, liderado por Izabella Teixeira, ministra de Meio Ambiente, e Vivian Balakrishnan, ministra de Relações Exteriores de Cingapura, está diante de um dos maiores desafios dessa conferência, e representantes de outros países concordam.
“A diferenciação é parte importante da negociação e tem sido assim por muito tempo”, afirmou Ernest Moniz, secretário americano de Energia, à DW Brasil. “Estamos procurando um jeito de reconhecer os diferentes estágios de desenvolvimentos dos diferentes países. Nós insistimos que não é uma questão estática.”
O peso de ser emergente
Como os Estados Unidos, a maior parte dos países desenvolvidos acredita que a responsabilidade de salvar o planeta aumenta à medida que a economia de uma determinada nação avança. Para crescer, os países normalmente consomem mais energia em suas fábricas, comércios e casas, o que aumenta as emissões. A China é um caso clássico.
Por outro lado, as economias mais tradicionais têm poluído a atmosfera há séculos, e seriam as responsáveis históricas pelo aquecimento global. A contribuição histórica teria que ser levada em conta: “Acreditamos a economia se desenvolve e com ela também as responsabilidades mudam”, rebate Moniz.
Laurent Fabius, presidente da COP21, reconhece que deu uma missão complicada ao Brasil. “É um trabalho difícil”, disse durante a plenária na noite desta segunda-feira (07/12), numa declaração que reflete o quão rígido é pacto que Paris quer anunciar.
“Diferenciação é um tema que aparece em várias áreas do acordo. Na área de financiamento, diz respeito a quem deve pagar mais a conta; na área de transparência é sobre o peso que o monitoramento e avaliação (das promessas de corte de emissão) terão para os ricos e pobres”, comenta Pedro Telles, do Greenpeace, que tem acesso às reuniões.
A luta continua
Os governos de países emergentes e em desenvolvimento não querem ser tratados como iguais, e esperam mais comprometimento dos mais ricos. “Quanto à questão de finança, existe um entendimento geral de que ricos têm que continuar na liderança para providenciar recurso para os mais pobres”, disse Luiz Alberto Figueiredo durante a sessão plenária que apresentou os resultados parciais.
A equipe brasileira deve continuar o trabalho para desatar o nós até a próxima quinta-feira. “O Brasil é um mediador, bom facilitador. Mas a missão é desafiadora”, comenta Telles.
Os apelos para que os países se entendam e assinem um acordo global para barrar o aumento da temperatura global vêm de todos os lados. Ban Ki-moon reapareceu na COP21 pra dizer que “sete mil pessoas querem saber se vocês, líderes globais, defendem o interesse de todos eles e suas crianças.”
Até Arnold Schwarznegger, ex-governador da Califórnia pediu pressa. Em Paris, a estrela de Exterminador do Futuro pediu que os governos tomem decisões imediatas para que a mudança comece hoje, e não apenas em 2050 ou 2100.