O novo número 1 do tênis alemão
24 de janeiro de 2003Ao chegar à decisão do Aberto da Austrália, após derrotar o americano Andy Roddick, Rainer Schüttler entrou para o seleto grupo dos tenistas alemães que chegaram à final de um torneio do Grand Slam. Até hoje, somente cinco tinham conseguido a façanha: Gottfried von Cramm (sete finais, dois títulos, entre 1934 e 1937), Henner Henkel (uma final, um título, em 1937), Wilhelm Bungert (uma final, em 1967), Boris Becker (dez finais, seis títulos, de 1985 a 1996) e Michael Stich (três finais, um título, de 1991 a 1996).
A última final com um alemão foi em Roland Garros, em 1996, mas Stich acabou derrotado por Ievgueni Kafelnikov. Quatro meses antes, Becker comemorara a até hoje derradeira conquista de um Grand Slam. Por coincidência, também o Australian Open.
De zebra a finalista
Antes do primeiro saque este ano na Austrália, poucos apostavam que Schüttler poderia entrar neste time. Nem ele próprio. "Se alguém dissesse isto, eu diria que o cara estava de gozação", afirma o tenista. Campeão de Wimbledon em 1991, Stich garante que sempre considerou a possibilidade. "E acredito que ele pode ir ainda mais longe", declara. O veterano John McEnroe concorda e compara Schüttler ao sueco Thomas Johansson, que no ano passado igualmente surpreendeu ao vencer em Melbourne.
Ao enfrentar seu terceiro adversário americano no Aberto no domingo (André Agassi), o alemão certamente já não é mais um desconhecido do público. "Meus leitores irão se perguntar: pelos diabos, quem é Rainer Schüttler?", confessou um jornalista dos EUA quando o novo número 1 da Alemanha derrotou James Blake nas oitavas-de-final em Melbourne.
O alemão de 26 anos começou o Australian Open na 36º colocação do ranking mundial de entradas da ATP, a associação mundial dos tenistas profissionais, que divulgará a nova ordem na próxima segunda-feira. Após seis vitórias no Aberto, Schüttler deverá saltar para um lugar entre os dez primeiros. Atualmente, o conterrâneo Thomas Haas ocupa a 11ª posição, mas, com o ombro récem-operado, Tommy não jogou ainda sequer uma partida nesta temporada e deve perder vários postos ao fim do Aberto. Há dois anos, ele é o melhor alemão do ranking. Mas nunca chegou à final de um torneio do Grand Slam.
Preferência pelo futebol
Assim como Stich, Rainer Schüttler optou tarde pela carreira de tenista, embora a oportunidade lhe tenha aparecido já aos 14 anos. Nascido em Korbach, até então conhecida por ser um centro de boxe no Estado de Hessen, o adolescente recebeu em 1991 o primeiro telefonema de seu atual treinador. Dirk Hordorff queria convidá-lo para um campeonato regional. Mas a idéia ter de pegar o trem para ir ao torneio o fez declinar da chance.
Além disso, o menino torcedor do Borussia Dortmund gostava muito mais de jogar futebol. E muitos creditam a isto o seu rápido jogo de pernas nas quadras de tênis. Somente após terminar o ensino médio, Schüttler decidiu adiar seus planos de estudar administração de empresas e dedicar-se ao esporte.
Ascensão constante no ranking
Em seus oito anos como tenista profissional, o alemão sempre conseguiu terminar as temporadas melhor colocado no ranking mundial – um recorde na ATP! Em 1999, o alemão surpreendeu ao vencer o torneio de Doha, no qual sempre tem se saído bem. Dois anos depois, ganhou o de Xangai. Ainda em 2001, disputou as finais de Hong Kong e São Petersburgo. No ano passado, chegou à semifinal de Indianápolis e conquistou o título de Munique.
Com mais de dois milhões de dólares arrecadados em prêmios e praticante de esqui como hobby, Schüttler mora há três anos em Altstätten, na Suíça. Garante que não é para fugir do fisco alemão, mas porque lá vivem alguns amigos, tenistas como ele. O finalista da Austrália admite que o ambiente do circuito da ATP o faz às vezes perder a noção da realidade. "Quando se vai aos grandes torneios, fica-se num mundo de sonhos. Dorme-se nos melhores hotéis, tem-se todos os pedidos atendidos", diz o tenista, cujos pés voltam ao chão puxados pelo treinador Hordoff.
O fim já em vista
Embora ainda esteja em ascensão, Schüttler já faz planos de encerrar a carreira e matricular-se numa escola internacional de Economia. Mas isto apenas em 2008, após os Jogos Olímpicos de Pequim, quando terá 32 anos. O técnico acredita que seu pupilo terá condições físicas de manter-se no circuito até lá. Hordoff: "Quando alguém começa tarde, pode jogar mais tempo." Além disso, ele não dependerá de trem para ir à capital chinesa.