O outro Borussia está chegando
11 de dezembro de 2018O primeiro turno da Bundesliga se aproxima do seu final, e uma das boas surpresas da temporada é o "outro" Borussia, aquele da cidade de Mönchengladbach, 16 km a oeste do Rio Reno, próxima à fronteira com a Holanda.
O time faz uma campanha consistente, é vice-líder a sete pontos do seu xará de Dortmund e dois, pasmem, à frente do Bayern. Sua torcida já começou a sonhar com voos mais altos, e a velha guarda se lembra com saudades dos anos 70, quando o Gladbach encarava de igual para igual o já todo poderoso clube de Munique.
Quando a Bundesliga foi fundada, em 1963, nem o Borussia Mönchengladbach, nem o Bayern Munique, fizeram parte dos clubes fundadores porque estavam mal posicionados nas suas respectivas ligas regionais. Apenas dois anos mais tarde, os dois conseguiram subir para o futebol de elite, graças ao seu desempenho nas ligas inferiores, na época equivalentes à atual segunda divisão.
Foi exatamente neste tempo que começou a lendária trajetória do Gladbach, e ela iria se estender até o final da década de 70.
O seu comandante era Hennes Weisweiler, um técnico revolucionário para a época, que priorizava o talento individual em detrimento do jogo coletivo robusto, então em voga nos campos alemães.
Weisweiler privilegiava também a ascensão de jovens valores ao time titular. A média de idade do elenco era de apenas 21,5 anos, dando origem ao apelido da equipe que perdura até hoje. O jornalista Wilhelm Hurtmann, numa de suas colunas semanais no jornal Rheinische Post, comparou os comandados de Weisweiler a potrinhos selvagens que desnorteavam os adversários por sua velocidade e seu talento. O apelido pegou e permanece até hoje.
Um destes potrinhos chamava-se Jupp Heynckes, talentoso ponta direita que alguns anos mais tarde se tornaria campeão mundial pela Alemanha em 1974. Na mesma época, despontou outra estrela: Günter Netzer, um meio campista cerebral, também protagonista daquela "Nationalelf" do começo dos anos 70 que muitos consideram até hoje como tendo sido a melhor seleção alemã de todos os tempos.
Dos 11 títulos que o Borussia M'Gladbach venceu, nove foram conquistados na década de 70: cinco vezes campeão da Bundesliga (70, 71, 75, 76 e 77), três vezes campeão da Copa da Alemanha (60, 73 e 95), duas vezes campeão da Copa da Uefa (75,79) e uma vez da Supercopa da Alemanha (77).
É com esta época dourada que o "torcedor raiz" começa a sonhar novamente. Teria motivos para tanto? Os torcedores mais realistas dirão: menos, menos. Mas, como sonhar é de graça, vale tudo nessa hora da paixão pelo seu time querido.
O fato é que os potros fazem uma boa campanha na Bundesliga. Passadas 14 rodadas, ainda não perderam em casa: sete jogos, sete vitórias, 21 gols marcados, três sofridos. É o único time que ostenta um aproveitamento de 100% jogando no seu estádio.
Quando o assunto é seleção da rodada, o Gladbach aparece com oito jogadores que já foram nomeados pelo menos uma vez. O zagueiro Ginter e os meia atacantes Hazard e Hoffmann já integraram a seleção da rodada em três oportunidades. Sem contar o talentoso atacante francês Plea, "convocado” duas vezes. Neste quesito, o Gladbach só perde para o seu xará de Dortmund, que tem 21 nomeações.
No quesito "scorer (artilheiro + "garçom"), os comandados do técnico Dieter Hecking mais uma vez só ficam atrás dos aurinegros de Lucien Favre.
Entre os dez "scorers" mais eficientes da temporada três são do Borussia Dortmund: Reus, Alcácer e Sancho, ao todo com 24 gols e 16 assistências. Já os "scorers” do Borussia Mönchengladbach (Hazard, Plea e Hoffmann), somam um pouco menos: 21 gols e 12 assistências. Nada mal, para uma equipe que na temporada passada acabou ficando num modesto nono lugar e agora almeja ao menos uma vaga na Liga dos Campeões da próxima temporada.
Faltam apenas três rodadas para o encerramento do primeiro turno do Campeonato Alemão. Os compromissos dos potros não serão fáceis, especialmente aqueles fora de casa. Apenas um no seu belo Borussia Park contra o Nurembergue. E dois fora: Hoffenheim e Dortmund na última rodada.
Só que o quesito "fora de casa" é o calcanhar de Aquiles do Gladbach. Até agora foram apenas duas vitórias, dois empates e três (!) derrotas. Fica a pulga atrás da orelha do torcedor mais apaixonado que se pergunta: será que poderemos continuar alimentando o nosso sonho por melhores tempos depois de termos enfrentado o nosso xará em Dortmund?
Por enquanto, talvez a melhor resposta seja: aguarde mais um pouco porque o tempo costuma ser o Senhor da razão.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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