Fronteira interalemã
9 de novembro de 2006DW-WORLD: Por quanto tempo você esteve lotado no Ponto Alpha?
Steven Steininger: Ninguém nunca ficava muito tempo lá. Era uma posição temporária onde as pessoas permaneciam de duas a seis semanas. Estive lá diversas vezes como comandante da companhia de 1987 a 1990.
Por que os Estados Unidos fundaram o Ponto Alpha?
Havia vários acampamentos militares na fronteira, mas o Ponto de Observação Alpha era provavelmente o mais famoso, porque era a entrada para o Fulda Gap, um dos tradicionais acessos de ligação entre o Leste e o Oeste da Europa. Se você conseguisse atravessar as montanhas do Röhn, então poderia chegar a lugares como Frankfurt e poderia se mover rapidamente na rodovia através de vales largos e abertos.
Quantas pessoas estavam no Ponto Alpha?
Era preciso 40 pessoas para percorrer a fronteira daquele acampamento militar. Havia sempre duas pessoas na torre observando, patrulhas de solo, em jipes e montadas. Ocasionalmente, podíamos ter patrulhamento aéreo em helicópteros.
Você teve contato com alemães?
Nós coordenávamos nosso trabalho com a alfândega e a Guarda da Fronteira da Alemanha Ocidental. Estávamos todos juntos no mesmo barco. Quando surgia uma oportunidade, nós nos descontraíamos e nos divertíamos juntos. Era um pequena equipe de irmãos.
Como era servir lá?
Geralmente, não víamos nossas famílias. Não tínhamos uma vida normal quando estávamos na fronteira. Estávamos lá realmente do início ao fim – nem sempre trabalhando, mas não saíamos. Celebrávamos aniversários, Natal e Páscoa. Fazíamos disso o melhor. Era sempre um tempo muito estressante, porque se estávamos lá, tínhamos que fazer tudo com perfeição. Não havia tolerância para erros, porque o outro lado estava sempre observando. Havia um conjunto de regras que os dois lados, as forças do lado Oeste e as do Pacto de Varsóvia, tinham acordado e tínhamos que cumprir.
Que tipo de regras?
Você não podia atravessar a fronteira. Tinha que ser muito profissional, muito respeitoso, muito disciplinado. Seríamos inspecionados várias vezes por nossos superiores do quartel e se não passássemos nas inspeções, poderia ser muito prejudicial às nossas carreiras. Enquanto você estivesse patrulhando a fronteira, era difícil relaxar e se divertir. Era uma das missões mais difíceis da qual um soldado normal podia participar e deixava muito claro por que estávamos lá. Podíamos ver as diferenças entre o Leste e o Ocidente e verdadeiramente sabíamos que estávamos no fim da fronteira da liberdade.
Você se lembra de alguma situação de tensão?
Em 1988, uma patrulha de solo adentrou a Alemanha Oriental. Por sorte, ninguém foi detido, mas foi uma situação muito difícil. Outra situação aconteceu atrás da trincheira atual. As patrulhas e observadores da Alemanha Oriental tinham cães, minas, explosivos por todos os lados até o limite da floresta e barreiras secundárias. Lembro de algumas noites quando chamas e explosões foram disparadas em alguns pontos da floresta. Acho que nunca descobrimos o que aconteceu. Mas nos causou grande estresse. Era o medo do desconhecido.
Você estava lá depois da queda da Cortina de Ferro. Como foi?
A reação imediata foi: "Sim, obtivemos sucesso em nossa missão, que era defender a liberdade". A antiga Alemanha Oriental entrou em colapso; a antiga Alemanha Ocidental obteve sucesso em permanecer um país viável e forte. Ficamos muitos felizes e emocionalmente aliviados. Mas, depois que a emoção passou, começamos a nos perguntar: "Para onde vamos agora?" Em novembro de 1989 vivemos em alto estresse. Nunca estivemos certos do que estaria por acontecer até que acontecesse. Você sempre pensava: "As pessoas serão pacíficas ou você terá que fazer algo?" Eu estava lá quando a fronteira de Rasdorf, cidade vizinha da Alemanha Ocidental, foi aberta, o que foi muito tocante. Continuamos a patrulhar a fronteira até março de 1990. Então, paramos todas as patrulhas e começamos a fechar o local.
Você ainda está na Alemanha. Como isso aconteceu?
Quando me aposentei do serviço militar, recebi a oferta de um emprego civil com o exército norte-americano em Mainz e decidi ficar por mais alguns anos. Gosto da Alemanha. Aqui as pessoas conseguem pronunciar meu sobrenome direito.