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O paradoxo do progresso

3 de outubro de 2018

Pode parecer contraditório, mas a polarização da sociedade é resultado da melhora dos padrões de vida no Brasil ao longo das últimas décadas, escreve a colunista Astrid Prange.

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Solidariedade em vez de polarização, diz cartaz de protesto em Hamburgo
Solidariedade em vez de polarização, diz cartaz de protesto em HamburgoFoto: picture-alliance/dpa/B. Marks

Caros Brasileiros, de onde vem a polarização que todo mundo sente? Hoje, no dia da unidade alemã (03/10), descobri uma nova explicação que eu queria compartilhar com vocês nesses tempos tensos, poucos dias antes das eleições no Brasil.

A inspiração vem de um livro com o título O paradoxo da integração. O autor, Aladin El Mafaalani, é filho de imigrantes árabes, sociólogo, economista e professor de ciências políticas. A atual polarização política na Alemanha para ele é o resultado de uma integração bem sucedida de imigrantes.

Parece bastante contraditório, mas a conclusão de Mafaalani é: mais progresso, mais polarização.

"Enquanto mulheres imigrantes faziam limpeza, ninguém ligava para o véu ou o lenço na cabeça delas", disse ele. "Mas quando elas começaram a fazer faculdade e subir na escada social, os conflitos surgiram."

As estatísticas sustentam essa tese: o nível de educação da geração jovem de imigrantes na Alemanha melhorou significativamente. Em 2005, somente 14 % desse grupo conseguiu um diploma universitário. Em 2016, a taxa subiu para 26%. No mesmo período, o desemprego entre todos imigrantes na Alemanha diminuiu: caiu de 18% para 7%. 

Astrid Prange, jornalista da DW
A colunista Astrid Prange foi correspondente no BrasilFoto: DW/P. Böll

Ao meu ver, a tese de Mafaalani serviria também para explicar a polarização da sociedade no Brasil. Pois nos últimos 25 anos, milhões de brasileiros humildes conseguiram ascender socialmente. Ao passo que o combate à pobreza no Brasil é reconhecido pela comunidade internacional, internamente a avaliação é divida. Enquanto a maioria festeja o progresso, uma parte da sociedade se sente até ameaçada.

Isso provocou uma reação contrária: contra cotas para negros nas universidades, contra a legislação do emprego doméstico, contra o PT. E inveja também. Inveja dos novos atores na sociedade, que queriam mudar a maneira tradicional de governar o país, que queriam ser ouvidos e respeitados.

Mas qual seria a resposta para esse paradoxo do progresso? Seria então melhor não lutar mais por justiça social, direitos de minorias, emancipação da mulher, integração de refugiados ou proteção ao meio ambiente?

A resposta é definitivamente não. Pois é melhor conviver com o paradoxo do progresso do que com o retrocesso. E mais importante ainda: apesar dos avanços no campo da integração e inclusão social, ainda tem muito o que melhorar.

O medo que os movimentos populistas continuem avançando é real. Na Alemanha, o partido de direita "Alternativa para a Alemanha" (AfD) alcançou 18 % nas últimas pesquisas eleitorais. No Brasil, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL)  alcançou 32% das intenções de voto.

A ideia de voltar para "os bons tempos de antigamente" parece sedutora. Na realidade, essa viagem é uma ilusão. Pois, afinal, qual passado teria sido melhor? O tempo da ditadura militar no Brasil? O "Estado Novo" de Getúlio Vargas? E na Alemanha, a extinta República Democrata Alemã? A ditadura do Nazismo?

Em vez de glorificar um passado não definido, o desafio é desenvolver e discutir ideias para o futuro. Pois a globalização não vai ficar mais humana se for combatida com populismo, protecionismo ou nacionalismo. E a criminalidade não vai se dissolver com tanques de guerra nas favelas. E a imigração para os Estados Unidos não vai parar com o muro de Trump. Muros serão derrubados, ensina a reunificação alemã.

Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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