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O peso dos indecisos

29 de setembro de 2018

Entre 15% e 18% dos brasileiros ainda não definiram o voto para presidente. São esses eleitores que os candidatos mais têm chance de ganhar agora – e são eles que, teoricamente, ainda podem mudar o cenário eleitoral.

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Symbolbild Wahlen in Brasilien
Foto: Agencia Brasil/J. Cruz

Quem são os indecisos, o que querem e como conquistá-los? Pode parecer um clichê em reta final de campanha, mas as respostas para essas perguntas podem colocar e tirar candidatos à Presidência do segundo turno – ou até definir o pleito já no dia 7 de outubro. De acordo com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope, entre 15% e 18% da população que vai às urnas no próximo domingo ainda não definiu o voto.

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O percentual sem candidato diminui a cada pesquisa feita, mas ainda é alto – e são essas pessoas que devem ser o principal alvo de políticos na última semana de campanha. De acordo com as pesquisas, esse eleitor tende a ser mulher de meia idade, com baixa escolaridade, renda familiar de até um salário mínimo e mora na periferia ou interior das regiões Norte e Centro-Oeste do país, áreas que recebem menos visitas de presidenciáveis do que Sudeste e Nordeste, maiores colégios eleitorais do Brasil.

O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Lucio Remuzat Rennó Junior avalia a dificuldade de alcançar os indecisos por eles não serem um grupo homogêneo.

"O público indeciso pode sê-lo por vários motivos: dúvida entre candidatos, ambivalência acerca de um político ou incerteza sobre propostas. Há ainda as pessoas indiferentes à política, não há um discurso que as motive. Elas vão se abster ou votar seguindo a opinião de alguém. Nesses casos não há uma responsabilidade do candidato em motivá-las. Mas, em uma eleição onde a abstenção pode ser relevante, seria prudente tentar mobilizar esse público", afirma Rennó.

Às vésperas do primeiro turno em 2014, o índice de brancos, nulos e indecisos girava em torno de 10% nas pesquisas dos principais institutos. A expectativa de este ano ser ainda maior pode ter explicação na descrença da população com a política após tantos casos de corrupção e numa campanha que tem mais polêmicas do que propostas sendo apresentadas.

"A radicalização dos discursos ajuda nessa rejeição do eleitor aos candidatos. Há um descrédito com a política por conta da corrupção que está quase todos os dias nos jornais. O eleitor não acredita no sistema político", analisa Sérgio Praça, professor e cientista político do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da FGV.

Os indecisos hoje poderiam colocar até a quinta colocada nas pesquisas, Marina Silva, no segundo turno. Sobre a possibilidade de uma reviravolta na reta final, como em 2014 quando a própria Marina Silva foi ultrapassada por Aécio Neves poucos dias antes do primeiro turno, de acordo com as pesquisas, Praça afirma ser "improvável, mas não impossível".

Rennó também acredita em uma volatilidade do eleitor, que para ele se concentra justamente nos indecisos. Candidatos que lideram as pesquisas, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, têm eleitores mais fiéis, de acordo com as pesquisas. Por isso, o professor da UnB aposta que o foco da campanha deve ser nos indecisos nessa reta final.

"Há bastante volatilidade eleitoral no Brasil, mas ela é principalmente de convencimento de indecisos do que de conversão de eleitores entre candidatos. Assim, apostar em 'roubar' eleitores é uma aposta de alto risco", diz Rennó.

No Ibope, o mês de setembro começou com 21% de brancos e nulos, além de 7% de indecisos. Na pesquisa divulgada no dia 26, os brancos e nulos foram a 11%, sem alteração nos indecisos. A diminuição de brancos e nulos ocorreu na mesma época da subida de Fernando Haddad nas pesquisas, que se afastou do terceiro colocado, Ciro Gomes. Rennó comenta que esse público estava aguardando uma definição do PT.

"Haddad cresce pela transferência de votos de Lula. Esses indecisos o eram porque não sabiam quem era o candidato de Lula. Quando souberam, migraram. Era um indeciso apenas na ausência de Lula", afirma Rennó.

A campanha mais curta, reduzida a 45 dias, não pode ser considerada um fator que contribui para o alto índice de indecisos, de acordo com o professor Sérgio Praça. Para ele, o tom da campanha seria o mesmo.

"Não acredito que uma campanha maior mudaria algo na campanha à Presidência da República. Mesmo que tivéssemos 45 dias a mais, não vejo candidatos trazendo algo novo. Talvez o tempo curto tenha prejudicado apenas candidatos ao Legislativo", diz Praça.

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