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O que é o Dia em Memória das Vítimas do Holocausto

Andrea Grunau
27 de janeiro de 2024

Libertação do campo de Auschwitz, em 1945, inspirou a ONU a estabelecer o 27 de Janeiro como data internacional para recordar o assassinato de milhões de judeus e outras minorias pela Alemanha nazista.

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Mural de fotos de vítimas do Holocausto no campo de Auschwitz-Birkenau
Mural no campo de Auschwitz-Birkenau: centenas de fotos e destinos são apenas uma fração do horror do HolocaustoFoto: Andrea Grunau/DW

Em novembro de 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) declarou o 27 de janeiro Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. A Resolução 60/7 diz que o extermínio de "um terço do povo judaico, assim como de incontáveis membros de outras minorias, servirá, por todos os tempos, a todos os seres humanos, como advertência para os perigos do ódio, da intolerância, do racismo e do preconceito".

A Alemanha e outros países já haviam adotado antes essa data memorial. Em 27 janeiro de 2006, quando ela foi lembrada pela primeira vez a nível internacional, o secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan advertiu: "A tragédia ímpar do Holocausto não pode ser anulada. A lembrança dela deve ser mantida viva com vergonha e horror, enquanto dure a memória humana."

Por que 27 de janeiro

Em 27 de janeiro de 1945 o Exército Vermelho da União Soviética libertou o campo nazista de concentração e extermínio Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Os soldados encontraram poucos sobreviventes, as ruínas de câmaras de gás, além de mortos e as cinzas dos assassinados.

Só em Auschwitz, foram 1,1 milhão de vítimas, cerca de 90% delas de origem judaica. E esse era apenas um entre os numerosos centros de internação e homicídio em massa instituídos na Europa pela Alemanha comandada por Adolf Hitler.

Foto de jovens presos do campo de concentração de Auschwitz atrás de cerca de arame farpado
Crueldade, arame farpado, morte: o dia a dia no campo de concentração de AuschwitzFoto: DW/A. Grunau

Até o fim da Segunda Guerra Mundial, o terror nacional-socialista matou 6 milhões de judeus, centenas de milhares de ciganos sinti e rom, portadores de deficiências, dissidentes políticos, homossexuais, indivíduos arbitrariamente declarados "criminosos" ou "antissociais", trabalhadores forçados, prisioneiros de guerra, testemunhas de Jeová e outros grupos.

Kofi Annan enfatizou: "Recordar também é uma garantia para o futuro. O abismo a que se chegou nos campos de extermínio dos nazistas começou com ódio, preconceito e antissemitismo. A lembrança dessas origens pode nos manter sempre alertas aos sinais de advertência."

O 27 de Janeiro é uma exortação a todos os Estados-membros da ONU para que recordem os homens, mulheres e crianças perseguidos e assassinados. A Resolução 60/7 rejeita toda forma de negação, incentiva a criação de programas educativos pela memória do Holocausto, e presta um contributo para que se evitem genocídios futuros.

Evocando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ela condena todas as formas de "intolerância religiosa, instigação, coação ou violência contra pessoas ou comunidades a partir em sua origem étnica ou convicção religiosa", em todo o mundo.

Carros parados no dia memorial do Holocausto de Israel, Yom HaShoá
No Yom HaShoá a vida para por alguns minutos em IsraelFoto: Tomer Neuberg/JINI/Xinhua/IMAGO

Yom HaShoá em Israel

O termo "Holocausto", adotado internacionalmente, é de origem grega, significando "totalmente incinerado". No contexto bíblico, a palavra aludia ao sacríficio pelo fogo– razão pela qual o uso dela para designar o crime nazista foi bastante controverso. 

Em Israel, fala-se de Shoah, a "catástrofe": lá, o dia comemorativo central não é o 27 de Janeiro, mas o Yom HaShoa, que em geral cai em abril. Durante dois minutos, sirenes soam em todo o país; ônibus, carros, todos param; a população silencia e homenageia as vítimas.

O Dia da Memória da Shoah e do Heroísmo Judaico foi criado em 1951, mas só oito anos mais tarde regulamentado legalmente. Ele transcorre no mês Nisan do calendário hebraico, e lembra a revolta do Gueto de Varsóvia, em abril de 1943.

Seguindo a tradição judaica, o dia da lembrança começa na noite da véspera. Durante as festividades acendem-se seis tochas, simbolizando os 6 milhões de judeus mortos. Pela manhã realizam-se outros eventos no sítio memorial Yad Vashem, em Jerusalém.

Na Polônia, é tradição uma marcha de homenagem entre o campo de prisioneiros de guerra de Auschwitz e o campo de extermínio Auschwitz-Birkenau, a cerca de três quilômetros de distância, palco da maioria dos assassinatos. Dessa "Marcha dos Vivos" costumam participar milhares de jovens judeus e judias.

Dia memorial do Holocausto na Alemanha

Após o fim da Segunda Guerra e a vitória dos Aliados sobre a Alemanha de Hitler, demorou ainda meio século até o país designar uma data em recordação do Holocausto: só em 1996 o então presidente Roman Herzog declarou o 27 de Janeiro Dia em Memória das Vítimas do Nacional-Socialismo.

Nele, as bandeiras são erguidas a meio-mastro em todos os prédios públicos do país. Muitas escolas abordam o tema em classe. Além disso, no próprio dia ou numa data próxima, o Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) dedica uma sessão às vítimas do nazismo.

Presidente do parlamento israelense Mickey Levy chora durante discurso no Bundestag em 27/01/2022
"Nunca mais! Nunca mais!": presidente do parlamento israelense Mickey Levy pronunciou um discurso tocante no Bundestag em 2022Foto: STEFANIE LOOS/AFP

Nos primeiros anos foram principalmente políticos alemães a pronunciar o discurso comemorativo, porém nesse ínterim também numerosos sobreviventes do Holocausto e políticos estrangeiros – de Israel, Estados Unidos, França, Espanha, Holanda, República Tcheca, Hungria, Rússia ou Reino Unido – vieram falar perante os parlamentares alemães no salão plenário, relatando suas vivências. Eles compartilharam histórias tocantes e advertiram. "Nunca mais! Nunca mais!", exortou em 2022 o presidente do parlamento israelense Mickey Levy.

Em 2011, pela primeira vez um representante das etnias nômades dos sinti e rom se dirigiu ao Bundestag. Em 2017 as atenções se voltaram a dois familiares de vítimas da assim chamada "eutanásia" nazista – o extermínio premeditado de pessoas com moléstias graves ou deficiências. Em 2023, foi a vez dos perseguidos pelo nacional-socialismo devido a sua orientação ou identidade sexual.

Em 2024 é a vez de uma homenagem transgeracional: o plenário escutará Eva Szepesi, libertada de Auschwitz quando criança, e o jornalista Marcel Reif, cujo pai sobreviveu ao Holocausto, que fala em nome da geração dos descendentes.