O que Biden alcançou em 100 dias de governo?
29 de abril de 2021A marca dos 100 dias, usada pela primeira vez durante a presidência de Franklin D. Roosevelt, tem sido padrão para medir o progresso imediato de um presidente. Joe Biden assumiu a Casa Branca em janeiro com o objetivo de conter uma pandemia violenta, consertar uma economia quebrada que deixou milhões de desempregados e restabelecer o relacionamento transatlântico.
Nesta quarta-feira (28/04), Biden discursou no Congresso, prometendo investimentos e defendendo a vacinação contra a covid-19. O democrata enfrenta desafios sem precedentes no país desde a Grande Depressão de 1929. A DW fez um balanço de sua presidência até agora:
1. Resposta à pandemia de covid-19
A primeira grande promessa de Biden foi a aplicação de 100 milhões de doses de vacina contra a covid-19 em seus primeiros 100 dias à frente da Casa Branca. Antes vista como uma meta excessivamente ambiciosa, a marca foi superada após 58 dias. Em março, Biden elevou a meta para 200 milhões de doses, alcançada sete dias antes dos 100 dias de governo. Nos EUA, 29% da população foram totalmente vacinados, e mais de 40% receberam pelo menos uma dose.
A administração federal, junto com a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema), conseguiu transformar em locais de vacinação em massa 21 arenas esportivas, centros comunitários e centros de convenções na Califórnia, Flórida, Nova York, Illinois, Massachusetts e Texas.
Devido ao lançamento abrangente e rápido da campanha, os EUA são agora o país que mais vacinou contra o coronavírus no mundo, mas a presença de novas variantes, a hesitação de alguns para tomar a vacina e preocupações de que os EUA não tenham contribuído para os esforços da comunidade global são indícios de que alguns desses sucessos podem ter vida curta.
2. Imigração
Biden tomou medidas imediatas a partir de sua escrivaninha, assinando pelo menos três decretos em março para tratar de questões relacionadas à imigração. Um criou uma força-tarefa para identificar famílias separadas na fronteira com o México – medida criticada como desumana durante o governo Trump. Biden terá que contar com o Congresso para fazer quaisquer mudanças importantes. Atualmente, ele tem uma maioria mínima no Senado, algo que pode ir contra ele. No momento, parece improvável que ele cumpra todas as promessas na área.
Biden tem lutado para lidar com o fluxo de migrantes que chegam à fronteira dos Estados Unidos com o México. Somente em março, mais de 172 mil migrantes foram detidos tentando entrar nos EUA. Os abrigos para menores desacompanhados estão lotados, e a resposta do governo a essas perguntas transformou rapidamente a situação em um grande problema político que não o ajudou nas pesquisas de popularidade.
O governo também reverteu o curso da questão do limite para refugiados. Em fevereiro, Biden prometeu elevar o limite de quantos refugiados que fogem de ameaças em seus países de origem podem entrar nos Estados Unidos, superando o limite recorde da era Trump, de 15 mil, para mais de 62 mil. Em abril, a Casa Branca anunciou que manteria o limite no nível estabelecido por Trump, irritando membros do próprio partido de Biden.
Os republicanos já usaram isso como um ponto de discussão contra Biden para o próximo ciclo eleitoral e para a eleição presidencial de 2024, mas os eleitores podem ter uma memória de curto prazo, fazendo com que a questão não tenha impacto no futuro político de Biden.
3. Política externa
Biden tem tido que andar na corda bamba quando se trata de política externa. A relação turbulenta que o governo Trump tinha com aliados de longa data tem sido mais fluida desde que o democrata assumiu o cargo, em janeiro. Biden colocou ênfase na reconexão com os velhos aliados dos EUA, como a União Europeia. Os comentários de Biden na Conferência de Segurança de Munique e as duas viagens do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a Bruxelas para se encontrar com aliados da Otan foram um indicativo de que eles estão fazendo sérias tentativas para reconectar a aliança transatlântica.
Durante a campanha, Biden falou duramente sobre a Arábia Saudita, dizendo que tomaria medidas rápidas contra a nação, e chegou ao ponto de chamá-la de "Estado pária". A retórica mudou desde então – o presidente americano agora fala de uma "recalibração" do relacionamento com os sauditas.
Apesar de um relatório da inteligência dos EUA indicar que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, aprovou o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, o governo Biden evitou responsabilizar pessoalmente Bin Salman.
Biden tem uma abordagem muito mais dura em relação à Rússia do que o governo anterior. Em março, o chefe de governo efetivamente chamou o presidente russo, Vladimir Putin, de assassino e implementou sanções duras como resposta à interferência da Rússia nas eleições de 2020 nos EUA. Ele falou diretamente com Putin e apelou para que ele interrompesse a ação militar da Rússia na Ucrânia.
4. Mudanças Climáticas
Biden agiu rapidamente ao cumprir sua promessa de reingressar os EUA no Acordo Climático de Paris de 2015, do qual o presidente Trump anunciou em 2017 que os EUA se retirariam. Como parte do pacto, Biden comprometeu os EUA a reduzirem os gases de efeito estufa pela metade até 2030. No entanto, a marca está abaixo dos compromissos assumidos pela União Europeia e pelo Reino Unido.
Para que Biden alcance qualquer uma de suas metas climáticas, caberá a um Congresso dividido conseguir aprovar seu pacote de infraestrutura de cerca de 2,3 trilhões de dólares. A proposta prevê investimentos em veículos elétricos e em tecnologia de energia limpa.
5. Economia
As primeiras semanas da presidência Biden foram focadas numa economia em perigo de entrar em colapso devido à pandemia. Com as taxas de desemprego em altas recordes, ele tem que ser capaz de levar adiante — sem apoio republicano — o plano de resgate de 1,9 trilhão de dólares, que enviou cheques de 1,4 mil dólares (R$ 7,5 mil) para cada domicílio americano.
Devido à campanha de vacinação, e à implementação do plano de resgate, o mercado de trabalho ganhou quase 1 milhão de postos de trabalho em março, baixando a taxa de desemprego para 6%. Em abril passado, a taxa de desemprego estava em torno de 14%. Mas os números de emprego ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia, e há temores de uma alta da inflação como resultado do plano de resgate.