O que esperar do novo superministro alemão do Clima?
30 de novembro de 2021O mundo tem até 2030 para realmente combater as mudanças climáticas e alcançar a meta do Acordo de Paris de 2015 de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais. É o que defendem cada vez mais cientistas e também o novo governo da Alemanha.
"Alcançar os objetivos de Paris para a proteção climática tem prioridade máxima para nós. A proteção climática assegura liberdade, justiça e prosperidade sustentável. A economia social de mercado deve ser refundada como uma economia social-ecológica de mercado", diz o preâmbulo do acordo de coalizão anunciado há poucos dias pelos partidos Verde, Social-Democrata (SPD) e Liberal Democrático (FDP).
A mensagem é clara: um país industrializado da importância da Alemanha deve reduzir maciçamente seus gases de efeito estufa.
O novo superministério
Concretamente, a nova coalizão de governo tripartite quer alcançar esse objetivo por meio de três medidas: o abandono da energia a carvão, se possível, até 2030; expandir maciçamente as energias renováveis, também até 2030; e dar adeus a motores a combustão no mesmo período.
Do ponto de vista organizacional, a meta deve ser atingida com a criação de um novo e reforçado Ministério da Economia, com competências adicionais relativas à proteção climática e que será liderado por Robert Habeck.
Casado e pai de quatro filhos adultos, Habeck é escritor e filósofo e colíder do Partido Verde desde janeiro de 2018, ao lado de Annalena Baerbock. As expectativas relativas a ele agora são enormes, talvez até demais para o político de 52 anos.
"A tarefa mais importante para Robert Habeck agora é montar seu ministério de modo que ele também se engaje na transformação. No passado, o Ministério da Economia, como antagonista do Ministério do Meio Ambiente, trabalhou repetidamente contra a proteção climática", afirma Jan Kowalzig, especialista em clima da Oxfam.
A expansão das energias renováveis na Alemanha, por exemplo, foi freada nos últimos anos, com as brigas entre os dois ministérios responsáveis sendo frequentemente as culpadas. O Ministério do Meio Ambiente representava os interesses de ambientalistas, e o da Economia, o da indústria tradicional, sobretudo de empresas que consomem muita energia.
Agora, além de Habeck adicionar competências decisivas para a proteção climática à pasta da Economia, os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, igualmente importantes para o clima, também serão chefiados por políticos do Partido Verde.
Sai o carvão, entram as energias eólica e solar
Habeck tem consciência da tarefa hercúlea que assumiu. A eliminação progressiva do carvão, antes prevista para ser concluída até 2038, após difíceis negociações entre governo federal, estados afetados e indústria no início de 2020, deverá ser antecipada para 2030.
E também até 2030, a participação das energias eólica e solar no fornecimento de eletricidade deverá saltar para 80%. No momento, as energias renováveis respondem por 48% da energia consumida no país.
Em termos concretos, isso significa que em vez de apenas uma turbina eólica, como era o caso até agora, até cinco deverão ser construídas todos os dias. Um objetivo bastante ambicioso, tendo em vista os enormes conflitos que a montagem de cada turbina em áreas rurais já causa.
Desafios para um experiente moderador
Quando foi secretário do Meio Ambiente de Schleswig-Holstein, entre 2012 e 2018, Habeck conseguiu dobrar a participação das energias renováveis no estado em quatro anos. Ele conversou com agricultores e políticos locais nas regiões particularmente afetadas pela expansão da energia eólica e conseguiu convencer muitos deles da importância dessa expansão.
Recentemente, Habeck disse em entrevista jornal Süddeutsche Zeitung: "A neutralidade climática é um projeto de transformação gigantesco, com mudanças e imposições imensas, que precisam ser moderadas." E muitos colegas dizem que Habeck sabe como fazer isso.
Para Martin Kaiser, especialista em clima do Greenpeace, "o maior obstáculo para Robert Habeck é, após quase dez anos de estagnação sob o governo Merkel, conseguir acelerar a expansão das energias renováveis de tal modo que o abandono do carbono em 2030 possa ser acordado já em 2022". "Pois é isso que esperam tanto o movimento climático quanto as eleitoras e eleitores dos verdes", diz.
A mineração de linhito, um tipo de carvão, emprega 20.500 pessoas, sobretudo nos estados Saxônia, Brandemburgo, Saxônia-Anhalt e Renânia do Norte-Vestfália – e chegou-se a um acordo sobre 2038 como prazo final para o abandono do carvão com muito esforço. Até lá, o plano era o Estado injetar 40 bilhões de euros nas regiões afetadas pela mudança estrutural, e, mesmo assim, o abandono do carvão é extremamente impopular nessas áreas. Antecipar o prazo para isso exigirá, portanto, toda a capacidade de moderação de Habeck.
Consenso com parceiros de coalizão
Embora, ao lado dos verdes, SPD e FDP também tenham concordado que a redução dos gases de efeito estufa deve ser uma tarefa de todos os ministérios, o superministro Habeck deve ter que negociar muito com seus parceiros de coalizão, espera Kowalzig, da Oxfam.
"Os verdes encontrarão poucos aliados em termos de proteção climática na coalizão com o SPD e o FDP. Apesar de seu novo ministério, Robert Habeck terá que contar com a cooperação dos membros do governo dos outros partidos. Se eles realmente estão comprometidos com os objetivos do Acordo de Paris é, em minha opinião, mais do que questionável em vários pontos", diz.
Por muito tempo, Habeck havia sinalizado que se imaginava lutando contra as mudanças climáticas como ministro das Finanças. Afinal de contas, é nessa pasta que são tomadas as decisões sobre quais políticas e quais projetos receberão bilhões em financiamento. Mas no novo governo, o Ministério das Finanças será chefiado pelo líder do FDP, Christian Lindner.
Portanto, resta a Habeck, que também será o vice do chanceler federal social-democrata Olaf Scholz, conduzir sua luta climática à frente do Superministério do Clima e da Economia.