O que mudou com Trump no poder
20 de janeiro de 2018Um ano após assumir o poder, o presidente americano, Donald Trump, ficou mais conhecido por afirmações controversas. Mas seu governo provocou grandes mudanças em seu país, que tiveram impacto não só nos Estados Unidos, mas no resto do mundo. Veja aqui dez transformações impactantes.
Comércio internacional
Donald Trump demonstrou repetidamente que prefere os acordos comerciais bilaterais aos multilaterais. Desde que assumiu o cargo, interrompeu a participação americana nas negociações sobre a Parceria Transpacífico (TPP) e suspendeu as conversas sobre um tratado de livre-comércio entre EUA e União Europeia (TTIP). Além disso, ameaçou cancelar o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), forçando México e Canadá a renegociar os termos do pacto.
Leia também: Em um ano, o que Trump fez pela economia?
Enquanto isso, os concorrentes dos EUA dão prosseguimento aos seus esforços para reduzir as barreiras comerciais entre si: o acordo de livre-comércio europeu-canadense (Ceta) entrou em vigor em 2017, e 11 países de ambos os lados do Pacífico continuam trabalhando para estabelecer um Acordo de Parceria Transpacífico sem os EUA. Embora a China não faça parte das negociações da TPP, os críticos de Trump temem que a saída dos EUA fortaleça ainda mais a influência chinesa sobre o comércio na região da Ásia e do Pacífico.
Negócios e Finanças
O primeiro ano de Trump foi bom para investidores no mercado de ações: o índice Dow Jones subiu de 18.589 pontos no dia seguinte à eleição de Trump para mais de 25.800 em meados de janeiro. Em comparação, o índice aumentou apenas moderadamente no primeiro ano de Barack Obama (no meio da crise financeira global), mas o presidente anterior também viu o Dow Jones mais que duplicar ao longo dos seus oito anos no cargo: de 9 mil para mais que 18 mil. Além disso, sob Trump, a taxa de desemprego caiu de 4,8% há um ano para 4,1% hoje (quando Obama assumiu o cargo de George W. Bush, era de cerca de 8%).
A maior conquista legislativa de Trump, uma reforma tributária assinada em lei no final de dezembro, reduz a carga fiscal corporativa de 35% para 21% e diminui os impostos sobre a renda dos cidadãos individuais, ao mesmo tempo em que dobra os descontos-padrão.
De longe, a maior parte desses cortes, no entanto, beneficia empresas e grandes rendas: os contribuintes que ganham mais de 700 mil dólares por ano, que representam 1% do total, receberão 20% do corte de impostos. E enquanto as reduções de impostos para as empresas são permanentes, os cortes para os contribuintes individuais expirarão após dez anos. As reduções fiscais são financiadas com crédito, levando a um aumento do déficit orçamentário americano de cerca de 1 trilhão de dólares nos próximos dez anos.
Saúde e seguridade social
Trump e os republicanos no Congresso não conseguiram abolir e substituir a Lei de Assistência Econômica (ACA), também conhecida como Obamacare, o principal legado do antecessor de Trump. Mas na reforma fiscal de 2017, eles conseguiram revogar o "mandato individual", uma disposição que exigia que todos os americanos tivessem um seguro de saúde, caso contrário, tinham que pagar uma multa.
Sem o mandato individual, um número menor de americanos jovens e saudáveis estará inclinado a pagar plano de saúde, levando a prestações mais elevadas para todos os demais. O Escritório de Orçamento do Congresso americano estima que, como resultado, o número de cidadãos não segurados poderia aumentar em até 13 milhões.
Enquanto isso, líderes republicanos no Congresso, incluindo o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, estão defendendo reduções sobre os futuros gastos em seguridade social e outros programas que garantem benefícios à população – em parte para compensar o aumento do déficit orçamentário americano causado pela reforma tributária de 2017.
Discurso público
O que pode melhor resumir o que Donald Trump fez para o discurso público é a afirmação de que, na maioria das vezes, não é mais aconselhável citar o presidente dos EUA na presença de crianças. Pouco antes do primeiro aniversário de sua tomada de posse, Trump lembrou isso ao descrever o Haiti e as nações africanas como "países de merda" (shithole countries), numa reunião com senadores.
Mas chama atenção não é apenas o fato de o presidente ter vulgarizado o discurso público, proferindo rotineiramente falsidades num ritmo surpreendente. De acordo com o jornal Washington Post, foram mais de 2 mil afirmações falsas ou enganosas desde que assumiu o cargo, a primeira delas sobre o público presente em sua posse, há um ano.
Ao menos tão desconcertante é o fato de que o governo Trump, aparentemente, tem evitado expressões em sites governamentais. De acordo com relatório da Iniciativa de Gestão e Dados Ambientais (EDGI), um grupo internacional de pesquisadores, "clima" é uma palavra-chave que foi reformulada ou banida dos sites do governo Trump, especialmente das páginas da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA).
Enxugando o governo
Sob Trump, o tamanho do funcionalismo público americano diminuiu. No final de setembro, de acordo com dados oficiais, os EUA tinham menos 16 mil servidores públicos que no final de 2016.
Além de reduzir o número de funcionários permanentes, Trump ainda não ocupou muitos postos governamentais importantes. Na verdade, de acordo com a organização independente Parceria para o Serviço Público, que rastreia o processo de seleção para altos cargos públicos, o novo presidente ainda não ocupou 245 de 633 cargos-chave que exigem anuência do Senado, entre eles postos importantes, como o de embaixador na Coreia do Sul.
Nomeação de juízes
Talvez um dos impactos mais duradouros da presidência de Trump – e certamente o mais irreversível já que se trata de um cargo vitalício – é a nomeação de Neil Gorsuch para a Suprema Corte. Aos 50 anos, uma idade relativamente baixa para um magistrado do principal tribunal do americano, ele provavelmente deixará sua marca nos próximos anos.
Mas o sucesso de Trump na nomeação de juízes conservadores se estende para além da Suprema Corte. Ele também conseguiu que 19 outros juízes de alto nível fossem confirmados pelo Senado, entre eles um número recorde de 12 juízes de tribunais regionais, o que provavelmente também deixará sua marca judicial no país por décadas.
Política externa
Enquanto Trump continua a criticar os países-membros da Otan por, segundo ele, não contribuírem o suficiente, ele aumentou a participação americana em dinheiro e em pessoal na defesa do flanco oriental da Aliança Atlântica.
Trump se envolveu no que é amplamente visto como um jogo perigoso de insultos com o ditador da Coreia do Norte, diante do programa de armas nucleares que avança rapidamente e do comportamento agressivo de Pyongyang.
Ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, Trump reverteu décadas de política externa americana e, ao traçar um curso mais duro em relação a Cuba e ao acordo nuclear iraniano, ele também transfigurou a posição de seu antecessor.
No geral, muitos observadores afirmam que o atual governo americano, liderado por um presidente profundamente impopular em muitas partes do mundo, ainda não possui uma estratégia coerente de política externa.
Imigração
Com a redução de 40% no número de cruzamentos ilegais de fronteira entre os EUA e o México no ano passado e uma contínua repressão contra imigrantes sem papéis, a imigração é uma das questões em que o presidente causou um impacto profundo, afetando dezenas de milhares de pessoas nos EUA e em todo o mundo.
Enquanto a proibição de entrada nos EUA imposta por Trump contra vários países ainda está amarrada nos tribunais, Washington sinalizou que vai encerrar o status de proteção que permite que mais de 200 mil cidadãos de El Salvador, Haiti e Nicarágua permaneçam nos EUA.
Trump também pôs fim ao programa DACA, que protegia centenas de milhares de jovens imigrantes, e criticou repetidamente o programa de loteria que permite que cerca de 50 mil pessoas de vários países imigrem anualmente para os EUA, ameaçando acabar com ela. E mesmo que as entradas ilegais já tenham caído significativamente, Trump ainda quer cumprir sua promessa de construir um muro ao longo da fronteira EUA-México.
Meio Ambiente
Uma das primeiras decisões de Donald Trump como presidente foi nomear Scott Pruitt como chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA). Uma escolha muito controversa, já que Pruitt é um cético notório das mudanças climáticas e acredita que o poder da agência que dirige agora deve ser reduzido drasticamente.
Como procurador-geral em Oklahoma, ele processou repetidamente a EPA. Desde que assumiu o cargo, afrouxou as regulações destinadas a reduzir a poluição proveniente das termelétricas a carvão e gás, das emissões de veículos, mineração, aterros e prospecção de petróleo e gás.
Uma proposta nova e polêmica da EPA também permitiria a perfuração offshore ao longo da maior parte da costa americana. Além disso, o governo Trump deu luz verde a projetos controversos, como o oleoduto Keystone XL, a prospecção de petróleo no Refúgio Nacional Ártico de Vida Selvagem no Alasca e o reexame do tamanho de dezenas de áreas protegidas em todo o país. Por último, mas certamente não menos importante, foi o fato de Trump ter retirado os EUA do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.
Proteção ao consumidor
Reduzir as regulações para as empresas é um dos principais temas do governo Trump, não só no que diz respeito ao meio ambiente, mas também quando se trata de proteção do consumidor.
Num movimento que reflete a abordagem de Trump frente à EPA, ele nomeou Mick Mulvaney, um crítico feroz do poderoso Escritório de Proteção Financeira do Consumidor (CFPB), como seu novo diretor (temporário). Essa agência foi criada na sequência da crise financeira de 2008 para proteger os consumidores contra práticas abusivas de bancos e outros prestadores de serviços financeiros.
Enquanto isso, a Comissão Federal de Comunicações, cujo chefe Ajit Pai foi nomeado por Trump, revogou as regulações de neutralidade da rede que proibiam os provedores de banda larga de bloquear sites ou cobrar por serviços de alta qualidade ou por determinado conteúdo.
Ajit Pai argumenta que menos regulação aumentará a concorrência, reduzindo assim os preços para os consumidores e fomentando a inovação. Mas os críticos temem que os provedores de banda larga possam favorecer grandes companhias que podem pagar pela internet de alta velocidade e por um melhor acesso a seus produtos, enquanto pequenas empresas e start-ups ficariam em desvantagem, proporcionando menos opções aos clientes.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App