O que o cinema internacional promete para 2023
7 de janeiro de 2023Depois do jejum, é hora de banquete: o que vale para a religião pode também se aplicar ao cinema. Em seguida a uma carestia de quase dois anos imposta pela pandemia de covid-19, 2023 promete uma enxurrada de novos espetáculos.
O ano está tão lotado de produções atraentes, de blockbusters ao cinema de arte, que vai deixar alguns cinéfilos como pinto no lixo, sem saber como deixar as salas de exibição.
Biografias de mestre
Três sobrenomes célebres, três cineastas consagrados. O inglês Christopher Nolan retorna, após três anos desde o último lançamento, com Oppenheimer, relatando a eletrizante história do projeto militar "Manhattan" que redundaria no desenvolvimento da bomba atômica.
O líder da equipe era o físico americano Robert Oppenheimer, representado pelo irlandês Cillian Murphy, à frente de um elenco estelar que reúne Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Gary Oldman e Florence Pugh, entre outros.
O veterano Martin Scorsese também embarca na onda biográfica em Roosevelt. Leonardo DiCaprio encarna Theodore "Teddy" Roosevelt Jr., em sua trajetória vertiginosa, de doentio e mimado garoto de Harvard a governador de Nova York e, por fim, um dos mais importantes presidentes dos Estados Unidos, de 1901 a 1909.
Igualmente mestre de seu ofício, o diretor e produtor Michael Mann está na linha de partida com Ferrari, após uma longa gestação. Ele aborda a biografia do corredor e construtor de automóveis italiano Enzo Ferrari (Adam Driver), cuja esposa, Laura, é interpretada por Penélope Cruz.
Entre história e ficção científica
A dupla Scorsese-DiCaprio pontifica logo duas vezes entre os lançamentos de ponta. Com um custo de nada menos de 200 milhões de dólares, o suspense policial Assassinos da Lua das Flores trata do brutal assassinato de membros da tribo indígena Osage nos EUA, na década de 1920, que desencadeou uma gigantesca investigação pelo FBI.
Em Duna: Parte dois, o cineasta canadense Denis Villeneuve conclui sua saga de ficção científica baseada no romance de 1965 de Frank Herbert. No elenco estelar estão de volta Timothée Chalamet, Javier Bardem, Rebecca Ferguson e Zendaya.
Mais uma vez, Wes Anderson cria uma fantástica realidade paralela em Cidade Asteroide: em 1955, eventos de escala mundial abalam uma convenção de astronomia numa cidade no deserto. Estrelas do porte de Adrien Brody, Steve Carell, Bryan Cranston, Tom Hanks, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Margot Robbie integram o numeroso elenco.
Aos 83 anos, o ícone americano Francis Ford Coppola lança aquele que possivelmente será seu canto do cisne. Em Megalopolis, cujo roteiro começou a elaborar ainda na década de 1980, Adam Driver, Forest Whitaker e Laurence Fishburne contam sobre a tentativa de construir uma utopia arquitetônica na cidade de Nova York, após uma devastadora catástrofe.
A volta das franquias e dos super-heróis
Em 2023 Hollywood também joga seguro, ressuscitando diversas franquias de sucesso. Para os fãs da ação mirabolante, Tom Cruise estrela a sétima edição de Missão Impossível. Na primeira parte de Acerto de contas, que já tem sequência marcada para 2024, o agente da IMF Ethan Hunt é secundado pela atriz francesa Pom Klementieff, ao lado de Cary Elwes e Simon Pegg.
Outras duas grandes promessas do cinema-pipoca movido a superstar são John Wick 4: Baba Yaga, com Keanu Reeves; e Indiana Jones e o chamado do destino. Esta quinta edição da saga iniciada em 1981 traz Harrison Ford em dose dupla: no esplendor de seus 80 anos e rejuvenescido pela magia da computação gráfica.
As franquias Transformers, Star Wars e Velozes & Furiosos igualmente terão novos episódios, enquanto Jogos Vorazes merecerá uma "prequel", em que se narram os antecedentes da saga juvenil. Nostalgia também motiva a refilmagem de Matador de aluguel, de 1989, com Jake Gyllenhaal no papel criado por Patrick Swayze, de implacável leão-de-chácara de um bar decadente.
Enquanto isso, a fábrica de super-heróis segue cuspindo novos tipos esquisitos. Os fãs dos collants apertados e dos efeitos especiais já podem ir se alegrando com um terceiro Guardiões da Galáxia e Homem-Formiga, assim como com o segundo Aquaman, Capitã Marvel e Shazam!.
Além disso, o cânone dos heróis HQ se amplia com pelo menos mais uma personagem, pois finalmente chega às telas The Flash, tendo o polêmico ator Ezra Miller como o homem mais rápido do universo.
Ao lado de Transformers, outra produção inspirada num brinquedo desperta expectativas. Dirigida por Greta Gerwig (Adoráveis mulheres), Barbie promete uma visão inteligente e até feminista da perfeita louraça de plástico. Ela é representada por Margot Robbie, tendo Ryan Gosling como Ken, seu namorado eternamente sorridente. A trama gira em torno do banimento de Barbie, de sua utópica terra rosa-bebê, para o mundo real.
Com a palavra, o cinema de autor
Para quem prefere feminismo sem corantes nem adoçantes, uma alternativa é Entre mulheres, de Sarah Polley, baseada no romance de Miriam Toews sobre integrantes de uma comunidade menonita decididas a dar fim aos abusos sexuais e a conciliar a dura realidade com sua fé. Lançado com sucesso no Festival de Toronto de 2022, o filme é estrelado por Rooney Mara, Claire Foy e Frances McDormand.
Na contramão do mainstream hollywoodiano, os principais lançamentos em 2023 de cinema de arte, ou de autor, são quase numerosos demais para serem listados. Entre eles, o thriller Cat person, de Susanna Fogel, baseado num conto publicado na revista The New Yorker, que acompanha o descarrilamento da relação entre uma estudante de 20 anos e um homem mais velho, representados por Emilia Jones e Nicholas Braun.
Dez anos após o lançamento do drama antiescravagista 12 anos de escravidão – com que conquistou três Oscars, dois British Academy Film Awards (Bafta) e um Globo de Ouro –, o cineasta londrino Steve McQueen chega em grande forma com Blitz, abordando os efeitos do bombardeio da capital britânica durante a Segunda Guerra Mundial sobre vidas locais. No elenco, Stephen Graham e Saoirse Ronan.
Todd Haynes lança o melodrama May December, com Natalie Portman, Julianne Moore e Charles Melton: um casal cuja grande diferença de idade causou, anos antes, um escândalo de nível nacional, tem seus tormentos reavivados pela chegada de uma atriz em pesquisas para um filme sobre o caso.
Depois de um Oscar e numerosas indicações com A favorita em 2019, o inconvencional Yorgos Lanthimos chega com Poor things. Nessa versão feminista de Frankenstein, Belle (Emma Stone) se mata para escapar do marido brutal. No entanto um cientista brilhante a traz de volta dos mortos, tendo substituído o cérebro da suicida pelo do filho que ela não chegou a dar à luz.