O que propõe o rascunho de acordo da COP26
10 de novembro de 2021Um esboço do acordo final da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que transcorre em Glasgow, foi divulgado nesta quarta-feira (10/11), dando uma primeira ideia de até onde os negociadores chegaram depois de dez dias.
O documento, elaborado pelo presidente da COP26, o britânico Alok Sharma, deverá ser debatido pelos representantes dos governos até sexta-feira, quando o evento se encerra.
O texto não indica que haja acordo sobre os três objetivos principais que a ONU estabelecera para a cúpula: que as nações ricas deem 100 bilhões de dólares por ano para a ajuda climática, a garantia de que metade desse dinheiro vá para adaptação aos efeitos do aquecimento global, e o compromisso de cortar as emissões.
O estabelecimento de um mercado de carbono e um mecanismo de perdas e danos são outras áreas centrais da negociação em que ainda não há consenso.
Organizações de defesa do meio ambiente indicaram que o rascunho do acordo é "insuficiente e pouco sólido".
O texto cobra os países ricos a elevarem a ajuda para adaptação das nações desenvolvidas e inclui os seguintes pontos:
Novas promessas climáticas
As atuais metas de redução de emissões dos países ainda conduzem a um aumento médio de 2,4 °C até 2100, o que é muito além do objetivo de 1,5 °C definido no Acordo de Paris para evitar impactos mais desastrosos.
Para tentar reverter essa situação, o esboço do acordo final da COP26 pede aos países para "revisitar e fortalecer as suas metas para 2030 nas suas contribuições nacionalmente determinadas, de forma a torná-las compatíveis com as metas do Acordo de Paris até o final de 2022" – o prazo atual é o final de 2025.
Essas contribuições (National Determined Contributions, ou NDC) são as que cada país propõe para baixar as emissões de gases do efeito estufa e manter o aumento da temperatura no limite de 1,5 °C.
As nações vulneráveis têm pressionado para que as revisões dos países ocorram anualmente, o que é um cronograma muito mais rápido do que o atual ciclo de revisões a cada cinco anos.
Os Estados Unidos e a União Europeia disseram que poderiam apoiar uma revisão mais rápida, mas outros países dizem que isso seria um fardo burocrático.
O documento menciona também que estudos científicos preveem um aumento das emissões de gases do efeito estufa de 13,7% em relação aos níveis de 2010 até 2030, quando deveriam diminuir 45% para atingir a meta de 1,5 °C.
Os governos também iriam se reunir todos os anos para reavaliar os esforços para elevar as metas pré-2030, a partir do próximo ano, diz o rascunho.
Mais dinheiro
O rascunho "exorta" os países desenvolvidos a "elevarem urgentemente" a ajuda para que outros países possam se adaptar ao aquecimento global, e afirma que os países ricos deveriam duplicar o financiamento para ajudar os países pobres a se adaptarem aos impactos climáticos — embora não especifique uma data.
Os países ricos não conseguiram cumprir o compromisso, feito em 2009, de disponibilizar 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático para os países pobres a partir de 2020 e agora querem começar três anos mais tarde.
O esboço do acordo diz aos países ricos para tentarem atender a essa demanda mais cedo, mas não detalha um plano para que isso ocorra. Ele também diz que a qualidade de financiamento climático precisa melhorar, com mais subvenções e menos empréstimos.
O rascunho também menciona a polêmica questão das compensações. Ele demanda aos países ricos – cujas históricas emissões de gases do efeito estufa são em grande parte responsáveis pelo aquecimento global – para que deem mais apoio no enfrentamento dos danos que as mudanças climáticas já estão causando, mas sem especificar um valor nem estabelecer regras claras sobre como levantar o dinheiro.
Os pequenos Estados insulares afirmaram que vão pressionar por mais clareza e comprometimento na reta final da COP26.
Combustíveis fósseis
O texto preliminar aborda a questão da queima de combustíveis fósseis e pede aos países para acelerarem a eliminação gradual do carvão e dos subsídios para os combustíveis fósseis.
Isso seria a primeira vez que combustíveis fósseis são nomeados e denunciados nas conclusões de uma cúpula climática da ONU – um passo polêmico que deverá enfrentar resistência de alguns países, como a China e a Rússia, mesmo que a proposta não estabeleça uma data fixa para a eliminação gradual dos combustíveis.
O documento também explicita a rapidez com que o mundo precisa reduzir as emissões de CO2 para limitar o aquecimento global a 1,5 °C – para 45% dos níveis de 2010 até 2030 e a zero líquido até 2050 – na prática criando a referência pela qual futuras promessas climáticas dos países passarão a ser medidas.
as/ek (Reuters, AFP, AP, Lusa, Efe)