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O que se sabe sobre o caso Khashoggi

17 de outubro de 2018

Jornalista crítico da Arábia Saudita desapareceu no consulado saudita em Istambul, onde teria sido assassinado por agentes enviados por Riad. Entenda o caso.

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Câmera no aeroporto de Istambul mostra entrada de grupo saudita na Turquia no dia do desaparecimento do jornalista. Imagens circundam suspeitos com círculos vermelhos
Câmera no aeroporto de Istambul registra entrada de grupo saudita na Turquia no dia do desaparecimento do jornalistaFoto: picture-alliance/AP Photo/TRT World

Quem é Jamal Khashoggi?

O jornalista saudita se tornou conhecido com seus artigos publicados em veículos em inglês sobre o mundo árabe e, especialmente, sobre a Arábia Saudita. No país árabe, Khashoggi trabalhou como jornalista durante muito tempo e chegou a ser assessor do ex-chefe do serviço secreto, o príncipe Turki al-Faisal. Devido às críticas à família real e ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o jornalista temia ser preso e, no ano passado, se mudou para os Estados Unidos.

Ele escreveu artigos de opinião e colunas para o Washington Post. Em setembro do ano passado, Khashoggi explicou num artigo: "Abandonei minha casa, minha família e meu trabalho e estou erguendo a minha voz. Agir de outra forma significaria trair a todos aqueles que estão na prisão. Enquanto muitos não podem falar, eu posso".

Como o jornalista desapareceu?

Jamal Khashoggi foi ao Consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro por volta das 13h para providenciar a documentação necessária para o casamento com sua noiva, a turca Hatice Cengiz. Após sete horas e meia sem notícias de Khashoggi, Cengiz informou a polícia turca. Os investigadores analisaram vídeos filmados no entorno do prédio do consulado e abriram uma investigação oficial no último sábado (06/10).

O jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2014, quando era diretor geral do canal Alarab TV
O jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido em Istambul no início do mêsFoto: Getty Images/AFP/M. Al-Shaikh

No dia do desaparecimento de Khashoggi, o editor de opiniões internacionais do Washington Post, Eli Lopez, publicou declaração de que não conseguia entrar em contato com o colunista.

Segundo a agência Associated Press, fontes turcas afirmam temer que agentes sauditas de um comando especial que se deslocou a Istambul tenham assassinado e esquartejado Khashoggi. A Arábia Saudita negou as alegações de assassinato, mas não forneceu evidências de que ele teria deixado o consulado.

Fontes da polícia turca disseram à agência de notícias Reuters que 15 agentes sauditas chegaram a Istambul em dois aviões no dia em que Khashoggi foi ao consulado. Segundo o jornal turco conservador e pró-governo Yeni Safak, eles teriam visitado o consulado enquanto o jornalista ainda estava dentro do edifício. As supostas identidades dos cidadãos sauditas foram reveladas pelos meios de comunicação turcos. Eles teriam deixado o país pouco tempo depois do desaparecimento de Khashoggi.

Khashoggi teria começado a ser esquartejado ainda vivo, segundo o jornal, que cita uma suposta gravação de áudio da tortura. O diário diz que o crime foi cometido na presença do cônsul Mohammed al-Otaibi, que partiu na última terça-feira para Riad.

Serviços de segurança na Turquia vêm usando a imprensa pró-governo para vazar detalhes do caso de Khashoggi, aumentando a pressão sobre a Arábia Saudita.

O que dizem as autoridades turcas?

O presidente Recep Tayyip Erdogan explicou que ele e Khashoggi são amigos de longa data e apontou para as investigações das autoridades turcas. Erdogan exortou as autoridades sauditas a comprovarem que Khashoggi deixou o consulado.

O ministério turco do Exterior comunicou que as autoridades sauditas estão cooperando e que autorizaram averiguações no consulado. A equipe policial turca realizou buscas no local na segunda-feira (15/10), mas teve que esperar durante horas diante da residência consular no dia seguinte, sendo obrigada a cancelar as investigações porque não se conseguiu contato com as autoridades sauditas.

O ministro turco do Interior, Süleyman Soylu, pediu nesta quarta-feira paciência para o esclarecimento do desaparecimento de Khashoggi. Soylu disse "saber o que aconteceu", mas quer esperar o resultado das investigações.

O ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavusoglu, disse após reunião com seu homólogo americano, Mike Pompeo, que não vai comentar os relatos da imprensa turca sobre o caso. "Esperaremos o final da investigação. Estão escrevendo muitas coisas. Nós temos as nossas informações, de fontes de inteligência, sobre uma equipe de 15 pessoas que veio e que foi embora", disse.

Polícia turca faz buscas no consulado em Istambul
Polícia turca faz buscas no consulado em IstambulFoto: Reuters/M. Sezer

Qual foi a reação da Arábia Saudita?

Até agora, as autoridades sauditas negaram todas as suspeitas no caso Khashoggi. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman disse à rede de televisão Bloomberg que "não tem nada a esconder" e que seu país autorizará as investigações no consulado em Istambul. 

Porém, veículos da imprensa americana relataram que os sauditas poderão admitir que o jornalista foi morto durante um interrogatório desastrado.

Segundo a agência Reuters, que cita o jornal online saudita Sabq, o cônsul-geral da Arábia Saudita em Istambul foi demitido do cargo nesta quarta-feira e será investigado. O diário não deu detalhes sobre os motivos da apuração.

Como está a pressão internacional?

Até agora, os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas se pronunciaram sobre o caso.

O Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, viajou a Riad e a Ancara para conversar com as autoridades dos respectivos países sobre o caso e outros assuntos. Ele não falou com repórteres após encontro com o presidente e o ministro das Relações Exteriores da Turquia nesta quarta. Pompeo exortou o governo saudita a apoiar as investigações e a divulgar os resultados. Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, disse esperar transparência das autoridades sauditas no esclarecimento do caso.

O ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, suspendeu uma viagem planejada à Arábia Saudita à espera do resultado das investigações.

Quais as consequências para a relação entre Turquia e Arábia Saudita?

Atualmente, não há crise entre a Turquia e a Arábia Saudita, mas a relação entre os dois países é fria e distante há algum tempo.

A Turquia ofereceu proteção a membros da Irmandade Muçulmana, depostos por um golpe em 2013 no Egito. Já Riad vale como um dos maiores apoiadores do presidente egípcio Abdulfattah al-Sisi, principal responsável pela deposição. Em 2014, a Arábia Saudita colocou a Irmandade Muçulmana em sua lista de organizações terroristas.

Os dois países também divergem sobre o relacionamento com o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Enquanto a Turquia inclui o Hamas entre seus parceiros de diálogo, Riad adota postura nitidamente mais distante.

Em relação ao Irã, Riad enxerga Teerã como seu maior inimigo na região. Já Ancara busca aproximação com a liderança iraniana.

De acordo com o New York Times, autoridades ligadas à Casa Branca disseram estar preocupadas com o fato de o caso poder desencadear um confronto com o Irã e ameaçar planos de pedir auxílio à Arábia Saudita para evitar perturbações no mercado internacional de petróleo. Os Estados Unidos deverão impor novas sanções ao Irã no dia 5 de novembro, com a intenção de cortar todas as exportações de petróleo do país.

"Mas, para que a estratégia funcione, o governo está contando com sua relação com os sauditas para manter o petróleo mundial fluindo sem aumentar os preços e para trabalhar numa nova política para conter o Irã no Golfo Pérsico", diz artigo do jornal.

RK/dw/dpa/ap/efe/ots

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