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O sonho americano de Merkel se o Muro ainda existisse

6 de novembro de 2019

Se ainda vivesse na Alemanha Oriental, a líder alemã poderia estar hoje realizando o antigo sonho de viajar pelos EUA ouvindo Bruce Springsteen. Em entrevista, ela diz que ainda é preciso aproximar leste e oeste do país.

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Angela Merkel num Porsche, em junho de 2004
Angela Merkel em visita à montadora Porsche, em 2004, ainda antes de se tornar chanceler federal da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/dpaweb

Em um universo paralelo, no qual o Muro de Berlim não tivesse caído, Angela Merkel poderia estar atualmente viajando pelos EUA num Trabant, em vez de estar vivenciando o crepúsculo de sua chancelaria, disse a própria chefe de governo da Alemanha em entrevista à revista alemã Der Spiegel nesta terça-feira (05/11).

Quando questionada sobre o que teria sido dela se a Alemanha tivesse permanecido dividida, a chanceler federal alemã respondeu com humor: "Certamente não teríamos nos conhecido, isso é certo."

Questionada sobre o que estaria fazendo hoje em dia, Merkel disse que poderia ter realizado seu sonho: "Eu queria que minha primeira longa viagem fosse para os Estados Unidos. Devido ao seu tamanho, sua diversidade e cultura. Ver as Montanhas Rochosas, dirigir por aí e ouvir Bruce Springsteen – esse era o meu sonho", contou, referindo-se ao cantor americano conhecido por sucessos como Born in the USA.

Depois de reiterar que ela também gostaria de ter explorado a Alemanha, a chanceler federal alemã, de 65 anos e que cresceu na Alemanha Oriental, apontou que estaria aposentada a esta altura e, portanto, teria permissão para deixar a antiga República Democrática Alemã (RDA). 

30 anos da queda do Muro de Berlim

"Na RDA, as mulheres se aposentavam aos 60 anos, assim eu poderia ter pegado meu passaporte cinco anos atrás e viajado para os EUA. Os aposentados tinham a liberdade de viajar na RDA – qualquer pessoa que não fosse mais necessária como trabalhadora socialista podia sair", disse Merkel à revista Der Spiegel.

Quando os repórteres questionaram se ela teria pegado um carro americano, ela negou. "Não. Eu simpatizo com carros menores. Mas o que poderia ter sido melhor do que um Trabant?"

A entrevista à revista Der Spiegel foi concedida num momento em que a Alemanha reflete sobre os 30 anos da queda do Muro de Berlim, celebrados em 9 de novembro.

Depois de crescer no empobrecido e menos desenvolvido Leste Alemão, Merkel entrou na política apenas com trinta e poucos anos de idade, quando o comunismo desmoronou.

Descontentamento não justifica o ódio

Na entrevista, a chanceler federal alemã alertou que desilusão e descontentamento com o governo alemão não dão às pessoas um "direito ao ódio" – uma referência indireta a recentes sucessos eleitorais da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Eu sei que para alemães orientais de uma certa geração a vida se tornou livre após a revolução pacífica, mas nem sempre mais simples", afirmou Merkel. "Mesmo assim, 30 anos depois, é preciso deixar claro: mesmo se você não estiver satisfeito com o transporte público, a assistência médica, o modo de agir do Estado em geral ou a sua própria vida, isso não lhe dá o direito ao ódio e ao desprezo pelos outros ou mesmo à violência."

A AfD recebeu mais de 20% dos votos e terminou como segundo partido mais votado nas recentes eleições estaduais de Saxônia, Brandemburgo e Turíngia, regiões nas quais as pessoas continuam se sentindo em desvantagem mesmo 30 anos após a Reunificação alemã.

Os protestos que levaram à queda do Muro de Berlim

A desilusão nos últimos anos com a chanceler federal alemã e seu governo, alimentada principalmente pelo grande afluxo de migrantes em 2015, foi sentida com mais intensidade no Leste Alemão.

Merkel contou à revista Der Spiegel que, como chanceler federal, ela é responsável por todos os alemães. "Portanto, a suposição de que eu deveria cuidar primariamente dos interesses dos alemães orientais é errada, mas, se ela fosse seguida, isso evidentemente levaria a desapontamentos".

A chanceler federal alemã também enfatizou a necessidade de um melhor "diálogo interno alemão", entre as antigas Alemanha Oriental e Ocidental.

Os Estados Unidos, o destino sonhado por Merkel, tradicionalmente visto como sinônimo de liberdade e oportunidade, também sofreu uma guinada política para a direita nos últimos anos.

Desde que assumiu o cargo em 2016, o presidente americano Donald Trump defendeu repetidamente a construção de um muro ao longo da fronteira dos EUA com o México, além de impulsionar políticas que visam conter a imigração legal e ilegal.

PV/ap/rtr

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