O terror pode morar ao lado
14 de outubro de 2002Depois do centro de Nova York a 11 de setembro de 2001, o atentado ao idílio turístico na ilha de Bali causou a morte de mais de 180 vítimas no 13 de outubro, um ano mais tarde. Um porta-voz do Ministério alemão das Relações Exteriores confirmou o número de dez alemães feridos e doze desaparecidos na catástrofe. O número de mortos ainda é incerto.
O governo do país, segundo seu porta-voz, Bela Anda, recebeu a notícia do atentado terrorista com extrema indignação. As mortes em Bali mostram mais uma vez, nas palavras de Anda, que o combate ao terrorismo é uma tarefa "que só poderá ser desempenhada através da cooperação da comunidade internacional". O governo alemão adverte os cidadãos do seu país a evitarem viagens a Bali e recomenda extrema precaução aos que se encontram em território indonésio.
Especialistas a caminho –
O procurador-geral da Alemanha, Kay Nehm, anunciou nesta segunda-feira (14) o início das investigações conduzidas pelo governo. Rainer Lingenthal, porta-voz do Ministério do Interior, confirmou o envio de um grupo de especialistas alemães à Indonésia."Eles não deverão se envolver nas investigações, mas foram enviados para a identificação das vítimas alemãs. No momento, não há nada que indique a necessidade da participação de especialistas estrangeiros", completa Lingenthal. O ministro do Exterior, Joschka Fischer, afirmou que a suspeita de que os responsáveis pelo ato terrorista possam estar ligados à organização Al Qaeda "é mera especulação, que não posso confirmar".
Reaproximação dos EUA –
A nova investida de terroristas islâmicos contra turistas ocidentais na Indonésia deve, provavelmente, contribuir para aparar as arestas entre os governos em Berlim e Washington. A secretária-geral do Partido Liberal na Alemanha, Cornelia Pieper, acentuou a necessidade de "melhorar de imediato as relações teuto-americanas".Década do terror? –
O atentado ao Sari Club em Kuta Beach, que matou em sua maioria turistas australianos, pode ser apenas o início de uma nova década de terror na história. "Temos que pensar que em todos os países – entre eles nos paraísos de férias exóticos que acolhem militantes islâmicos – ataques podem acontecer, pois na imaginação desses terroristas tudo o que é ocidental é abominável, sendo uma importação do grande Satã", observa o especialista em terrorismo Rolf Tophoven à rede de TV alemã ZDF.Provocado ou não por baços da Al Qaeda, o terrorismo passa a ser uma ameaça latente não só aos países ocidentais, mas a seus cidadãos mundo afora. A regra do fundamentalismo islâmico parece ser mais que o olho por olho. Se o primeiro-ministro australiano John Howard foi um dos árduos defensores dos planos de George W. Bush contra o Iraque, australianos em férias na ilha de Bali pagaram por isso.
Sacralizando a violência –
A sensação de segurança tão aclamada pelos países ricos está mais ameaçada do que nunca. O terror, na pior das hipóteses, pode morar ao lado. Para seus mentores, ele é tudo, exceto brutal e aleatório como prega a retórica ocidental. Para o fundamentalista islâmico, matar centenas de pessoas chega a ser uma dádiva divina, afinal, o efeito é amedrontar e desestabilizar o inimigo religioso.Frente ao novo perigo, as sociedades ocidentais se vêem à beira da inércia, apesar do sem-número de serviços secretos em ação. O terrorismo por motivos religiosos diferencia-se das formas clássicas do terror de organizações separatistas ou minorias étnicas. "Para o fanático religioso, o ato de violência é um ato sagrado, quase uma obrigação", comenta o diário Süddeutsche Zeitung.
Adeus ao mito –
Da mesma forma com que o World Trade Center foi escolhido por simbolizar o mundo financeiro, a ilha de Bali encarna o sonho do descanso desse mesmo capitalismo. Em Kuta Beach, foi destruído o mito do sol e da água fresca à beira da praia, com todas as suas conotações de felicidade comprada e descartável.Para o terrorista, não importa nem mesmo que os empregados indonésios tenham sido mortos no mesmo barco. Afinal, para quem mata em nome de um deus, continua valendo o velho ditado dos fins que justificam os meios.