O vôo atrasado da Rosetta
17 de janeiro de 2003A sonda européia, fabricada pela empresa alemã Astrium Deutschland, levaria consigo um módulo de pesquisa preparado para pousar no cometa Wirtanen, de onde enviaria fotos e dados analíticos sobre a constituição do corpo celeste. Pela primeira vez, os cientistas examinariam "de perto" um cometa e não se limitariam a observar a sua passagem pelo sistema solar.
Segundo o diretor da ESA, o inglês David Southwood, esta seria "uma das mais ambiciosas missões espaciais, ninguém ousou até agora um projeto de tal porte". Condição indispensável para o seu êxito era o lançamento pontual. Somente a partida entre meados e o fim de janeiro de 2003 garantiria a chegada pontual da sonda ao seu "ponto de encontro" com o cometa.
Os planos
A complicada rota de viagem da sonda começou a ser calculada há cerca de dez anos. Sua viagem até o cometa teria uma duração de oito anos. Durante 18 meses, a Rosetta deveria permanecer na órbita do cometa, enviando dados científicos para a Terra. Só depois disto, em 2012, é que o módulo de pouso baixaria ao solo do Wirtanen. Em julho de 2013, a missão seria dada por encerrada.
Tudo foi calculado com enorme precisão. Menos um detalhe: a confiabilidade do novo foguete da ESA, o Ariane 5, que deveria transportar a Rosetta. Em dezembro último, um mês antes do lançamento previsto da sonda, começou a delinear-se o fiasco. O vôo de estréia do Ariane 5 durou poucos minutos: um defeito técnico obrigou o centro espacial de Courou, na Guiana Francesa, a acionar o dispositivo de autodestruição do foguete.
O defeito do Ariane 5 não pôde ser localizado a tempo e o lançamento da Rosetta teve de ser adiado. Os testes de conserto do foguete devem demorar vários meses. E a missão espacial não pode assim ser realizada da maneira como fora planejada. Agora, poderá tardar dois anos e meio, até que haja uma constelação favorável à retomada do projeto. O objeto da pesquisa já não será então o Wirtanen, mas um outro cometa.
Concorrência
A pane com o Ariane 5 veio em má hora para a ESA. No próximo ano, inúmeros satélites de telecomunicação serão lançados ao espaço por empresas privadas. Os contratos de lançamento serão negociados este ano e o desastre de Courou favorece os concorrentes – as empresas americanas Boeing (Delta 4) e International Launch Services (Atlas 5), assim como os japoneses e chineses.
Por esta razão, a ESA busca pelo menos um êxito rápido, que poderá ocorrer em maio ou junho. Para esta época está planejado o lançamento de uma outra sonda, a Mars Express, destinada a pesquisar o "planeta vermelho". Também esta sonda terá de partir pontualmente, mas o prazo é bem maior: entre 23 de maio e o fim de junho. Além disto, mesmo que ainda não esteja apto a funcionar, o Ariane 5 não poderá impedir tal missão. O lançamento deverá ocorrer no centro espacial de Baikonur, a bordo de um foguete russo do tipo Sojus.