OAB e políticos reagem a declaração de Carlos Bolsonaro
10 de setembro de 2019Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro pelo PSL e filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou no Twitter, nesta segunda-feira (09/09), que "por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer."
Em seguida, escreveu: "Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!"
A declaração foi interpretada como um ataque à democracia pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e por parte das forças políticas do país, que reagiram lembrando do valor desse sistema.
Em resposta, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou, ao jornal Folha de S.Paulo, que "não há como aceitar uma família de ditadores”. "É hora dos democratas do Brasil darem um basta. Chega", disse.
Santa Cruz já havia sofrido ataques de Jair Bolsonaro, em função da prisão e assassinato de seu pai Fernando Santa Cruz, em 1974, por agentes da ditadura militar. Em julho, o presidente disse que sabia como Fernando havia desaparecido e que seu filho "não vai querer ouvir a verdade", o que provocou repúdio de diversos políticos e entidades.
O presidente da OAB acionou o Supremo Tribunal Federal. Questionado pela Corte, Bolsonaro disse que não teve intenção de ofender e que se limitou a expor sua "convicção pessoal em função de conversas que circulavam à época".
Nesta segunda-feira, menos de duas horas depois da postagem de Carlos Bolsonaro, o PSDB também reagiu. Em nota, afirmou que "figuras autoritárias insistem em transformações que não sejam pelas vias democráticas".
Os tucanos lembraram que, "por vias democráticas o brasileiro elegeu presidentes, apoiou impeachment dos que cometeram irregularidades [...], elegeu Bolsonaro e tirou o PT."
A declaração de Carlos Bolsonaro também foi criticada por políticos mais à esquerda. Erika Kokay, deputada federal pelo PT do Distrito Federal, afirmou que o filho do presidente havia feito "apologia ao golpe" e que, por meio da sua postagem, "o fascismo mostra sua cara e arreganha os dentes".
Sâmia Bomfim, deputada pelo PSOL de São Paulo, disse que a declaração de Carlos Bolsonaro era um "inequívoco ataque à democracia" e pediu "unidade" entres forças opositoras ao governo.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, também reagiu à manifestação de Carlos Bolsonaro, fazendo um apelo por uma "aliança democrática" que faça frente ao governo, "para o país não implodir".
Ele aproveitou a oportunidade para criticar a atuação do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, a respeito do pedido de instalação da CPI da Lava Toga, que serviria para investigar a atuação de membros do Poder Judiciário.
"O 02 [como Carlos é chamado pelo presidente, por ser seu segundo filho] diz que não acontecerá transformação por vias democráticas. Fiquei na dúvida: ele está criticando o próprio irmão, que se utiliza do jogo democrático e trabalha para retirar assinaturas da CPI da Lava Toga?", escreveu Randolfe.
Carlos Bolsonaro também recebeu o apoio de alguns membros do seu partido. Daniel Silveira, policial militar e deputado federal pelo PSL-RJ, escreveu que o filho do presidente "não incitou a nada". "Tão somente clarifica que o sistema 'democrático' do Brasil possui entraves infindáveis ao progresso do correto", afirmou.
A atuação de Carlos nas redes
Jair Bolsonaro e seus filhos têm um histórico de elogios à ditadura militar e apologia ao uso da força em questões institucionais. O presidente determinou ao Ministério da Defesa que celebrasse neste ano o dia do golpe militar de 1964.
Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de São Paulo e também filho do presidente, afirmou durante a campanha eleitoral no ano passado que, se o Supremo impugnasse a candidatura do pai, iria "pagar para ver", e concluiu: "Se quiser fechar o STF [...] manda um soldado e um cabo."
Carlos Bolsonaro, a quem o presidente também se refere como pitbull, teve papel central na estratégia de campanha do pai nas redes sociais durante a eleição de 2018.
Em entrevista à rádio Jovem Pan em abril deste ano, o presidente disse sobre Carlos: "Ele que me botou aqui [no Palácio do Planalto]. Foi realmente a mídia dele que me botou aqui." Na mesma oportunidade, o presidente também disse que Carlos seguia o ajudando na "coordenação" de sua conta no Twitter.
Dois ex-integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro que sofreram críticas de Carlos Bolsonaro no Twitter perderam seus cargos: o general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, e o ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno. O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, também já foi alvo de ataques de Carlos Bolsonaro nas redes sociais.
Em 6 de setembro, Carlos Bolsonaro pediu licença não remunerada de seu cargo de vereador para "tratar de assuntos particulares". O pedido foi publicado nesta terça-feira no diário oficial da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ele não deu detalhes do motivo do afastamento, que pode durar até 120 dias.
BL/ots
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