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Obama na África: aliados econômicos e contra o terrorismo

Gero Schliess, de Washington (ca)23 de julho de 2015

Continente africano não é estrategicamente tão importante como outras regiões, mas ainda assim um aliado na luta dos EUA contra o terrorismo. Interesses econômicos também falam alto, mas aqui há concorrência: da China.

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Bem-vindo a Nairóbi, afirma o cartaz em frente ao aeroporto da capital do QuêniaFoto: picture-alliance/Photoshot

Seriam estes os prenúncios de uma "virada para a África"? Primeiro, o presidente Barack Obama recebe o novo chefe de Estado nigeriano, Muhammadu Buhari, na Casa Branca. Poucos dias depois, inicia uma viagem para a África, que o levará para o Quênia e – na condição de primeiro presidente dos EUA a visitar o país – também para a Etiópia.

O especialista em África Richard Downie, do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), diz não ver na viagem do presidente americano uma atenção para a África análoga à iniciativa do Pacífico empreendida pelos EUA. "Mesmo que, estrategicamente, a África tenha se tornado mais importante para os Estados Unidos, essa tendência ainda está em nível inferior a outras regiões do mundo."

Para Washington, no entanto, o valor estratégico de parcerias com potências regionais africanas, como a Nigéria e o Quênia, é óbvio: além dos interesses econômicos num continente que prospera visivelmente, os EUA estão de olho em aliados na luta contra o terrorismo. Diante da ameaça de terrorismo que emana do Oriente Médio, os americanos temem que haja uma expansão para solo africano.

Mas isso já é realidade há muito tempo. O grupo terrorista Boko Haram, por exemplo, aliou-se ao chamado "Estado Islâmico" e representa um grande perigo para a Nigéria e seu novo presidente, Buhari. Também o Quênia tem graves problemas de segurança, como lembra Downie, apontando para a milícia terrorista Al Shabaab, que desestabiliza a vizinha Somália.

Downie critica que as forças de segurança quenianas enfrentam esse perigo por meio de duras violações dos direitos humanos: por ordem do presidente Uhuru Kenyatta, as forças quenianas teriam perseguido os quenianos de origem somali, acirrando ainda mais o problema.

Kenia Nairobi Bus vor Obama Besuch
O dono deste ônibus em Nairóbi pintou o seu veículo com as cores dos Estados Unidos e com uma imagem de ObamaFoto: Getty Images/AFP/S. Maina

Princípios e interesses

No contexto da viagem à África de Obama, a revista online americana Foreign Policy Journal lembrou que os EUA têam uma longa tradição de apoiar regimes opressores. Mas, já como senador, Obama não deixou nenhuma dúvida de que queria se afastar dessa política.

"Obama e os Estados Unidos estão comprometidos com a democracia e a boa governança", assinala Downie. De acordo com o especialista, em sua primeira viagem oficial à África, Obama teria cunhado a frase "eu não quero homens fortes, eu quero uma boa governança".

Mas é difícil se ater a princípios quando eles colidem com os interesses. "Vemos isso no caso da Etiópia: os etíopes são úteis em seu apoio aos americanos na luta contra o terrorismo", argumenta Downie. Só que a Etiópia, ao contrário do Quênia, não é uma democracia.

Assim como Downie, grupos de direitos humanos também criticam o momento da visita de Obama à Etiópia, depois que o partido no poder garantiu para si uma ampla maioria na Assembleia Nacional por meio de fraudes nas eleições de maio. O especialista em África Peter Pham, do think tank Atlantic Council, acusa os críticos de tratar a situação com dois pesos e duas medidas: "As mesmas pessoas não reprovariam o presidente se ele estivesse de visita à China."

Downie considera limitadas as possibilidades de ação de Obama na Etiópia. Segundo ele, os esforços do presidente em se reunir com representantes da sociedade civil estão sendo em vão, já que precisamente esses estão sendo afastados pelos etíopes. "Não restaram muitas pessoas para um encontro com o presidente", lamenta Downie. Pham, no entanto, defende a realpolitik: "O principal objetivo da visita é fomentar os interesses americanos. E os Estados Unidos têm interesses consideráveis na Etiópia."

Em artigo recente, Michael E. O'Hanlon, do Instituto Brookings, compartilha a posição de Pham e sugere a Obama uma ampla iniciativa de segurança para a África: em zonas de conflitos, como Nigéria, Líbia ou Congo, os EUA deveria estacionar unidades que apoiariam os africanos em suas missões de paz com treinamento e assistência. Obama deverá, possivelmente, apropriar-se dessa proposta.

Kenia Besuch Obama Nairobi wird herausgeputzt
Nairóbi se prepara para visita do presidente americanoFoto: picture-alliance/dpa/D. Irungu

China chegou primeiro

Além dos problemas com a segurança e o terrorismo, a visita de Obama deverá estar focada em temas econômicos: "A imagem da África está mudando rapidamente. É lá que encontramos as economias de mais rápido crescimento. Uma classe média crescente cria novas oportunidades para empresas africanas e americanas", afirma Pham.

Mas onde quer que os americanos queiram marcar presença na África, os chineses chegaram primeiro. Com um volume de negócios superior a 200 bilhões de dólares anuais, o comércio da China com a África supera em mais de duas vezes o dos Estados Unidos.

Até agora, os EUA não encontraram nenhuma estratégia contra a concorrência da China, lamenta a especialista Yun Sun, do Instituto Brookings. Segundo ela, apostar somente em valores comuns e na demanda por democracia não é suficiente.

"É bem possível que políticos de orientação democrática venham a mostrar uma maior ligação com os países ocidentais ao assumir a liderança em seus países", concorda Yun Sun. Mas ela lembra que os governantes africanos também são muito pragmáticos. "Quando eles notam que os chineses têm dinheiro para promover a infraestrutura, eles não rejeitam isso, simplesmente."

A especialista em assuntos asiáticos e africanos defende uma abordagem não convencional. Ela sugere a Obama um trabalho de cooperação com os chineses, como, por exemplo, no fomento à infraestrutura. "Os chineses têm o dinheiro e a expertise, os EUA, uma melhor tecnologia", afirma Yun Sun. Mas ela também sabe que essa ideia "não é muito popular nos EUA."