Observações à margem do frenesi grego
10 de julho de 2015Este domingo (12/07) verá a última cúpula para decidir o futuro da Grécia. Pelo menos foi isso que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, assegurou.
Mas eu é que não coloco a mão no fogo por ele. Simplesmente porque já ouvimos isso demais – e nós, jornalistas, já escrevemos demais sobre isso.
"O tempo está se esgotando", "é hora de a Grécia colocar reformas credíveis na mesa" para que esse país, já dado por muitos como falido, consiga uma nova ajuda financeira – tudo isso foi repetido à exaustão.
A única lição que realmente aprendemos com essa história foi dita por um parlamentar europeu durante o debate da última quarta-feira com o primeiro-ministro Alexis Tsipras: "'última vez' não significa necessariamente 'última vez'" no caso da Grécia.
Outra expressão que já estamos cansados de ouvir é a tal da "bola que está no campo de alguém" – ou no dos gregos ou no dos 18 demais países do euro, dependendo de quem fala. Neste tuíte, foi o ministro das Finanças finlandês, Alexander Stubb, quem viu onde estava a bola:
Posso imaginar que o colega correspondente do Financial Times, Peter Spiegel, e o colega Pedro Rodriguez, do jornal espanhol El Mundo, estão fazendo aqueles risquinhos para contar o número de vezes que já ouviram isso. Pedro parece estar de saco cheio – pelo menos é o que dá para entender deste tuíte dele:
Mas vai também ser uma pena se todo esse circo de cúpulas extraordinárias chegar mesmo ao fim: pelo menos elas têm um alto valor de entretenimento para nós, jornalistas em Bruxelas. Sejamos francos, os briefings de meio-dia da Comissão Europeia sabem ser chatos, e são poucos os correspondentes que têm vontade de se arrastar até o prédio da Comissão por causa deles (até porque passa na televisão e é bem mais fácil de aturar com um sanduíche e um refresco na mão).
Graças ao pânico da crise grega, nós tivemos a chance de ver um briefing de meio-dia do vice-presidente da Comissão Valdis Dombrovskis terminar num megacaos, com um bando de jornalistas se jogando em cima de uma coitada de uma assessora de imprensa. Tudo porque Dombrovskis jogou no ar – e saiu de fininho – que Jeroen Dijsselbloem, o atual chefe dos ministros das Finanças da zona do euro, iria falar em breve.
Como? Foi isso mesmo que eu ouvi? Dijsselbloem vai explicar como pode ser alcançado um acordo com os gregos depois do sonoro "não" do referendo de domingo? Aqui? Agora? Alguém sabe?
Ah, tá! Ele vai falar em Haia, na Holanda. Então não era bem assim. Deixa pra lá...
Mas eu tenho mais alguns bons momentos para agradecer ao drama grego. Ele estimulou o coleguismo entre nós, jornalistas. Por exemplo quando eu e outros colegas vindos de todos os países do euro cercamos o repórter espanhol, único que entendeu o que o ministro das Finanças da Espanha, Luis de Guindos, dissera quando deixou a reunião do Eurogrupo nesta quarta-feira. Ele foi o primeiro a sair da reunião.
Todos nós, eu inclusive, gritamos juntos "comé que é?" quando ouvimos o colegas explicar que Guindos acabara de dizer que no hay propuestas por parte dos gregos.
Aí você me explica: como é que o Alexis Tsipras vai explicar para a Angela Merkel e os seus demais colegas, com quem ele estava se reunindo pela 520ª vez, que o seu ministro das Finanças novinho em folha, o todo laureado Euclides Tsakalotos, veio para Bruxelas sem NENHUMA proposta para tirar a Grécia do buraco?!
Ah, deve ter sido assim: "Draghi, um grande guaxinim invadiu o quarto do Euclides e roubou as propostas..." Bom saber que os gregos ainda mantêm o humor, apesar dos bancos fechados e do controle de capitais...
Aliás, se não fossem os tuítes como esse aí de cima e os comentários de alguns amigos jornalistas, seria difícil manter o humor nesses dias em que a maior parte do trabalho acontece nas horas mais ingratas – tipo no meio da madrugada.
Ah, esta aqui eu também achei genial: um zoom na caderneta de notas do ministro das Finanças grego, virada para fora! Um erro de principiante do ministro!
Bom, se o Donald Tusk estiver certo, o encontro deste domingo vai mesmo ser o último sobre a Grécia – mas isso não impede alguns colegas de já estarem com as cartelas do bingo na mão, para ver quem ouve primeiro as frases que nós sempre ouvimos.
Então o que nos resta é respirar fundo, aguardar e seguir o que parece ser o verdadeiro lema da União Europeia (lembrando que esse tuíte é de 2012):