Observadores da OSCE enfrentam missão perigosa na Ucrânia
1 de junho de 2014Será uma semana de negociações. Nesta segunda-feira (02/06) deve ser concluída a última rodada das conversas sobre a disputa pelo gás com a Rússia, que ameaça suspender o abastecimento por causa da enorme dívida ucraniana. Já na quarta-feira, o recém-eleito presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, vai conversar pela primeira vez com o presidente americano, Barack Obama.
Também estão sendo intensificadas as negociações para libertação dos oito observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mais um tradutor, que continuam nas mãos de separatistas no leste da Ucrânia. Com a missão de avaliar a situação e fornecer um quadro neutro dos conflitos, muitas vezes – como neste caso – observadores acabam envolvidos diretamente nos confrontos.
Na quinta-feira passada, a OSCE perdeu o contato com um grupo de cinco funcionários quando estes estavam na região de Lugansk, no leste da Ucrânia. Por volta das 19h, eles foram rendidos por "homens armados". Além dos quatro membros da Missão Especial de Monitoramento (SMM, na sigla em inglês), um tradutor ucraniano também fazia parte da equipe.
Dias antes, ainda na segunda-feira, quatro observadores da OSCE haviam desaparecido durante patrulha de rotina no leste de Donetsk, região também controlada pelos insurgentes. Até agora, não há contato com eles, afirmou uma porta-voz da organização à Deutsche Welle. Os observadores provêm da Estônia, Dinamarca, Turquia e Suíça.
Informações discordantes, porém, vieram do líder separatista Alexey Chimilenko, que, segundo a agência de notícias Interfax, teria anunciado a libertação dos quatro funcionários da OSCE. Eles teriam sido advertidos e instados a não permanecer mais na região sem aviso prévio, afirmou o líder rebelde. A informação não foi confirmada.
A influência do Kremlin
A missão especial de observadores da OSCE foi enviada à Ucrânia a pedido do governo em Kiev para aliviar as tensões entre as partes conflitantes e para promover a segurança. Os funcionários não atuam somente no leste ucraniano: estão distribuídos por várias regiões do país.
Eles publicam, regularmente, relatórios sobre a segurança local; não andam armados e não têm nenhum mandato militar. A missão dos observadores na Ucrânia é apoiada por todos os 57 Estados-membros da OSCE – entre eles, também a Rússia.
Apesar da participação russa, observadores da organização são frequentemente impedidos de trabalhar por separatistas nas regiões de Donetsk e Lugansk. Wolfgang Richter, especialista em OSCE no Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão) e ex-representante da Alemanha na OSCE em Viena, disse ver aí um sinal de que Moscou "não pode mais liderar e conduzir cada movimento dos separatistas."
Mesmo assim, o especialista afirma que a influência do Kremlin – ao menos aparentemente – continua sendo muito grande. "O que a Rússia diz tem peso."
Segundo informações do Kremlin, a Rússia está mantendo conversas com separatistas do leste da Ucrânia a fim de interceder pelos funcionários da OSCE. "A libertação se arrasta", afirmou o embaixador russo na organização, Andrey Kelin, à agência de notícias Itar-Tass. Kelin confirmou ainda que a duração e os resultados das negociações ainda estão absolutamente em aberto.
No início de maio, separatistas libertaram sob a mediação da Rússia um grupo de sete observadores, após eles terem passado vários dias presos em Slaviansk. A equipe não pertencia à SMM. Na ocasião, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, agradeceu explicitamente o negociador russo Vladimir Lukin por sua atuação.
"Segurança em primeiro lugar"
Apesar da tensa situação de segurança, o especialista Wolfgang Richter defende a continuidade da missão dos observadores. "Desde o início, a organização estava ciente de que essa não é uma missão sem perigo", afirmou Richter. "Mas, enquanto for possível ter uma visão geral da situação de segurança, e o contato com os separatistas for mantido, haverá sentido na missão da OSCE."
No entanto, caso se chegue a uma situação em que os funcionários passem a ser diretamente afetados pelos embates, é preciso pensar numa retirada temporária da zona de perigo. "A segurança dos funcionários da OSCE vem em primeiro lugar na lista de prioridades."