Tropas no Afeganistão
27 de novembro de 2006Na reunião de cúpula dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), realizado de 28 a 29 de novembro em Riga, capital da Letônia, a chanceler federal alemã Angela Merkel deverá pedir compreensão para a reserva alemã quanto ao envio de tropas ao sul do Afeganistão.
"Eu irei deixar bem claro, no encontro da Otan, que assumimos um alto grau de responsabilidade no Afeganistão, e esta responsabilidade não deixa de ser perigosa", declarou Merkel à edição desta segunda-feira (27/11) do jornal Sächsische Zeitung.
Merkel salientou que o mandato alemão na Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (Isaf) não permitiria um deslocamento de contingentes para o sul do país. "Não estaríamos fazendo favor a ninguém, se deixássemos o norte abandonado", declarou Merkel.
Cinco anos após a Conferência de Paz para o Afeganistão, no palácio de Petersberg, em Bonn, a Alemanha se apresenta moderada quanto à intervenção militar no Afeganistão.
Discussão sobre divisão dos contingentes
Em Riga, os chefes de governo e de Estado dos 26 países que compõem a Otan querem fazer um balanço da missão da Isaf, dirigida pela Otan. No contexto da conferência, continuam as discussões quanto ao posicionamento dos contingentes no país.
O ministro dinamarquês da Defesa, Sore Gade, criticou como "não solidário" o fato de as tropas alemãs estarem presentes somente no norte do Afeganistão, uma região relativamente calma. Além disso, o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, exortou os países que participam da Isaf a um maior empenho no sul do país.
Não é a primeira vez que a exigência de mais tropas para o Afeganistão é tema do encontro de cúpula da Otan. No último, realizado em Berlim em setembro de 2005, eram os britânicos que pediam aos demais membros da Otan para aumentar a cooperação com as tropas norte-americanas que combatiam células terroristas em ação no país.
"Alemanha não deve ceder à pressão da Otan"
Da mesma forma que o fez um ano atrás, o então ministro alemão da Defesa e atual líder da bancada do Partido Social Democrata (SPD), Peter Struck, afirmou, no último domingo, à rede de TV pública ZDF que "a Alemanha não deve ceder à pressão de envio de tropas da Otan". Segundo Struck, a atuação alemã estaria no caminho certo e não haveria motivos para mudá-la.
Em declaração ao jornal dominical Bild am Sonntag, Klaus Reinhardt, antigo general da Otan no Kosovo, advertiu para um fracasso da intervenção militar no Afeganistão e exigiu maior ação civil para a reconstrução do tumultuado sul do país.
"Não se escapa de uma 'iraquianização' do conflito através do envio de mais tropas", declarou Reinhardt.
De qualquer forma, cinco anos após a Conferência de Paz para o Afeganistão, realizada em 27 de novembro de 2001 no palácio de Petersberg, em Bonn, os países-membros da Otan reavaliam sua intervenção militar no país.
Acordo em Bonn
Convidados pelas Nações Unidas, representantes dos quatro grupos políticos afegãos participaram da conferência em Bonn, para elaboração de um acordo final para definir o destino do país. Com sucesso: depois de oito dias de reuniões, foi assinado o Acordo de Bonn, em 5 de dezembro de 2001.
Foi um grande alívio, na ocasião, que os representantes da Aliança do Norte tenham aceitado dividir o poder com outros grupos políticos e iniciar um processo de paz na região do Hindukush. O acordo também previa a composição de uma tropa militar internacional para assegurar a paz no país.
Em janeiro de 2004, o Afeganistão ganhou nova Constituição e Hamid Karzai, chefe do governo interino, foi eleito presidente em outubro de 2004. O caminho mostrado pelo encontro em Petersberg mostrava-se viável. Os acontecimentos dos últimos anos indicam, entretanto, que não é sem atrito que o processo democrático de paz pode ser completado.
Interesses políticos contrários e escassez de recursos
Contrários aos interesses afegãos, estão as ambições estratégicas dos países vizinhos, a intenção norte-americana de se estabelecer definitivamente no país e a problemática da escassez de recursos, comenta o ministro afegão do Comércio, Amin Farhang, em entrevista à DW-WORLD.
"Os prejuízos no Afeganistão são estimados em 200 bilhões de dólares. O Afeganistão só recebeu 12 bilhões até agora. Isto é só uma gota no oceano", afirmou Farhang.
Faltaria, no Afeganistão, uma estratégia de reconstrução que fosse além do alívio imediato da dor da população. O projeto de apaziguamento do Hindukush se encontra numa crise profunda. O aumento da violência, sobretudo no sul, a crescente miséria, a corrupção disseminada e o tráfico de drogas estão entre as causas do descontentamento da população sob o governo de Karzai.