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8º dia de guerra: mais ataques e acordo para saída de civis

4 de março de 2022

Em meio a contínuos bombardeios, tropas russas avançam no sul da Ucrânia. Zelenski pede encontro com Putin, e representantes dos dois países concordam em criar corredores humanitários. Macron e Scholz reforçam pressão.

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Imagem aérea mostra edifícios destruídos em Borodyanka, a 60 km da capital ucraniana, Kiev
Imagem aérea mostra edifícios destruídos em Borodyanka, a 60 km de KievFoto: Maksim Levin/REUTERS

A guerra na Ucrânia entrou em seu oitavo dia nesta quinta-feira (03/03), marcado por contínuos ataques russos, apesar da condenação internacional e de sanções econômicas massivas do Ocidente.

O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, afirmou que a "operação" de seu país na nação vizinha continuará, acrescentando que qualquer acordo de paz deverá incluir a "desmilitarização" da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua vez, saudou o "heroísmo" dos soldados russos que lutam na Ucrânia e disse que a guerra corre conforme o planejado. Ele ainda acusou forças ucranianas de usar escudos humanos, embora não tenha apresentado evidências.

Do outro lado, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou estar disposto a se encontrar pessoalmente com Putin. "Sente-se comigo para negociar, mas não a 30 metros", ironizou, aparentemente se referindo a fotos recentes de Putin sentado na ponta de uma mesa extremamente grande quando se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron.

"Eu não mordo. Do que você tem medo?", questionou Zelenski em uma coletiva de imprensa. "Qualquer palavra é mais importante que tiros."

Também nesta quinta-feira, representantes da Rússia e da Ucrânia reuniram-se em Belarus, na segunda rodada de conversas entre os dois países desde que Moscou invadiu o território ucraniano.

Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial da Ucrânia, disse que ambas as partes concordaram em criar corredores humanitários para permitir a entrada de mantimentos e insumos e a retirada de civis. Apesar do compromisso, ele considerou o resultado da reunião frustrante. "Para nosso grande pesar, não conseguimos os resultados que gostaríamos", disse.

Podolyak também afirmou que os dois países concordaram em se reunir novamente, sem especificar uma data. O chefe da delegação russa, Vladimir Medinski, confirmou o acordo sobre os corredores e avaliou que houve "progresso substancial" nas negociações. Segundo ele, houve acordo sobre cessar-fogos provisórios na região dos corredores.

A luta pelo sul da Ucrânia

O Exército russo afirmou que tomou a cidade de Kherson, de mais de 250 mil habitantes, na principal vitória da Rússia desde a invasão. Autoridades ucranianas confirmaram que as forças russas assumiram o controle da sede do governo local.

Tropas russas também teriam entrado na cidade sulista de Enerhodar, onde está localizada a maior usina nuclear da Europa, Zaporizhia, atingida por bombardeios russos nesta quinta-feira.

Fortes combates continuaram ainda na cidade portuária de Mariupol, onde os ataques cortaram o abastecimento de água, energia e alimentos. O prefeito Pavlo Kyrylenko descreveu o cerco russo como uma "punição" à cidade.

Combates em outros locais

Mais bombardeios foram relatados na cidade de Chernihiv, no norte do país, onde as autoridades disseram que pelo menos 33 civis foram mortos e 18 ficaram feridos após um ataque russo em uma área residencial. Equipes de socorro foram forçadas a suspender suas buscas nos destroços devido a novos bombardeios.

Explosões ouvidas por jornalistas ao longo da noite na capital, Kiev, eram mísseis sendo abatidos pelos sistemas de defesa aérea da Ucrânia, segundo o prefeito da cidade. Um comboio de veículos russos de mais de 60 quilômetros de extensão continua estacionado fora de Kiev. Forças russas também bombardearam a segunda maior cidade do país, Kharkiv.

Pressão internacional

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, pressionou por um cessar-fogo na Ucrânia e descreveu a invasão russa como "guerra contra o povo ucraniano". Ao mesmo tempo, ele disse que buscar uma "mudança de regime", referindo-se à possibilidade de derrubar o presidente russo, não é uma opção viável.

Fontes do Ministério da Economia alemão disseram que Berlim deve enviar mísseis antiaéreos para a Ucrânia.

Enquanto isso, o presidente da França falou por telefone com Putin e alertou o líder russo de que ele está cometendo um "grande erro" na Ucrânia. Macron disse que, após conversar por 90 minutos com Putin, teria concluído que "o pior ainda está por vir" na guerra na Ucrânia.

Os Estados Unidos anunciaram novas sanções voltadas principalmente a oligarcas russos e também a membros do governo ligados diretamente a Putin. O Departamento de Estado dos EUA ainda anunciou que vai impor proibições de vistos a 19 oligarcas russos e a dezenas de seus familiares e pessoas próximas.

Washington ainda divulgou que essas pessoas ficarão isoladas do sistema financeiro dos EUA, e que seus bens em solo americano serão bloqueados.

Um número crescente de grandes empresas – da Apple à Mercedes-Benz – deve deixar a Rússia. O grupo alemão Volkswagen decidiu interromper suas atividades comerciais no país.

Da mesma forma, a varejista sueca de móveis Ikea afirmou que está fechando suas operações na Rússia, interrompendo todas as exportações e importações da Rússia e de Belarus, uma decisão que terá "um impacto direto em 15.000 colaboradores da Ikea".

A guerra causa impactos também no mundo do esporte. O Comitê Paralímpico Internacional (CPI) voltou atrás e anunciou que os atletas russos e belarussos estão excluídos dos Jogos Paralímpicos de Inverno, em Pequim.

A decisão ocorre um dia depois que o CPI permitiu a presença dos atletas dos dois países no evento, mas com bandeira neutra e sem aparecer no quadro de medalhas. O argumento usado foi que "os atletas não eram os agressores".

Mas a presença de russos e belarussos no evento levou a protestos e ameaças dos comitês paralímpicos nacionais de boicotar os Jogos, afirmou o presidente do CPI, Andrew Parsons.

Refugiados

A União Europeia (UE) aprovou a chamada proteção temporária para refugiados ucranianos. Ao mesmo tempo, o bloco também está montando um centro humanitário na Romênia, que faz fronteira com a Ucrânia.

Washington anunciou medida semelhante. Os EUA vão conceder status de proteção temporária a ucranianos que já estão no país, o que significa que eles podem permanecer em solo americano sem risco de deportação.

O Brasil também publicou uma portaria nesta quinta-feira oficializando a concessão de visto humanitário aos que fogem da guerra na Ucrânia. Os vistos terão duração de seis meses.

Até o momento, a ONU estima que em torno de 1 milhão de pessoas já deixaram o território ucraniano desde que a Rússia começou a invasão, há uma semana.

Vítimas da guerra

Moscou informou que cerca de 500 soldados russos morreram até agora e aproximadamente 1.600 foram feridos. A Ucrânia não divulgou cifras sobre vítimas entre suas forças armadas.

As Nações Unidas afirmam que pelo menos 227 civis morreram e 525 ficaram feridos na Ucrânia desde o início das hostilidades, em 24 de fevereiro. O Serviço de Emergência Estatal da Ucrânia fala em mais de 2.000 vítimas civis, embora não seja possível verificar esse dado.

ek (ots, DW, Reuters, AP)