Artes
5 de maio de 2010A arte de Olafur Eliasson está há semanas espalhada pela cidade – na maioria dos lugares, incógnita. Linhas de giz estendiam-se pelos estacionamentos e desapareciam no meio do mato. E em algumas árvores e postes, estão estacionadas bicicletas, cujos raios desapareceram por detrás de películas espelhadas.
Grossos troncos de árvores originários da Islândia parecem casualmente jogados na paisagem urbana. E uma van que espelha o ambiente confronta transeuntes, carros, trens suspensos, casas e placas consigo mesmos. Tudo isso foi filmado e pode ser apreciado, num vídeo compacto, no museu Martin Gropius Bau, em Berlim. Trata-se de uma entre as várias obras de Eliasson nesta exposição, a qual, como é peculiar ao dano-islandês, não tematiza nada exceto a nossa percepção.
Percepção enganosa
"Acho que consideramos o ato de olhar ou de perceber como um fato dado. Acreditamos que o olhar seja objetivo ou fisiologicamente determinado pela natureza ou até mesmo dado por Deus, como se poderia crer em casos extremos", diz o artista.
No entanto, Eliasson está convencido de que nossa percepção e a forma como vemos as coisas e as abordamos seja determinada pela cultura. E que, de fato, uma mesma coisa pode ser vista de forma completamente diferente. Ou que determinada visão possa ser enganosa.
E aqui é que entra sua arte. Mas não de maneira cerebral, e sim ultra divertida e acessível. Pois Eliasson coloca o mundo, com mão supostamente leve, de cabeça para baixo, provocando assim uma reflexão sobre imagem e reprodução, sobre verdade e ilusão.
Da natureza da realidade
Toda obra de arte precisa de um observador. Isso é válido tanto para um desenho quanto para uma pintura, diz Daniel Birnbaum, curador da mostra individual de Eliasson em Berlim. Na obra deste artista, reflete Birnbaum, tem-se a sensação "de que há objetos, que podem ser expostos numa galeria e que talvez possam ser até colecionados, mas, na verdade, o que importa é o encontro em si".
E naturalmente é também importante o que se passa por trás dos olhos do espectador. Por exemplo, quando olha confuso em torno de si, ao olhar pela janela do Martin Gropius Bau e se deparar com a própria imagem – olhando pela janela de um prédio absolutamente idêntico ao seu. Um enorme espelho, montado num andaime na frente do museu, percebe-se então, é o responsável por essa ilusão de ótica.
Atores e descobridores
Quem visita a exposição é corresponsável por ela, diz Eliasson. "Confiamos aos visitantes do museu a responsabilidade de poder ver por si mesmos a mostra. Não a interpretamos para eles, não escrevemos bem grande na parede como a devem ver. Não tentamos, de jeito nenhum paternalizar as pessoas", define o artista. Na realidade, os visitantes são, para Eliasson, protagonistas e descobridores ao mesmo tempo, tão logo penetram no espaço da exposição e decidem-se por uma das duas entradas.
Pela direita, chegam primeiro a uma típica calçada berlinense de placas de granito, montada dentro do prédio: ou seja, a um solo urbano dentro do museu. O percurso a partir da entrada à esquerda leva, por outro lado, a uma névoa densa, que muda de cor (vermelho, lilás, azul, verde, amarelo) a cada passo do visitante. Assim, o artista devolve o visitante a si mesmo, sem compaixão, ali no meio da cidade, no meio da exposição.
Segundo Birnbaum, Olafur Eliasson "trabalha, na verdade, de forma bastante discreta, pragmática, direta e honesta. Ele não produz ilusões. Sempre se pode ver como a coisa é construída. O que mais importa é, digamos, a construção do olhar. Mas os grandes temas – o sol, o olho, a alma como espelho da natureza – estão sempre presentes".
Dominações óticas
Essa exposição poética agradará tanto a cientistas quanto a crianças, historiadores da arte e amantes das formas simples. Pois Eliasson não joga apenas com refrações, espelhos e sombras, mas também com formas geométricas como triângulo, círculo, quadrado e esfera.
Ele faz uma mangueira transparente dançar na luz estroboscópica, faz brilhar esferas geodésicas e transforma o pátio interno do museu Martin Gropius Bau, com seu pé direito altíssimo, num palácio de cristal, em cujo funil tanto a claraboia quadriculada quanto o visitante são infinitamente refletidos. As fronteiras entre o interior e o exterior se diluem. E o ser humano lá fica, admirado e boquiaberto.
Autora: Silke Bartlick (SV)
Revisão: Augusto Valente