OMS constata aumento de risco de câncer na região de Fukushima
28 de fevereiro de 2013Os moradores das áreas mais afetadas pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, dois anos atrás, têm um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) em relatório divulgado nesta quinta-feira (28/02).
O terremoto seguido de tsunami, que devastou a instalação nuclear de Fukushima em 11 de março de 2011, provocou a morte de aproximadamente 19 mil pessoas e fez com que aproximadamente 160 mil deixassem as suas casas.
"A principal preocupação identificada neste relatório está relacionada aos riscos específicos de câncer, ligados a locações particulares e fatores demográficos", afirmou a diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente na OMS, Maria Neira. "Uma seleção de dados por idade, sexo e proximidade com as instalações mostra realmente um maior risco de câncer para aqueles que estavam localizados nas partes mais contaminadas."
Perigo para crianças
A OMS disse ainda que o risco futuro de desenvolver câncer de mama entre as crianças do sexo feminino expostas, bem como o risco de desenvolver leucemia entre as crianças do sexo masculino, também parece ter aumentado, embora em menor escala. De forma geral, as pessoas vivendo na região mais afetada tiveram um risco adicional de 4% a 7% de desenvolver qualquer tipo de câncer.
No Japão, o risco de adquirir câncer para os homens é de cerca de 41%, enquanto esse risco para as mulheres é de 29%, no decorrer das vidas. Para aqueles mais afetados pela radiação após Fukushima, a possibilidade de contrair câncer aumentaria em um ponto percentual, informou a OMS.
"Trata-se de aumentos proporcionais bem pequenos", disse Richard Wakeford, da Universidade de Manchester, um dos autores do relatório. No entanto, os especialistas estão bastante preocupados com um aumento dos casos de câncer de tireoide, especialmente em crianças.
Câncer de tireoide
Após o desastre de Tchernobil, em 1986, por volta de 6 mil crianças expostas à radiação desenvolveram câncer de tireoide, porque muitas beberam leite contaminado. No Japão, no entanto, isso foi monitorado de perto e, de qualquer forma, leite não está entre as preferências alimentares das crianças japonesas.
De qualquer forma, nas áreas mais contaminadas, a OMS estimou que, entre crianças do sexo feminino, há um risco 70% maior de desenvolver câncer da tireoide ao longo da vida. A tireoide é o órgão mais exposto à concentração de iodo radioativo, e as crianças são consideradas especialmente vulneráveis.
Em seu relatório de 166 páginas, a OMS diz esperar que, num raio de 20 quilômetros das instalações nucleares, as taxas de câncer de tireoide entre as meninas expostas à radiação devam ser de até 1,25%. Segundo a OMS, o risco normal de câncer de tireoide no decorrer da vida de uma pessoa do sexo feminino que vive na região é de 0,75%.
Críticas de especialistas
Alguns especialistas afirmam, no entanto, que prever um aumento do risco de câncer na região de Fukushima é algo surpreendente e dizem acreditar que a baixa dose de radiação recebida pelos afetados não foi suficiente para comprovar um aumento dos riscos de contrair a doença.
"Com base na dose de radiação recebida pelas pessoas, não há razão para pensar que possa haver um aumento dos casos de câncer nos próximos 50 anos", disse Wade Allison, professor emérito de física da Universidade de Oxford, que não esteve ligado ao relatório da OMS.
Gerry Thomas, professora de patologia molecular no London Imperial College, uma das universidades de ciências mais renomadas do mundo, acusou a OMS de exaltar o risco de câncer.
"É compreensível que a OMS queira errar para o lado da cautela, mas relatar aos japoneses sobre um risco pessoal insignificante não é de grande ajuda", afirmou. A professora disse que o relatório usou estimativas de doses de radiação inflacionadas, já que não levou em conta a rápida evacuação das pessoas em Fukushima.
A OMS concluiu em seu estudo que, para a população japonesa em geral, os riscos de saúde previstos são muito baixos. Também fora do Japão, segundo o texto, não há previsão de aumento de risco de saúde devido à catástrofe.
CA/rtr/ap/afp
Revisão: Rafael Plaisant Roldão